Genoma humano

Ciência desvenda código da vida

5 de março de 2004

Ansiedade e temor: a ciência, a ética e os direitos humanos


     Várias entidades, como o Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, vinculado ao Ministério da Energia dos Estados Unidos, o Instituto Whitehead, do MIT – Massachusetts Instituto os Technology – com a participação de universidades e de cientistas de vários países do mundo, desenvolveram as pesquisas que trouxeram a descoberta do genoma humano. 


É importante comentar um outro lado da medalha: o dado empresarial e privado. Em 1998, o subcoordenador geral do projeto, o biólogo Craig Venter, não estava gostando da burocracia imposta pelos órgãos públicos que estavam no projeto. E menos ainda com a burocracia pessoal levada pela vaidade de alguns cientistas. Em vez de ficar dando entrevistas e plantando notas na imprensa contra colegas, o Dr. Craig Venter deu um troco mais forte: largou o Projeto estatal do Genoma Humano, fundou a própria empresa – Celera Genomics – disse que ia acelerar os trabalhos para, em dois anos, completá-lo e patenteá-lo.


A Celera investiu os dólares que foi buscar no mercado paralelo e com os recursos na Bolsa de Valores estabeleceu uma competição fantástica. Pronto! Isso obrigou uma maior dedicação dos cientistas que ficaram no Projeto Genoma Humano e, precisamente em dois anos, foi anunciada solenemente a descoberta.


A descoberta levou o presidente Bill Clinton a salientar que “essa foi a descoberta mais importante da humanidade, pois foi decifrada a linguagem com que Deus criou a vida”. O primeiro-ministro Japonês Yoshiro Mori bateu na mesma tecla: “Agora temos o manual de serviços do corpo humano o que permitira decifrar a vida em si”.


Tudo isso vai permitir, com o código genético decifrado, que qualquer doente tenha resposta imediata sobre como tratar seus genes, pois novos medicamentos vão entrar no mercado para tratar doenças até então incuráveis; cada paciente poderá receber seu remédio sob medida certa; e genes defeituosos poderão ser corrigidos na origem.


Ciência & Ética e Direitos Humanos


Se o clima de euforia toma conta dos cientistas, por sinal os primeiros e grandes beneficiários da descoberta, o mundo continua tão esperançoso quanto assustado, afinal de contas onde a ciência vai chegar? Até onde a ciência vai influir? O que a ciência poderá manipular para o bem e para o mal? Nesse sentido, o cientista-chefe do Projeto Genoma Humano na Grã-Bretanha, professor John Sulston, foi muito claro:




  • O genoma pertence a todos e utilizá-lo para dar tratamento preferencial a alguns é moral e eticamente errado.



  • A internet vai ajudar a democratizar as informações do projeto, pois diariamente atualizamos os dados que podem ser utilizados de graça e sem restrições.



  • O corpo humano é muito complexo e serão necessários muitas interações entre as descobertas e novas metodologias para que se tenha uma compreensão global de seu funcionamento.



  • O próprio caso do envelhecimento é de uma complexidade sem par. Podemos retardá-lo, mas não interrompê-lo. É bom lembrar que o envelhecimento é um processo celular normal, quando nosso corpo vai se livrando de células gastas ou doentes durante a vida. Tentar reverter isso pode ser danoso.



  • Não podemos aceitar que o seqüenciamento do genoma humano leve à discriminação. Ele não pertence à comunidade científica, mas a todos indivíduos.



  • Há necessidade de se preservar a privacidade genética, mas é uma solução imperfeita. A informação sempre poderá ser roubada. Além disso, membros de uma família compartilham a herança genética, então a informação sobre alguns diz muito sobre os demais.



  • Tão importante quanto a herança genética é a formação intelectual e profissional do ser humano, bem como o saudável o ambiente em que o homem deve se criar e viver, pois nesse tripé está a qualidade de vida.



  • No final das contas, essa é uma questão de direitos humanos. Nossas liberdades (emancipação feminina, igualdade racial) devem se estendidas a todas as pessoas de todas as constituições genéticas.


Como foi lido o código genético




  • O que os cientistas fizeram foi pegar amostras de DNA de 17 doadores, essas amostras foram picotadas e inseridas em máquinas capazes de transformar os componentes químicos da molécula em letras (ATCG) do código genético.



  • Aí entrou em ação os supercomputadores e os pequenos conjuntos de letras foram processados, montados e digitalizados. Assim os cientistas remontaram a seqüência de DNA



  • Com a ajuda dos supercomputadores, a sopa de letras foi organizada e os cientistas puderam localizar os genes. Uma vez identificados e montados, ficou mais fácil saber como cada um deles funciona. Tarefa que o próprio supercomputador ajuda descobrir.



  • Uma coisa é certa: ainda vai demorar algum tempo para que essa descoberta chegue verdadeiramente a todos os homens. Como a eletricidade, a informática e tantas outras conquistas da ciência que demoraram a ser popularizadas depois de descobertas, explica o biólogo John Craig Venter


Glossário


Genoma – é o conjunto de instruções necessárias, que estão no DNA, e formam um ser.


DNA – molécula em formato de dupla hélice que carrega os genes compostos por quatro elementos básicos: A – adenina; T – timina; C – citosina; e G – Guanina. As letras A, T, C e G formam uma linguagem dada pelos cientistas que é capaz de ser armazenada no computador. As letras formam os genes que têm estruturas específicas. Os cientistas estimam que sejam cerca de 50 mil genes distribuídos no DNA, que se fosse esticado (com 3,1 bilhões de pares de letras) seria uma fita de quase dois metros.


Código da vida – é formado pela combinação de A, T, C e G. Funciona como letras arrumadas numa longa receita que determina desde cor dos olhos, do cabelo até a predisposição para doenças.


Cromossomos – Cada célula humana contém 23 pares de cromossomos. Os genes estão agrupados em conjuntos maiores que são justamente os cromossomos. Cada cromossomo carrega um trecho de fita de DNA.


Célula – O corpo humano é constituído de cerca de 100 trilhões de células e todas elas contém uma cópia completa de DNA. Célula é a menor unidade de matéria viva que pode existir de maneira independente e ser capaz de reproduzir-se.








SUMMARY


Science unravels life code


Anxiety and fear: science & ethics and human rights


Many entities, such as the National Institute of Research on Human Genoma, linked to the United States Ministry of Energy, the Whitehead Institute, of the MIT – Massachusetts Institute of Technology – with the participation of universities and scientists from many countries of the world, have developed the researches that brought forth the unraveling of the human genoma.


It is important to comment on another issue of the discovery: the commercial and private data. In 1998, the general subcoordenador of the project, biologist Craig Venter, was not particularly enjoying the bureaucracy imposed by public agencies participating in the project. This situation was worsened by personal bureaucracy driven by the vanity of some scientists. Instead of giving interviews complaining and sending notes to the press against colleagues, Dr. Craig Venter paid back with a sturdy decision: he left the Statal Project on Human Genoma, established his own company – Celera Genomics – and said that he will speed up the activities so that, in two years, will have completed and patented it.