Investimentos em Meio Ambiente

Multiplicam-se os Fundos Ambientais

4 de março de 2004

Projetos de agricultura orgânica, carvão e palmito são financiados por fundos ambientais

     As pessoas e as empresas interessadas em financiar projetos ambientais das mais diversas modalidades, inclusive nas áreas industrial e agrícola, já têm onde conseguir o dinheiro: bastará procurar um dos fundos ambientais que estão operando no mercado.

Esses fundos constituem, também, uma excelente opção para quem quer aplicar seus recursos e pretende dar a eles uma destinação "limpa", pois oferecem aos seus aplicadores uma remuneração igual ou até melhor do que as dos fundos em geral.

Os administradores desses fundos garantem que os investimentos por eles patrocinados apresentam um horizonte de retorno de dez anos, e poderão oferecer uma rentabilidade anual acima dos 22% prometidos aos aplicadores, podendo chegar a até 30%.

O pioneiro

O primeiro desses fundos ambientais de investimento – o Terra Capital – foi criado pelo Banco Axial e já levantou US$ 15 milhões, dos quais US$ 5 milhões já estão financiando diversos projetos ambientais.

Os US$ 15 milhões do Terra Capital foram levantados junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID -, Banco Mundial – BIRD – governo da Suíça e outros fornecedores de capital de menor expressão.

Cresceu tanto que seu idealizador, John Michael Forgách, que era vice-presidente do Axial, abandonou o banco e criou uma administradora de fundos, a A2R, que passou a administrar o Terra Capital. Forgách atraíu para o A2R a Grantham, Mayo, Van Otterloo & Co. (GMO) a quem ofereceu a metade das ações. A GMO é uma administradora de fundos norte-americana que gerencia US$ 24 bilhões.

Escolhido o ambientalista do ano pela revista Latin Trade, especializada em negócios na América Latina, Forgách garante que poderá tocar o fundo sozinho, sem necessidade da estrutura de um banco.

Ele garante que até o final do ano o Terra Capital dobrará seu atual capital chegando a US$ 30 milhões, o que não é pouco, considerando a preferência pelo financiamento de projetos de médio porte.

Um novo aporte de US$ 11 milhões já está sendo negociado, e pela primeira vez bancos brasileiros com agências no exterior vão integrar o capital de um fundo ambiental, em cotas individuais de US$ 500 mil.

Agricultura orgânica

O Terra Capital já financiou quatro projetos de agricultura orgânica de pequeno e médio portes: uma produtora de babaçu no Tocantins, que vai produzir carvão ativado com o coco; uma plantação de morangos destinado à exportação para o Chile; a ampliação da produção de hortaliças da Fazenda Santo Onofre em Itatiba, São Paulo, que permitirá o aumento da oferta do produto a restaurantes da capital paulista e um fabricante de palmitos de açaí na Ilha de Marajó, no Pará.

Fundos específicos

A intenção dos dirigentes da A2R é criar fundos específicos, que se dedicariam a financiar projetos também de áreas determinadas. O primeiro desses fundos, que acaba de ser criado, é o Fundo Bioamazônia, que financiará projetos de prospecção biológica na Amazônia.

Outros fundos estão em fase de criação, para dedicar-se a fomentar projetos de alternativas energéticas, tecnologias limpas e manejo florestal.

Os pequenos e médios empresários que se candidatam à obtenção de financiamento pelos fundos ambientais de investimento reclamam que não conseguem ser atendidos pelos bancos tradicionais, que preferem emprestar dinheiro a projetos desvinculados de compromissos ambientais, aparentemente por temer pelo retorno do capital emprestado.

Em outubro do ano passado o Banco do Brasil chegou a abrir uma linha de crédito destinada a financiar projetos de agricultura orgânica, mas não conseguiu motivar os produtores, aparentemente em razão de dificuldades para definir um cronograma de retorno dos investimentos.

Fundo Bioamazônia

O Fundo de Investimento Ambiental Bioamazônia já conseguiu levantar US$ 1,2 milhão de recursos do BID, das Nações Unidas e da própria ONG que tem o mesmo nome, cujos projetos de pesquisas deverão receber financiamento com dinheiro do fundo.

Continua na página seguintedas em financiar projetos ambientais das mais diversas modalidades, inclusive nas áreas industrial e agrícola, já têm onde conseguir o dinheiro: bastará procurar um dos fundos ambientais que estão operando no mercado.

Esses fundos constituem, também, uma excelente opção para quem quer aplicar seus recursos e pretende dar a eles uma destinação "limpa", pois oferecem aos seus aplicadores uma remuneração igual ou até melhor do que as dos fundos em geral.

A Bioamazônia ocupou recentemente o noticiário da mídia, ao ser praticamente obrigada a revogar um contrato que havia assinado com a multinacional Novartis, para pesquisas envolvendo a biodiversidade da Amazônia. 

A Novartis, que é uma associação dos laboratórios Ciba – Geigy e Sandoz, foi acusada de tentar transferir para o exterior material biogenético recolhido na floresta amazônica, provocando uma reação no Congresso Nacional, da qual resultou o cancelamento do contrato.

Mas o Fundo Bioamazônia não desistiu. Segundo Forgách, com a participação de governos e empresas multinacionais, ele poderá levantar até US$ 150 milhões, inclusive em forma de doações, face ao grande interesse despertado pelas indústrias em todo o mundo pelas pesquisas de biotecnologia na Amazônia.

Quem vai comandar esse programa é André Guimarães, que recentemente deixou o Banco Mundial para dedicar-se ao Fundo Bioamazônia.

Fundo Florestal

Em fase de construção, o Fundo Florestal deverá levantar recursos da ordem de US$ 100 milhões para financiar projetos de manejo florestal, de interesse de grandes madeireiras nacionais e internacionais que atuam na Amazônia.

Para alavancar o Fundo Florestal, a A2R espera a participação de fundos de pensão e de fundações brasileiras, interessadas na rentabilidade do negócio. Empresas descapitalizadas, embora detentoras de ativos, poderiam também integrar o Fundo Florestal.

Há a possibilidade de uma ação articulada do Fundo Terra Capital e do Fundo Florestal, para o financiamento de projetos no Acre e no Amapá. Negociações nesse sentido já estão sendo desenvolvidas com os governos dos dois Estados. Enquanto o Fundo Florestal financiaria projetos de manejo, o Terra Capital investiria em projetos de ecoturismo, bioprospecção, piscicultura e aqüicultura que o Acre e o Amapá não desenvolvem por falta de capital.

Os recursos do Fundo de Energias Renováveis poderão chegar a US$ 35 milhões, os quais serão destinados ao financiamento de pequenas usinas termelétricas que utilizarão como combustível aparas de madeira e serragem, fornecidas por madeireiras que atuam na Amazônia.

Finalmente, em parceria com o BID, a A2R estuda a criação de um fundo destinado a promover tecnologias que evitem desperdício. A constituição desse fundo está em fase embrionária, mas os dirigentes da A2R acreditam que surgirão tanto ofertas de recursos como projetos para receber financiamento.

Mais informações:
Terra Capital – www.terra-capital.com.br