Feiras livres a caminho da qualidade total
25 de março de 2004Sebrae faz parcerias com prefeituras e lança programa de modernização de feiras, buscando melhorias de higiene, limpeza e qualidade de vida para feirantes
Há dois anos, em março de 1998, a Folha do Meio fez uma ampla matéria, assinada pela jornalista Valéria Fernandes, sobre a sujeira que fica no rastro das festas dos santos padroeiros e das feiras livres das capitais e cidades do interior. A matéria mostrava que a falta de infra-estrutura das cidades, a falta de interesse dos administradores e a pouca civilidade da maioria dos ambulantes, tudo isso prejudica o comércio estabelecido, polui os centros urbanos, diminui a qualidade de vida, transmite doenças e põe em risco a vida dos freqüentadores, até mesmo, pelas ligações clandestinas de energia elétrica, pela comércio inadequado de alimentos e pelo lixo que é espalhado na área. Resumindo: as feiras livres são um verdadeiro caos ambiental. Justamente para resolver este problema nasceu o programa do Sebrae “Feira Livre no Mundo da Qualidade Total”.
Objetivo do Programa: capacitar os feirantes para atuar de forma mais eficiente na gestão de seus negócios e na melhoria da sua postura como cidadão, combatendo o desperdício e facilitando a vida do público consumidor.
Para falar deste programa que hoje está sendo implantado em 56 municípios da Bahia, em 20 municípios do Piauí e em Sergipe, ninguém melhor do que a técnica do Sebrae, Rosa Virgínia Maia, Coordenadora do Programa na Bahia.
Folha do Meio – Como nasceu esse trabalho que busca a qualidade total nas feiras livres?
Rosa Virgínia – O trabalho surgiu a partir de uma iniciativa da prefeitura de Salvador que procurou o SEBRAE da Bahia para aplicação do Programa 5 “S” na Feira de São Joaquim. Essa feira está situada em local privilegiado de Salvador, com área aproximada de 34 mil m2. Tem 5.000 feirantes estabelecidos e mais uma população flutuante de 3.000 feirantes em determinadas épocas do ano. É considerada a maior feira fixa da América Latina. Durante os últimos 35 anos cresceu e diversificou-se de maneira desordenada, gerando problemas de limpeza, higiene, segurança pública, saúde e infra-estrutura. A degradação chegou a tal ponto que começou a afastar o seu público. E a pobreza e imundície íam aumentando a cada dia. Aí então a prefeitura mobilizou parcerias com o SEBRAE, CDL e o Sindicato dos Feirantes e Ambulantes, no sentido de intervir nesse processo de deterioração, introduzindo uma nova cultura, buscando a preparação dos feirantes, através da formação de uma mentalidade empresarial. Assim nasceu o programa.
FMA – Quem são os melhores parceiros do projeto?
RV – Bem, para se ter resultados efetivos e duradouros são necessários comprometimentos do poder municipal. O trabalho começa definindo diretrizes e regimentos que dêem conhecimento aos empresários das feiras sobre os seus direitos e deveres na utilização do espaço público. Há que ter acompanhamento e fiscalização constantes após os treinamentos e continuidade das ações. O programa só terá sucesso se houver total e irrestrito apoio do poder executivo do município. Por esta razão, o primeiro passo para implementação do programa é a sensibilização do prefeito e seu secretariado. Além da prefeitura o programa requer o completo comprometimento dos feirantes e participação de instituições que possam colaborar no processo como Associações Comerciais, CDL, Bancos, etc.
FMA – As feiras livres são ocupadas geralmente por pessoas de baixa escolaridade. Como o projeto está conseguindo mudar esse comportamento gerencial dos feirantes?
RV – O Programa D-OLHO na Qualidade (5″S”) é o primeiro treinamento a ser desenvolvido no programa, com o objetivo de se criar um impacto de curto prazo nas condições físicas e de trabalho das feiras, promovendo melhoria da saúde e segurança, transformando o ambiente, para atender cada vez melhor o cliente. O programa foi adaptado para a realidade das feiras livres e mercados, apresentando uma linguagem acessível, para atingir a totalidade dos feirantes. Através de treinamentos que chamamos de complementares como por exemplo: Atendimento ao Cliente, Higiene e Manipulação de Alimentos, Treinamento Gerencial Básico, Composição de Custos etc, estamos conseguindo sensibilizar e conscientizar o feirante para adoção de nova postura, assumindo o seu papel de empresário.
FMA – Quais os resultados positivos mais importantes para as cidades e para os próprios feirantes?
RV – A implantação do programa permitiu melhorias nas condições de higiene e limpeza da feira, respostas positiva dos clientes, melhoria na qualidade de vida dos feirantes, tomada de consciência dos órgãos públicos dos problemas existentes nas feiras e melhoria nas condições sanitárias e saúde.
FMA – Quais as principais ações que cada feirante deve desenvolver?
RV – Participar dos treinamentos e trabalhar nas campanhas do D-OLHO na feira, que são: D-Descarte; O-Organização; L-Limpeza; H-Higiene; e O-Ordem Mantida. A continuidade do programa depende principalmente do compromisso e responsabilidade dos feirantes em manter firme o aprendizado do programa.
FMA – Conte algumas experiências para gente?
RV – Ah! tem muitas. Deixa eu falar dos municípios de Santo Antônio de Jesus e Dom Basílio. São experiências significativas com resultados positivos para os feirantes, para poder municipal e para a comunidade que freqüenta a feira. Em Santo Antônio de Jesus, o prefeito formou uma comissão especial, coordenada pela Secretaria de Saúde, para tratar das questões da feira. A responsável pela comissão, o representante da associação dos feirantes e o SEBRAE acompanham e identificaram logo os problemas e implementam as ações necessárias. Além disso, a prefeitura melhorou a infra-estrutura da feira. Tudo pronto, foi disponibilizada uma linha de crédito pelo Banco do Nordeste para que os feirantes adquirissem barracas padronizadas e equipamentos. É só ir lá para ver o resultado.
Em Dom Basílio, a postura de educador do prefeito e seu engajamento no programa contribuíram para que os resultados fossem mais rápidos e consistentes. Promoveu uma reforma geral no mercado já existente, instalando tanque de água – o que não existia no local – e a infra-estrutura necessária à instalação dos equipamentos para comercialização adequada de carnes e hortifrutigranjeiros. A prefeitura doou ainda bancadas para que as mercadorias deixassem de ser vendidas no chão da feira, guarda-pós e bonés com cores diferenciadas, identificando assim as áreas da feira. Por exemplo, o boné vermelho é utilizado pelos comerciantes de carne, o verde, pelos vendedores de verduras e assim por diante. Hoje os feirantes têm até um administrador para organizar o mercado, armando e desarmando as bancadas. Resultado: as vendas aumentaram, os feirantes têm mais disposição e estímulo para trabalhar, os consumidores estão satisfeitos e não tem mais aquele lixo de antes.
Mais informações: Sebrae Nacional: Tel: (61)348-7233 ou 0800 992 030
Sebrae Bahia: (71) 320-4300 / 4474
Sebrae Sergipe: (79) 249-2626
Sebrae Piauí: (86) 321-4888
HomePage: www.sebrae.com.br
E-mail: [email protected]
Dicas paramanter a ordem
Fazer a coleta seletiva de lixo e varrer nos horários determinados;
Cumprir os horários de início e término do funcionamento da Feira;
Observar os horários determinados para carga e descarga das mercadorias;
Manter a sinalização da feira atualizada;
Cumprir as convocações para participar das reuniões do grupo de feirantes.
Os ganhos pela ordem mantida
Melhor imagem da feira e do feirante;
Segurança, melhor trabalho em equipe e planejamento;
Identificar, de forma mais rápida, os erros e prejuízos causados por falta de compromisso de feirantes com a disciplina e/ou outros fatores;
Melhores lucros e oportunidades de trabalho.
Prevenir, o melhor remédio
Pense antes de fazer.
Planejando, as coisas dão mais certo.
Coloque em prática o que aprendeu.
Observe que estas tarefas não custam dinheiro, apenas a vontade e decisão de melhorar a sua vida e da sua família.