Carga pesada quer hidrovia e ferrovia
4 de março de 2004O ciclo da rodovia foi um modelo que se esgotou e agora precisa é de conservação
As oito administrações hidroviárias no Brasil: Administração Hidroviária do Sul, do rio Paraná, do rio Paraguai, do rio Araguaia, do rio São Francisco, Administração Hidroviária do Nordeste, do Norte e do Amazonas |
FMA – Há impactos indiretos na bacia e mudanças no regime hidrológico dos rios?
Garrido – No que se refere aos impactos na área de influência indireta, as hidrovias praticamente não afetam o território da bacia. Tampouco criam situações que possam modificar significativamente o regime hidrológico dos rios, a não ser a exigência do calado, natural ou artificial.
FMA – Vamos a um pouco de história. Que razões poderiam ter motivado essa falta de predomínio do transporte fluvial em nosso País?
Garrido – Essa é uma boa colocação. Veja que o café assumiu a liderança na pauta de exportações por volta de 1842, tomando o lugar do açúcar e do algodão, em decorrência da crise de preços que se seguiu à intensa concorrência que estes dois produtos sofreram no mercado internacional. De 1850 a 1930, o partido adotado para a infra-estrutura de transportes baseou-se no binômio “ferrovia-porto” para atender à economia primário-exportadora do Brasil. Este processo levou a que as maiores cidades brasileiras ficassem isoladas umas das outras, pois a ligação era ferroviária e com o litoral, para o porto por onde passaria o produto.
A formação dessas verdadeiras “ilhas” econômicas provocou a necessidade de rodovias para interligá-las. Afinal, as rodovias têm a vantagem de serem flexíveis em termos de projeto, chegando aonde se quiser, o que não ocorre necessariamente com as hidrovias, pois não se constroem rios e as obras de canais são onerosas. As ferrovias exigem raios de curvatura assaz longos e declividades suaves.
O Brasil adotou, então, sua política rodoviária, e o fato é que em 1960, à exceção de Belém e Manaus, todas as demais capitais já se encontravam ligadas por rodovias. E mesmo para Belém já estava a caminho a construção da Belém-Brasília, idealizada por Juscelino Kubitschek.
FMA – E por que o ciclo da rodovia se esgotou?
Garrido – O ciclo da rodovia, que se estendeu de 1930 a 1974, foi um modelo que se esgotou porque no início dos 70, quase todos os grandes eixos rodoviários já estavam construídos, dando respostas às necessidades nacionais que eram baseadas em indústrias leves e um produto agropecuário disperso.
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Entretanto, na segunda metade dos anos 70 , quando já avançava o II Plano Nacional de Desenvolvimento e seus projetos-vedete, quase tudo era voltado para a indústria pesada, ampliando a siderurgia, a indústria química, organizando e expandindo a petroquímica, a metalurgia. Além disso houve a consolidação de grandes e concentrados volumes de grãos, implicando a necessidade de transportes mais apropriados à carga pesada de grandes volumes, ou seja, ferrovias e hidrovias.