Peugeot anuncia projeto ambiental e acaba sendo multada pelo Ibama
25 de março de 2004Irregularidades no uso de agrotóxicos provocaram morte de animais e contaminações diversas
Idealizado para retirar gás carbônico da atmosfera e reduzir o efeito estufa, o projeto da montadora francesa Peugeot desrespeita as regras básicas da
Marketing enganoso
A procuradoria-geral do Meio Ambiente de Mato Grosso, o Ministério Público e a Comissão de Terras e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa estão investigando as irregularidades praticadas no projeto da Peugeot. "Com o poço para sequestrar 50 mil toneladas anuais de carbono da atmosfera, a empresa francesa tinha o objetivo de fazer um marketing ambientalista. Ao permitir que as gestoras do projeto adotassem práticas ambientalmente incorretas (tentativa de exportação de sementes, queima controlada e uso de agrotóxico) esse objetivo foi para o espaço", afirma Viana, integrante da Comissão de Terras. As multas O Ibama do Mato Grosso aplicou uma multa de R$ 2,250 milhões à gestora do projeto, a ONF (Office National des Fôrets), uma empresa estatal que faz o manejo florestal na França, Tunísia, Chile, Marrocos e Guiana Francesa. Segundo o chefe do Setor de Fauna, Benedito Rondon, técnico designado para fiscalizar a implantação do Poço de Carbono, a ONF não obedeceu as normas legais. "A empresa desmatou área de preservação permanente (APP), próxima às margens de córregos e encostas de morros". A multa tinha sido fixada em R$ 20 mil, mas foi corrigida pela nova Lei de Crimes Ambientais. Morte de animais A empresa Aero Agricultura Bom Futuro, que aplicou o herbicida em excesso provocando a morte de animais silvestres, também foi multada em R$ 2 milhões. O Instituto de Defesa Agropecuário (Indea) multou o engenheiro José Roberto Jardim, da empresa Rondofértil, que vendeu o Roundup. A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fema) atua nas investigações do projeto com os outros órgãos. Embora considere as medidas irregulares, Rondon destaca que o projeto de resgate de carbono é bom. "O problema é que as gestoras começaram a implantar o programa sem apresentar qualquer documento aos órgãos ambientais no estado, de forma aleatória. Eles alegam que pretendiam instalar o projeto e depois divulgar", declara o biólogo. Os gestores tentaram ainda exportar 531,5 quilos de sementes de árvores nativa. O Ibama negou a autorização e as sementes desapareceram, o que pode ser considerado biopirataria. Trapalhada A ONF e a sua parceira, Fundação Pro-Natura, uma ONG franco-brasileira, criaram as empresas, ONF do Brasil Ltda, Terra Floresta Ltda e Floresta Viva Ltda, para levar adiante o projeto de 65 milhões de francos ou 11 milhões de dólares. Elas compraram a fazenda São Nicolau, em Cotriguaçú, com 10.143 hectares, dos quais, 3 mil hectares seriam convertidos em floresta. O princípio do seqüestro de carbono, com o reflorestamento, pelos países industrializados foi definido na Conferência de Kyoto (Japão) em 1997. Por esse protocolo, os países industrializados estão comprometidos a reduzir os gases que causam o efeito estufa aos níveis de 1990 até 2012. O ensaio da empresa francesa, que poderá vir a ser o futuro mercado de commodites de certificados de redução de emissão de gases, está se transformando, no mínimo, em uma trapalhada. (*) É a forma de retirar o gás carbônico, principal contribuinte do efeito estufa, da atmosfera. O gás só sai se for aprisionado por vegetação em crescimento ou pelas algas marítimas, com o processo de fotossíntese.
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