Educação e Cultura

Artesanato leva nova consciência ao campo

4 de março de 2004

Resgate do artesanato rural foi tema de encontro em Goiás para discutir qualidade de vida com preservação do meio ambiente

Dando continuidade a um trabalho ambiental voluntário iniciado há 10 anos, junto a comunidades rurais próximas a Alexânia (Goiás) o professor Jacy Guimarães agregou mais uma vez moradores do campo e da cidade, para redescobrir o artesanato rural. O encontro aconteceu no final do ano, no povoado de Santo André. Pessoas da própria comunidade, de Brasília e até de Minas Gerais ministraram 6 oficinas, ensinando técnicas artesanais praticamente esquecidas, elaboradas através da reutilização de materiais e de matérias-primas naturais abundantes em várias regiões do Brasil. Durante as oficinas também foi discutida a importância de se preservar estas matérias-primas e o meio que as produz.


De pai para filho, para neto e bisneto


Especializado em Educação Ambiental pela UNB, em Ecologia Profunda pelo Holy Cross Centre for Ecology and Spirituality, Canadá, e com vários trabalhos desenvolvidos e qualificações em assuntos de meio ambiente obtidas no Brasil e no exterior, o Prof. Jacy Pereira Guimarães tem também uma formação prática herdada da família. Foi com seu pai que aprendeu, por exemplo, a transformar as folhas do buriti em cordas altamente resistentes. “Separa-se apenas a parte de fora das folhas, que é onde encontramos a celulose para a fabricação de cordas, redes, chaveiros, vassouras e até casas, dada a resistência desta fibra,” ensina. Na oficina que ministrou sobre a utilização do buriti, falou ainda do alto teor nutritivo da planta. “O Brasil produz o buriti em abundância e dele nada se perde, é um grande recurso que deveria ser melhor aproveitado. É o fruto mais rico em vitamina A, contém ferro e outros nutrientes importantes, podendo ser consumido como geléia, farinha, rapadura e muitas outras receitas. Com o seu talo se faz armação de pipa, palito de pirulito, molduras. Com o pedúnculo se produz rolha, mobílias e vários artesanatos.” 


À frente da oficina de corda de couro esteve o Hélio Pereira Guimarães, produtor rural em Vazante (MG) irmão de Jacy. Ele contou com a ajuda do filho Flávio, 18 anos, estudante de direito, monitor da oficina. “Aprendi com o meu pai, que aprendeu com o meu avô, que aprendeu com o meu bisavô. Agora ensino aos meus filhos, que espero que ensinem aos meus netos e que estes conhecimentos sejam transmitidos por muitas gerações,” relata o Sr. Hélio. Na opinião de Flávio, é muito importante aprender com os mais velhos, pois “é uma forma de perpetuar conhecimentos, preservar as raízes.” 


Brinquedo útil


Quem participou do encontro teve oportunidade de aprender um pouco de tudo. A professora Maria Reis Canedo, pedagoga, especializada em educação nutricional e fitoterapia, ensinou a confeccionar petecas, que aprendeu a fazer ainda criança em Morrinhos (GO), onde nasceu. “Pais e tios nos ensinavam a fazer brinquedos, carrinhos, bonecas de pano, de sabugo de milho. É uma pena que isto esteja se perdendo,” opina. Enquanto orientava a execução das petecas, passava conhecimentos sobre alimentação alternativa, hábitos de saúde, utilização de ervas medicinais. Tudo com muita simpatia e bom humor. “A comunidade rural está se alienando cada vez mais da sua origem, da sua identidade. Pelejo para resgatar a sabedoria antiga, a cultura brasileira, seja alimentar, terapêutica, artesanal,” finaliza.


Izabel Queiróz tem formação em ecologia e meio ambiente e desenvolve trabalhos de educação ambiental. Ela veio de Uberlândia (MG) para ensinar tecelagem, que aprendeu no Centro de Fiação e Tecelagem de Uberlândia. “Percorremos todas as etapas, desde o descaroçamento do algodão. Trabalhamos também reaproveitando materiais, mesclando fios, tiras, cordões de várias cores e espessuras, usando técnica simples e muita criatividade. A oficina é ainda uma oportunidade para refletir sobre a origem das fibras, a importância de se preservar o solo, o meio que produz o algodão, as plantas de onde se extraem tinturas naturais,” revela.


O prof. Josué de Souza e Silva, da comunidade local de Sto. Antônio, conhecido como professor Juca, ministrou a oficina de balaio feito de “taboca” – bambu. “Quero passar para os jovens o que aprendi com o meu pai, não podemos deixar morrer a cultura local,” diz o professor. Para ele, a atividade é ainda uma complementação de renda, e pode ser para seus alunos também: “Muita gente usa os balaios para fazer berço de criança, carregar milho na roça, ração para o gado, pães, ovos e muitas outras coisas.” 


Origami


Origami foi o tema da oficina da professora de artes e artista plástica Luiza Taira. Antiga tradição artesanal japonesa elaborada a partir da dobradura do papel, o origami é um exercício de paciência, criatividade e beleza plástica, permitindo o reaproveitamento de papel. Mais do que isso, faz parte de um ritual de fé: “Se algum ente querido fica doente, fazemos uma cortina com cem cisnes e penduramos no quarto do enfermo. Quando uma das minhas filhas adoeceu gravemente, a irmã fez a cortina com cem cisnes para ela. Pensamos que não sobreviveria, mas ela está aí,” relata Luiza.


Mais informações:
Prof. Jacy Guimarães(61) 361-1527