Visão de um turista

Vila de São Jorge – 47 anos Da exploração à preservação

3 de março de 2004

São Jorge conta hoje com uma população voltada para o ecoturismo e representa o principal apoio para quem visita a Chapada dos Veadeiros


 






Lilia Ramos: esse é um local iluminado. A luz
 vem do céu, do sol e da própria terra …


Esse é um local iluminado. Talvez, um dos mais iluminados do planeta. A luz vem do céu, do sol e da própria terra, que tem uma formação rochosa, riquíssima em quartzo. Luz, muita luz. E vida, muita vida. Essa é a Chapada dos Veadeiros, no coração do Brasil, que hoje encanta o turista que lá chega à procura do verde, de água, de luz e de paz. As belas campinas, a fauna diversificada, a água cristalina brotando das pedras e da terra e a flora exuberante, toda essa beleza premia os olhos do turista. Com cores marcantes, de aspecto frágil, as flores do cerrado parecem ter sete vidas. 


Após as queimadas, elas ressurgem belas e fortes, no meio das cinzas, com um visual ainda mais colorido e perfumado. As inúmeras cachoeiras e canyons são atrações de tirar o fôlego dos visitantes. São tantas que para uma visita completa é necessário no mínimo uma semana. Um tempo ainda pequeno para se curtir tantos santuários ecológicos.


A Vila


A Vila de São Jorge está cravada na entrada do Parque Nacional dos Veadeiros. Tem menos de 400 habitantes, ruas sem asfalto e com pouquíssimos pontos de iluminação. À primeira vista, mais parece um local sem qualquer infra-estrutura e sem perspectivas. Mas não é bem assim. A grande mudança começou após a 2ª Grande Guerra Mundial, com a procura do quartzo, abundante na região. O quartzo, cobiçado no mundo inteiro, transformou a Vila num acampamento de garimpeiros. Havia muita exploração e depredação.


Em 1961, através de decreto, foi criado o Parque Nacional do Tocantins com uma área de 625.000 hectares. Hoje o Parque está reduzido a apenas 65 mil hectares e teve seu nome trocado para Parque Nacional do Veadeiros, pois seus limites geográficos já não mais atingiam o rio Tocantins.


Atraídos pela beleza da região, grupos de turistas tornaram-se muitas vezes mais um predador cruel e irresponsável. Ao abrir aleatoriamente trilhas na mata, ao fazer clareiras para montar suas barracas, ao usar a madeira local para alimentar fogueiras e ao deixar um rastro de lixo por onde passavam, os turistas depredavam, provocavam incêndios, sacrificavam animais. Acabado o fim de semana, os locais mais bonitos do Parque estavam imundos. As cristalinas nascentes de água ficavam rodeadas de lixo. As pegadas do homem-bicho estavam todas ali. Faltava educação, faltava civilidade e, sobretudo, faltava amor pela natureza. Esse caos durou 30 anos.


Finalmente, em 1991 o Parque implantou novas diretrizes, proibindo em definitivo as atividades de mineração e caça dentro da sua área. Veio então a grande virada. Encontrou-se uma nova opção econômica para os garimpeiros. Todos eles foram convidados a participar de um curso ministrado pelo IBAMA e pela Funatura para tornarem-se guias turísticos. Veio então a conscientização dos turistas, feita pelos próprios habitantes do lugar. A partir daquele momento não mais era permitido acampar dentro do Parque e tornou-se obrigatório a visita através destes condutores credenciados. Questão de disciplina, de melhor conhecimento da região e até de segurança. Com a nova vida para aqueles que antes depredavam, nascia também um novo Parque. O lema agora era conhecer, curtir, preservar e amar a natureza. Aliás, um fato semelhante aconteceu também no Pantanal.


Os coureiros, os antigos caçadores de jacaré, trocaram de profissão. Quando o desequilíbrio do meio ambiente já estava próximo, devido à grande matança do réptil, veio a mudança: os coureiros, os melhores conhecedores da região, depois de treinados, viraram guias turísticos e piloteiros dos barcos de turismo. Tal qual o garimpeiros da Chapada, os coureiros arrumaram uma outra profissão e faziam de seu trabalho uma forma de educação e preservação. O ecoturismo foi a alavanca que começou a mudar tudo.


Mais empregos


Aquele que antes explorava dá uma lição ao homem moderno de como se pode viver em parceria com a natureza. A preservação do meio ambiente tornou-se fator gerador de emprego e imprescindível no desenvolvimento sustentável. Restaurantes, pousadas, passeios organizados, tudo começou a dar dinheiro para a população local e oferecer melhores condições aos visitantes. O extrativismo melhor organizado trouxe mais rendas para os artistas que preparam os lindos arranjos florais, as compotas de doces de diversos frutos da região. As famílias dos antigos garimpeiros encontravam uma outra alternativa para sobreviver.


Elmo, um dos guias locais de maior carisma, conta a história e as estórias da Chapada dos Veadeiros com muito amor e durante a visita ao parque faz questão de divulgar aos turistas onde encontrar os produtos locais. Valoriza seus produtos, garante a qualidade e agrada os turistas.


A Vila hoje oferece boas condições aos visitantes da Chapada. Conta com várias pousadas e áreas de camping, além de opções de alimentação. Tem restaurantes de todos os tipos. Vão desde o simples até os mais refinados pratos. Os nativos, como são chamados os primeiros moradores do local, convivem muito bem com os migrantes, os novos moradores que são atraídos pela vida tranqüila e mística da região. Interessante é que esses moradores são na sua maioria pessoas de formação universitária e que vão buscar novas alternativas de um bem-viver.


O novo e o antigo, o moderno e o provinciano convivem neste local abençoado. A coleta seletiva de lixo está em início de implantação. A energia elétrica chegou, mas através de plebiscito popular foi rejeitada a iluminação das ruas. Motivo? As luzes atrapalham a contemplação do céu! A região já é tão iluminada que nem faz falta a luz artificial dos homens.


Onde ficar: Pousadas
Águas de Março – Tel: (61) 347-2082
Casa das Flores – Tel: (61) 234- 7493
Ponto Verde – Tel: (61) 646-1109
Trilha Violeta – Tel: (61) 9985-6544


Mais informações:
www.chapadadosveadeiros.com.br


www.geocities.com/RainForest/Andes/1617/


www.geocities.com/RainForest/9507/
Central Telefônica: (61) 646-1109


?Chapada dos Veadeiros? 
Guia do Paraíso (Anjee Gristina) 






O quartzo foi avidamente explorado na época por se tratar de um mineral bastante eclético que impulsionou a revolução tecnológica. Seu uso é diverso, desde relógios, ultra-som, lentes ópticas aos chips de computadores que são elaborados da sílica, seu principal componente.


Hoje em dia os chips são elaborados a partir da areia ou granito que são abundantes em quartzo e também é obtido de forma sintética com uma pureza muito superior àquela encontrada na natureza.