Educação, saúde e cultura

Fome e doença no Brasil têm jeito

3 de março de 2004

Maria Reis: ?A natureza dá tudo que precisamos, sobretudo alimentação e lazer. Ela só quer respeito e cuidado?

 







Maria Reis, à direita, ao receber mais uma 
homenagem pelo seu trabalho


Goiana de Morrinhos, a educadora Maria Reis Canedo aprendeu desde cedo, com os pais, a amar e a usufruir respeitosamente das maravilhas do cerrado. Descobriu que esse ecossistema esconde uma grande diversidade de plantas, com um potencial de nutrição e cura que pouca gente conhece e utiliza. Em 1989, participando do I Seminário Alternativas Contra a Fome como assessora da Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal, Maria Reis se ofereceu para contribuir com suas receitas alternativas, utilizando vegetais do cerrado e aproveitando cascas, caroços, flores, talos, farelos, brotos, raízes e folhas que normalmente se desperdiçam, mas com altíssimo valor nutritivo. A partir daí, seu trabalho ganhou a grande mídia e se intensificou. Passou a desenvolver atividades importantes junto à Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, EMATER e outras instituições. Ministrou vários cursos, proferiu palestras, escreveu livros e recebeu homenagens pelo seu trabalho. Aos 67 anos, ela continua descobrindo espécies do cerrado, pesquisando seus valores nutricionais e terapêuticos, criando novas receitas, difundindo seus conhecimentos e abraçando causas sociais. À Folha do Meio, Maria Reis fala desta rica experiência de vida e nos ensina um pouco do muito que sabe.


Folha do Meio – A senhora mantém uma ligação muito estreita com a terra. Qual a origem disto?


Maria Reis – A origem está na minha infância em Morrinhos, interior de Goiás. Todos os dias, às 3 da tarde, terminavam as aulas na escola e começava o aprendizado da terra. Era assim que, desde muito cedo, eu e meus 8 irmãos aprendíamos com meu pai os segredos da natureza e o amor e o respeito por ela. Ele jamais admitiu que destruíssemos uma planta. Também nos ensinou a não desperdiçar nunca uma semente. Com minha mãe aprendi a aproveitar as dádivas da terra, que tem muito mais para oferecer do que a maioria das pessoas acredita. Foi ela quem me ensinou a cozinhar, a preparar alimentos alternativos, aproveitar integralmente os vegetais, utilizar as plantas medicinais. Isso que atualmente as pessoas chamam de alternativo, que parece moderno, na realidade é toda uma cultura desenvolvida pela sabedoria dos antigos, que infelizmente foi se perdendo com o tempo e que é preciso resgatar e difundir Principalmente entre a população carente. Trago ainda outra herança importante de meus pais: a curiosidade. 







O Jardim Botânico do DF, deu vários cursos
  de culinária alternativa aproveitando
  os ensinamentos de Maria Reis


FMA – Como a senhora pesquisa suas receitas?


Maria Reis – Até hoje ando pelo cerrado, na reserva que mantenho no meu sítio em Alexânia e descubro novas plantas medicinais e alimentícias. Também aprendo com as pessoas do lugar, pesquiso em livros os valores nutritivos e terapêuticos das plantas, descubro espécies de outros países que se adaptam bem ao nosso solo, planto, invento receitas, procurando sempre aproveitar o melhor dos vegetais. Esse “melhor” não tem nada a ver com o que se costuma chamar de “partes nobres” dos alimentos. Utilizo cascas, flores, sementes, raízes, brotos, talos, farelos e folhas que normalmente vão para o lixo das casas brasileiras, inclusive as mais pobres. Muitos destes alimentos oferecem bem mais nutrientes que os convencionais.


FMA – Não tem muito desperdício num país que tem fome?


Maria Reis – Por puro preconceito, e falta de informação. A fome no Brasil não é só um problema econômico, é também um problema de educação. Durante muito tempo atuei em programas sociais, direcionados a comunidades carentes, junto à Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, LBA. O trabalho era essencialmente educativo, no sentido de melhorar a qualidade de vida das populações de baixa renda. Nós ensinávamos às comunidades hábitos de higiene, saúde, novos conceitos alimentares, como aproveitar os alimentos, orientávamos gestantes, lactentes. Quando falávamos a estas pessoas sobre a importância de se utilizar farelos, cascas e outras alternativas alimentares, muitas delas se aborreciam, diziam que eram pobres, mas não comiam comida de porco. Não é nada fácil. É necessário um trabalho amplo, intenso para mudar, melhorar os hábitos alimentares, a qualidade de vida do brasileiro. É preciso vontade política, não só no sentido de buscar uma sociedade mais justa, com melhor distribuição de renda, como o apoio dos órgãos governamentais em ações visando resultados a curto e médio prazo. Ações educativas que ajudem as pessoas a viverem melhor. Nessas minhas experiências em trabalhos comunitários pude constatar pessoalmente muitas das coisas que vêm a reboque da escassez econômica. Desnutrição, condições sanitárias mais do que precárias, um grave desperdício de alimentos. Tudo perpetuado pela ignorância e pela falta de informação. 


Alimentação e remédios brotam do chão







Maria Reis é sempre procurada pela mídia 
para divulgar seus ensinamentos


FMA – Porque esses ensinamentos não chegam ao povo?


Maria Reis – Porque o povo é orientado para buscar remédios na farmácia, sem saber que brota do chão a cura para os seus males, principalmente para o pior deles: a fome. Não posso me conformar com um país que tem a maior diversidade de plantas do planeta, uma imensa extensão de terras férteis, condições naturais favoráveis à agricultura e padece de fome. Preconceitos contra o aproveitamento dos vegetais causam a perda constante de poderosas fontes de alimento. É uma verdadeira afronta à fome, que no nosso país mata mais do que muitas guerras e mata principalmente crianças.


FMA – As receitas podem ser encontradas no seu livro Educação Nutricional? 


Maria Reis – Este livro foi editado pela primeira vez em 93, com o título Educação Alimentar. A segunda versão revisada, melhorada, só foi feita em 95, pela FAO e pela EMATER, com reedição em 97. Algumas das receitas foram ensinadas por minha mãe, a quem dedico a obra, outras eu mesma criei. Também escrevi As Plantas medicinais, um projeto que me foi solicitado pela EMATER na época do Dr. Waldir Guiusti, com quem trabalhei como consultora técnica na área de complementação alimentar e educação alimentar do órgão. Mas até hoje o livro não foi publicado, está lá. Mas a difusão do meu trabalho com plantas medicinais e alimentação alternativa começou efetivamente em 89, quando participei do I Seminário Alternativas Contra a Fome, promovido pela Escola Livre de Agricultura de São Paulo. 


FMA – Como a Pastoral da Criança a descobriu?


Maria Reis – Foi justamente esta minha atuação mais ampla iniciada em 89 que me levou ao envolvimento com a Pastoral da Criança e a Pastoral da Saúde durante alguns anos. Foi um trabalho intenso, que me trouxe muita satisfação. Recebi apoio incondicional da Dra. Zilda Arns, presidente da Pastoral da Criança, irmã de D. Paulo Evaristo e da Dra. Clara Takaki Brandão, coordenadora da instituição, ambas pediatras e nutrólogas. Não só delas como de outras pessoas envolvidas com o trabalho. A Dra. Zilda e a Dra. Clara tinham conhecimentos e grande interesse em medicina natural e alimentação alternativa, juntas desenvolvemos muitas ações em prol das comunidades, com mães, gestantes, crianças, famílias. Participamos de encontros, seminários, trocando experiências com outras pessoas, outras instituições, ensinamos e aprendemos muito. Não tem nada mais compensador do que poder desenvolver um trabalho social, sentir que estamos de fato fazendo algo de bom pelas pessoas necessitadas. Mesmo quando não se é remunerado.


FMA – A senhora recebeu apoio durante a sua longa carreira no serviço público?


Maria Reis – Eu diria que recebi grande apoio de algumas pessoas em especial, mas de uma maneira geral esbarrei em empecilhos, dificuldades, até nas reivindicações mais simples para a realização de trabalhos. Posso citar projetos que desenvolvi, alguns inclusive atendendo a solicitação dos órgãos, que nunca saíram do papel: Desenvolvi trabalhos sobre a sucata na confecção de brinquedos pedagógicos e material didáticos sobre economia doméstica; e sobre alimentos alternativos e sua incorporação ao cardápio escolar e cardápio familiar e farmácia caseira com produtos naturais da região. Isso sem falar nas inúmeras ações propostas que não foram levadas adiante. O trabalho com menores de rua é uma delas. É um assunto que me preocupa muito, participei de vários encontros, seminários, proferi palestras e espero ainda ter condições de fazer algo maior, mais concreto quanto a esta questão dos meninos de rua.


FMA – Uma mensagem para nossos leitores?


Maria Reis – Acho que nunca é demais lembrar às pessoas do que aprendi bem cedo com meu pai. A natureza dá tudo o que precisamos. Em troca ela só precisa de respeito e cuidado. Preservar a natureza é preservar a nossa própria vida, a vida das próximas gerações. Como podemos dizer que amamos nossos filhos, nossos netos, se não cuidamos do mundo que estamos deixando para eles? Ensino às pessoas uma alimentação mais natural, a se tratarem com plantas medicinais. É um trabalho que gosto muito, mas por incrível que pareça isto, às vezes, tem me deixado triste. Na comunidade próxima ao meu sítio em Alexânia, por exemplo, oriento as pessoas para a utilização de vegetais do cerrado que antes elas ignoravam. E agora observo estas plantas sendo devastadas, até na reserva que mantenho no sítio e que vem sendo invadida, depredada. Essas pessoas não têm sequer o cuidado de extrair o fruto sem danificar os galhos. Às vezes até arrancam a planta pela raiz por pura displicência, tiram a proteção dos troncos sem a menor necessidade. E quando sofrem com as consequências da devastação do meio dizem que é castigo de Deus. Mas é claro que Deus não tem culpa nenhuma de nada disso. Temos que fazer a nossa parte, respeitar todas as formas de vida, preservar a integridade das plantas, não poluir, replantar, tratar com amor, com reverência o que temos de melhor, de mais bonito no nosso planeta. Temos principalmente que ensinar, dar o exemplo para as novas gerações. É uma missão que cabe aos pais, aos educadores, a todos os adultos, ninguém pode se omitir.


Mais informações: 
Maria Reis – (61) 245-6165








Quem quiser conhecer as receitas de Maria Reis, acesse aqui


Educação, saúde e cultura


Fome e doença no Brasil têm jeito


Maria Reis: ?A natureza dá tudo que precisamos, sobretudo alimentação e lazer. Ela só quer respeito e cuidado?


Rita Ghidetti







Maria Reis, à direita, ao receber mais uma 
homenagem pelo seu trabalho


Goiana de Morrinhos, a educadora Maria Reis Canedo aprendeu desde cedo, com os pais, a amar e a usufruir respeitosamente das maravilhas do cerrado. Descobriu que esse ecossistema esconde uma grande diversidade de plantas, com um potencial de nutrição e cura que pouca gente conhece e utiliza. Em 1989, participando do I Seminário Alternativas Contra a Fome como assessora da Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal, Maria Reis se ofereceu para contribuir com suas receitas alternativas, utilizando vegetais do cerrado e aproveitando cascas, caroços, flores, talos, farelos, brotos, raízes e folhas que normalmente se desperdiçam, mas com altíssimo valor nutritivo. A partir daí, seu trabalho ganhou a grande mídia e se intensificou. Passou a desenvolver atividades importantes junto à Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, EMATER e outras instituições. Ministrou vários cursos, proferiu palestras, escreveu livros e recebeu homenagens pelo seu trabalho. Aos 67 anos, ela continua descobrindo espécies do cerrado, pesquisando seus valores nutricionais e terapêuticos, criando novas receitas, difundindo seus conhecimentos e abraçando causas sociais. À Folha do Meio, Maria Reis fala desta rica experiência de vida e nos ensina um pouco do muito que sabe.


Folha do Meio – A senhora mantém uma ligação muito estreita com a terra. Qual a origem disto?


Maria Reis – A origem está na minha infância em Morrinhos, interior de Goiás. Todos os dias, às 3 da tarde, terminavam as aulas na escola e começava o aprendizado da terra. Era assim que, desde muito cedo, eu e meus 8 irmãos aprendíamos com meu pai os segredos da natureza e o amor e o respeito por ela. Ele jamais admitiu que destruíssemos uma planta. Também nos ensinou a não desperdiçar nunca uma semente. Com minha mãe aprendi a aproveitar as dádivas da terra, que tem muito mais para oferecer do que a maioria das pessoas acredita. Foi ela quem me ensinou a cozinhar, a preparar alimentos alternativos, aproveitar integralmente os vegetais, utilizar as plantas medicinais. Isso que atualmente as pessoas chamam de alternativo, que parece moderno, na realidade é toda uma cultura desenvolvida pela sabedoria dos antigos, que infelizmente foi se perdendo com o tempo e que é preciso resgatar e difundir Principalmente entre a população carente. Trago ainda outra herança importante de meus pais: a curiosidade. 







O Jardim Botânico do DF, deu vários cursos
  de culinária alternativa aproveitando
  os ensinamentos de Maria Reis


FMA – Como a senhora pesquisa suas receitas?


Maria Reis – Até hoje ando pelo cerrado, na reserva que mantenho no meu sítio em Alexânia e descubro novas plantas medicinais e alimentícias. Também aprendo com as pessoas do lugar, pesquiso em livros os valores nutritivos e terapêuticos das plantas, descubro espécies de outros países que se adaptam bem ao nosso solo, planto, invento receitas, procurando sempre aproveitar o melhor dos vegetais. Esse “melhor” não tem nada a ver com o que se costuma chamar de “partes nobres” dos alimentos. Utilizo cascas, flores, sementes, raízes, brotos, talos, farelos e folhas que normalmente vão para o lixo das casas brasileiras, inclusive as mais pobres. Muitos destes alimentos oferecem bem mais nutrientes que os convencionais.


FMA – Não tem muito desperdício num país que tem fome?


Maria Reis – Por puro preconceito, e falta de informação. A fome no Brasil não é só um problema econômico, é também um problema de educação. Durante muito tempo atuei em programas sociais, direcionados a comunidades carentes, junto à Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, LBA. O trabalho era essencialmente educativo, no sentido de melhorar a qualidade de vida das populações de baixa renda. Nós ensinávamos às comunidades hábitos de higiene, saúde, novos conceitos alimentares, como aproveitar os alimentos, orientávamos gestantes, lactentes. Quando falávamos a estas pessoas sobre a importância de se utilizar farelos, cascas e outras alternativas alimentares, muitas delas se aborreciam, diziam que eram pobres, mas não comiam comida de porco. Não é nada fácil. É necessário um trabalho amplo, intenso para mudar, melhorar os hábitos alimentares, a qualidade de vida do brasileiro. É preciso vontade política, não só no sentido de buscar uma sociedade mais justa, com melhor distribuição de renda, como o apoio dos órgãos governamentais em ações visando resultados a curto e médio prazo. Ações educativas que ajudem as pessoas a viverem melhor. Nessas minhas experiências em trabalhos comunitários pude constatar pessoalmente muitas das coisas que vêm a reboque da escassez econômica. Desnutrição, condições sanitárias mais do que precárias, um grave desperdício de alimentos. Tudo perpetuado pela ignorância e pela falta de informação. 


Alimentação e remédios brotam do chão







Maria Reis é sempre procurada pela mídia 
para divulgar seus ensinamentos


FMA – Porque esses ensinamentos não chegam ao povo?


Maria Reis – Porque o povo é orientado para buscar remédios na farmácia, sem saber que brota do chão a cura para os seus males, principalmente para o pior deles: a fome. Não posso me conformar com um país que tem a maior diversidade de plantas do planeta, uma imensa extensão de terras férteis, condições naturais favoráveis à agricultura e padece de fome. Preconceitos contra o aproveitamento dos vegetais causam a perda constante de poderosas fontes de alimento. É uma verdadeira afronta à fome, que no nosso país mata mais do que muitas guerras e mata principalmente crianças.


FMA – As receitas podem ser encontradas no seu livro Educação Nutricional? 


Maria Reis – Este livro foi editado pela primeira vez em 93, com o título Educação Alimentar. A segunda versão revisada, melhorada, só foi feita em 95, pela FAO e pela EMATER, com reedição em 97. Algumas das receitas foram ensinadas por minha mãe, a quem dedico a obra, outras eu mesma criei. Também escrevi As Plantas medicinais, um projeto que me foi solicitado pela EMATER na época do Dr. Waldir Guiusti, com quem trabalhei como consultora técnica na área de complementação alimentar e educação alimentar do órgão. Mas até hoje o livro não foi publicado, está lá. Mas a difusão do meu trabalho com plantas medicinais e alimentação alternativa começou efetivamente em 89, quando participei do I Seminário Alternativas Contra a Fome, promovido pela Escola Livre de Agricultura de São Paulo. 


FMA – Como a Pastoral da Criança a descobriu?


Maria Reis – Foi justamente esta minha atuação mais ampla iniciada em 89 que me levou ao envolvimento com a Pastoral da Criança e a Pastoral da Saúde durante alguns anos. Foi um trabalho intenso, que me trouxe muita satisfação. Recebi apoio incondicional da Dra. Zilda Arns, presidente da Pastoral da Criança, irmã de D. Paulo Evaristo e da Dra. Clara Takaki Brandão, coordenadora da instituição, ambas pediatras e nutrólogas. Não só delas como de outras pessoas envolvidas com o trabalho. A Dra. Zilda e a Dra. Clara tinham conhecimentos e grande interesse em medicina natural e alimentação alternativa, juntas desenvolvemos muitas ações em prol das comunidades, com mães, gestantes, crianças, famílias. Participamos de encontros, seminários, trocando experiências com outras pessoas, outras instituições, ensinamos e aprendemos muito. Não tem nada mais compensador do que poder desenvolver um trabalho social, sentir que estamos de fato fazendo algo de bom pelas pessoas necessitadas. Mesmo quando não se é remunerado.


FMA – A senhora recebeu apoio durante a sua longa carreira no serviço público?


Maria Reis – Eu diria que recebi grande apoio de algumas pessoas em especial, mas de uma maneira geral esbarrei em empecilhos, dificuldades, até nas reivindicações mais simples para a realização de trabalhos. Posso citar projetos que desenvolvi, alguns inclusive atendendo a solicitação dos órgãos, que nunca saíram do papel: Desenvolvi trabalhos sobre a sucata na confecção de brinquedos pedagógicos e material didáticos sobre economia doméstica; e sobre alimentos alternativos e sua incorporação ao cardápio escolar e cardápio familiar e farmácia caseira com produtos naturais da região. Isso sem falar nas inúmeras ações propostas que não foram levadas adiante. O trabalho com menores de rua é uma delas. É um assunto que me preocupa muito, participei de vários encontros, seminários, proferi palestras e espero ainda ter condições de fazer algo maior, mais concreto quanto a esta questão dos meninos de rua.


FMA – Uma mensagem para nossos leitores?


Maria Reis – Acho que nunca é demais lembrar às pessoas do que aprendi bem cedo com meu pai. A natureza dá tudo o que precisamos. Em troca ela só precisa de respeito e cuidado. Preservar a natureza é preservar a nossa própria vida, a vida das próximas gerações. Como podemos dizer que amamos nossos filhos, nossos netos, se não cuidamos do mundo que estamos deixando para eles? Ensino às pessoas uma alimentação mais natural, a se tratarem com plantas medicinais. É um trabalho que gosto muito, mas por incrível que pareça isto, às vezes, tem me deixado triste. Na comunidade próxima ao meu sítio em Alexânia, por exemplo, oriento as pessoas para a utilização de vegetais do cerrado que antes elas ignoravam. E agora observo estas plantas sendo devastadas, até na reserva que mantenho no sítio e que vem sendo invadida, depredada. Essas pessoas não têm sequer o cuidado de extrair o fruto sem danificar os galhos. Às vezes até arrancam a planta pela raiz por pura displicência, tiram a proteção dos troncos sem a menor necessidade. E quando sofrem com as consequências da devastação do meio dizem que é castigo de Deus. Mas é claro que Deus não tem culpa nenhuma de nada disso. Temos que fazer a nossa parte, respeitar todas as formas de vida, preservar a integridade das plantas, não poluir, replantar, tratar com amor, com reverência o que temos de melhor, de mais bonito no nosso planeta. Temos principalmente que ensinar, dar o exemplo para as novas gerações. É uma missão que cabe aos pais, aos educadores, a todos os adultos, ninguém pode se omitir.


Mais informações: 
Maria Reis – (61) 245-6165








Quem quiser conhecer as receitas de Maria Reis, acesse aqui