Marco Maciel abre Congresso no Rio que reúne mais de 4 mil geólogos
4 de março de 2004Geólogos de 103 países pedem melhor gerenciamento da Terra. A água, o solo, as florestas e o ar merecem cuidados especiais
A geociência brilhou no Rio de Janeiro, durante o 31ª Congresso Internacional de Geologia, no Riocentro, aberto pelo vice-presidente da República, Marco Maciel. Em 122 anos, foi a primeira vez que o evento aconteceu na América do Sul. Na abertura do Congresso, o vice Marco Maciel anunciou que será encaminhado ao Congresso um projeto de lei criando a Agência Mineral Nacional, para que o Brasil "dê um salto qualitativo e quantitativo, criando condições de desenvolver o setor mineral de forma consistente, articulada e orgânica". Marco Maciel lembrou ainda a recente criação da Agência Nacional de Água e disse que, em 2001, R$1 bilhão poderão ser aplicados pelo Brasil no desenvolvimento da ciência e tecnologia, incluindo os recursos minerais. Na abertura do encontro, presidido pelo professor Umberto Giuseppe Cordani, o governador Anthony Garotinho disse que será criada a Cidade da Geologia, no município de Raposo, com um museu de geologia e recursos minerais.
Ao falar aos congressistas, o professor Umberto Cordani lembrou que as geociências têm importante papel no desenvolvimento da sociedade contemporânea. "Somos nós que melhor poderemos atuar na busca e gerenciamento dos recursos minerais e energéticos indispensáveis a qualquer atividade humana", frisou. O próximo Congresso Internacional de Geologia será em 2004 em Florença, Itália. Para 2008, três países são candidatos: Inglaterra, Egito e Noruega.
Uso sem controle pode esgotar as
reservas subterrâneas de água
A utilização descontrolada reservatórios de água subterrânea, mais barata por não exigir tratamento, pode esgotar suas reservas, como já ocorre nos Estados Unidos, América Latina e Espanha. O alerta é do professor Ricardo Hirata, do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental da Universidade de São Paulo.
Em sua opinião, o melhor caminho para montar sistemas adequados de abastecimento é integrar o uso da água de superfície e das reservas subterrâneas. "Os rios flutuam muito e os reservatórios da superfície baixam de nível", observou Hirata. "No entanto, é mais fácil perceber uma eventual contaminação".
Tratada pela natureza, a água subterrânea, quando contaminada por produtos voláteis, resiste a qualquer processo de purificação. Em outros casos, o custo é tão alto que se torna proibitivo. O geólogo propõe aos governos e instituições científicas a busca de soluções, para reduzir a poluição, integrar o uso dos reservatórios e racionalizar a utilização de um recurso natural cada vez mais precioso.
Oito milhões de pessoas morrem a cada ano por
problemas ligados à água
Oito milhões de pessoas morrem a cada ano no mundo inteiro por doenças e desastres ligados à qualidade e ao abastecimento de água, que será o maior desafio do século 21, segundo a previsão do geólogo Andras Szöllosi-Nagy, da Unesco. "Não há fonte saudável de água no mundo", afirmou o cientista. Além dos problemas de grande porte causados pela poluição e escassez de água, enchentes em vários países acarretaram perdas econômicas e a morte de 400 mil pessoas nos últimos 10 anos. "O meio ambiente se torna mais vulnerável, com o aumento da população e o uso incorreto dos recursos hídricos", destacou. Andras fez um alerta aos cientistas e aos planejadores urbanos: "As reservas de água estão caindo cerca de 1% ao ano. Se não mudarmos nosso sistema de viver, não haverá reserva de água dentro de cem anos".
UNESCO recomenda imediata racionalização
do uso da água para evitar escassez em 25 anos
O gerenciamento integrado dos recursos hídricos é prioridade absoluta para evitar graves problemas de abastecimento no século 21. É o alerta do geólogo Andras Szöllösi-Nagy, diretor da Divisão de Ciências da Água e Secretário do Programa Internacional de Hidrologia da Unesco. O cientista húngaro apresentou um dado essencial: nos últimos 100 anos, a população triplicou, enquanto o consumo da água cresceu seis vezes mais. "Se a tendência atual não mudar", destacou, "um terço dos países do mundo enfrentará sérios problemas de escassez." As áreas sob risco estão no Norte da África, parte da Ásia e na América Latina, incluindo o Nordeste do Brasil.
Uma questão chave na análise de Andras Szöllösi-Nagy é a adoção de técnicas ecologicamente corretas no uso da terra. Os caminhos possíveis incluem evitar a erosão, o uso excessivo de pesticidas e a penetração de nutrientes no solo, adotar a micro-irrigação, regar as raízes, e não a planta inteira, e pesquisar vegetais que aceitem água do mar com baixo teor de sal.
As alternativas tanto passam pela agricultura natural quanto pela engenharia genética, usada com discernimento e moderação.
China define metas para
desenvolvimento sustentável
Estoques de recursos naturais, expansão populacional e preservação do meio ambiente são as principais metas do desenvolvimento sustentável do próximo século. A previsão é do Ministro da Terra e Recursos da China, Tian Fengsham, Para o ministro, o desenvolvimento irracional e o uso dos recursos naturais no processo de industrialização mudaram o clima no mundo, poluíram a atmosfera e causaram danos à ecologia, criando condições para desastres naturais de grandes proporções, em ameaça à própria sobrevivência da humanidade. Tian Fengshan lembrou a Rio'92 e afirmou: "Foi o começo de uma nova era no desenvolvimento sustentável dos seres humanos". No entanto, há grandes desafios a enfrentar, como o tratamento do lixo urbano, efeito da poluição que cresceu com o surgimento de grandes áreas metropolitanas. O Ministro chamou de "verdadeiro milagre" a produção de alimentos para 1 bilhão e 200 milhões de chineses – 22% da população mundial – em 7,2% da área cultivada do mundo. Na próxima década, o governo da China vai investir US$ 1 bilhão e 500 mil na investigação dos recursos da Terra, e US$ 10 bi para reconstruir o ambiente ecológico no oeste da país, degradado pela erosão.
População vai crescer tanto em 50 anos
que o homem vai precisar de duas Terras
A população mundial vai chegar a 9 bilhões em 2050, de acordo com as projeções da ONU, e precisaria de duas Terras para viver bem. Intolerância, guerra, fome e desastres ambientais serão efeitos da superpopulação, segundo previsões do professor Robin Brett, presidente da International Union of Geological Science. Índia, Bangladesh, Paquistão e Nigéria serão os países de crescimento populacional mais expressivo, em tendência que pode ser atenuada, na opinião do professor Brett, através da difusão de políticas de controle da natalidade. "E a geologia pode contribuir para melhorar o meio ambiente", destacou.
Os desafios que serão vencidos no próximo século incluem a previsão de terremotos, enchentes e erupções vulcânicas, a solução dos problemas do lixo tóxico e degradação do solo. Haverá também mais controle sobre recursos naturais, como água, minerais e combustíveis fósseis.
Unesco decidirá se novos sítios geológicos
serão área de proteção no Brasil
Mais de cem propostas de criação de sítios geológicos e paleontológicos no Brasil já estão sendo examinados por uma comissão de geocientistas e vão ser submetidas à Unesco. Os sítios aprovados se tornarão Patrimônio da Humanidade e podem receber subsídios como áreas de proteção ambiental, segundo informou o professor Emanuel Teixeira de Queiroz, do DNPM. O objetivo da Unesco é selecionar o maior número possível de sítios nos países em desenvolvimento, para reduzir o descompasso com os países do Primeiro Mundo. "Só na Grã-Bretanha", observa o professor Queiroz, "há mais de 3 mil sítios e no Brasil apenas dois deles: o do Parque Nacional do Iguaçu e de Porto Seguro". Um dos sítios que devem ser indicados logo à Unesco é o da Lagoa Salgada, na região de Campos e Macaé, onde há um depósito de recidfes de corais de eras passadas.
Conclusão do Congresso
Quatro mil e cem participantes de 103 países, incluindo 1.500 brasileiros, relatórios apresentados por 60 comissões científicas, 150 expositores internacionais na Feira de Geologia e o lançamento oficial do Techtonic Evolution of South America (Evolução Tecnônica da América do Sul), primeiro livro editado sobre o tema, eis a síntese do 31ª Congresso Internacional de Geologia, encerrado dia 17 de agosto em sessão solene no Riocentro. O secretário-geral do encontro, Carlos Oiti, lembrou que o essencial dos debates ficará na internet até 2002, no seguinte endereço: www.31gc.org
Cientista pede melhor
gerenciamento da Terra
O processo de mudança do clima no mundo é causado, em grande parte, pela ação ecologicamente incorreta de empresas de países desenvolvidos, que se instalam na Índia, China, África e América Latina e adotam práticas inaceitáveis em seus próprios países. A denúncia é do professor Eric Odada, da Academia de Ciências da África. Para ele, é preciso buscar soluções imediatas, através do gerenciamento da Terra, para evitar o agravamento do cenário de ameaças ao meio ambiente. O cientista apontou, como exemplo, a morte de mais de cinco mil pessoas e os graves danos à saúde de milhares de outras, envenenadas pelo gás liberado, por acidente, pela fábrica local de uma indústria química de país desenvolvido.
Entre as prioridades mundiais, Odada inclui a preservação da água, "Há 12 mil anos", lembrou, "o deserto do Saara era composto por vegetação e lagos. Em passado mais recente, havia ricas áreas de pesca na África Ocidental. A emissão de grande volume de carbono no Hemisfério Norte interfere no clima da África e das regiões tropicais e altera todo o ecosistema. É preciso controlar esse processo."
Novas reservas minerais precisam se descobertas
nem que seja no fundo do mar
Novas reservas minerais terão de ser descobertas e exploradas em proporções jamais vistas na história, para atender às necessidades de uma população mundial que já ultrapassa 6 bilhões de pessoas e continua a crescer. A declaração é do professor Brian J. Skinner. Segundo ele, serão desenvolvidas tecnologias capazes de permitir, nos próximos 20 anos, a mineração no fundo do mar. Na opinião do professor Skinner, a necessidade de encontrar recursos minerais usados pela sociedade industrializada vai superar o atual nível de interesse pela prospecção de diamantes e pedras preciosas. O professor Brian J. Skinner alerta ainda quanto aos efeitos da poluição, que mobiliza entidades ambientais e pode resultar em leis que impeçam a mineração em algumas partes do mundo.