Gestão ambiental

Lixão vai dar lugar ao verde

3 de março de 2004

Projeto do Governo do DF atende ampliação da Reserva da Biosfera do Cerrado

 






Na era dos descartáveis, a tristeza do lixão da Estrutural


Brasília vai ganhar mais verde e a reserva ecológica do Parque Nacional de Brasília vai ficar mais fortalecida. Isto porque o aterro de lixo da Estrutural vai desaparecer em dois anos. A área de 196 hectares ocupada pelo “lixão” vai se transformar em floresta. A proposta foi apresentada pelo governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, ao Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho.


O governador Joaquim Roriz enviou carta ao ministro explicando sua decisão de acabar com o “lixão” e de incorporar a área ao Parque Nacional de Brasília. A proposta do governador atende à ampliação da Reserva da Biosfera do Cerrado, anunciada, recentemente, pela Unesco. 


A iniciativa do governador do DF se junta a muitas outras implementadas no país, que têm como objetivo conter a contaminação do solo. 


Na carta enviada ao ministro Sarney Filho, Joaquim Roriz pede que sejam indicados técnicos para compor um grupo de trabalho que orientará não apenas os estudos ambientais, mas também a execução do plano de encerramento do aterro. “A proteção do Parque Nacional é para nós um compromisso por dever de coerência na construção de nossa história para com o meio ambiente”, defende Roriz. 


Para o gerente do programa Brasil Joga Limpo, do Ministério do Meio Ambiente, Maurício Andress, os “lixões” são um problema nacional, porque ainda não há destinação adequada. Para ele o ideal é a criação de mais aterros sanitários e usinas de compostagem. “Esses aterros visam controlar a poluição. O lixo se decompõe e cria um líquido, o chorume, que afeta os cursos de água, como o lençol freático, infiltrando-se no solo”, afirma, avisando que é aí que está o perigo da contaminação. 


A preocupação é tanta que a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental promoveu um seminário em Recife (PE), neste mês, tendo como principal proposta a erradicação nacional dos lixões. 


De acordo com Maurício Andress, nos outros estados o problema é tratado por cada município. “Tem muito município já adotando medidas para regularizar seus lixões e criar aterros sanitários”. Ele explica que para a cidade ter esse tipo de destino final é preciso obter a licença ambiental junto aos órgãos ambientais estaduais. O projeto precisa passar por uma análise do impacto ambiental, assim como as medidas para diminuir ou eliminar os impactos negativos no meio ambiente. “As usinas e aterros devem estar de acordo com a legislação ambiental. No caso de Brasília, se a proposta do governador atender a legislação, pode ser um bom exemplo para outros estados”, afirma Andress. 


Lixão da Estrutural


Durante 30 anos o lixão é tido como ameaça para a reserva ecológica do Parque Nacional de Brasília. Situado numa área próxima ao Parque Nacional, o lixão é considerado um câncer ambiental. Existe a ameaça, embora especialistas não tenham confirmado o risco. 


Até o final do mês de dezembro o Governo do Distrito Federal lança licitação para escolha da empresa que vai preparar a área para a criação da mais nova floresta do DF.


O objetivo é acabar com o lixão para eliminar completamente os riscos de contaminação do Parque Nacional, uma área de 30 mil hectares, uma das mais importantes da região. 


O projeto do governador não tem como meta remover o lixão, mas tratar os resíduos aterrados e cobrir a área com mata. 


Para acolher o lixo que é jogado no lixão da Estrutural, serão criadas novas áreas – os aterros sanitários, que oferecem menos risco ao meio ambiente. A orientação caberá à empresa de consultoria responsável pela criação da nova floresta. O trabalho de desaparecimento do lixão será acompanhado de perto por técnicos da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Companhia de Abastecimento de Brasília (Caesb) e pelo Serviço de Ajardinamento e Limpeza Urbana de Brasília, (Salub). 


O subsecretário de Meio Ambiente, Fernando Fonseca, explica que os resíduos orgânicos levados para o lixão, passam por um sistema de tratamento. “Principalmente o gás natural, que é conduzido em tubos até a superfície e depois queimado, para eliminar os riscos de explosão. 


O lixão, embora coloque em risco o Parque Nacional, desde o início de 1999 passou por uma transformação. “Antes os resíduos eram jogados a céu aberto. O lixo foi aterrado e agora passa por um tratamento, atingindo quase a fase de aterro sanitário”, explicou Fernando Fonseca. 


No caso do chorume – líquido do lixo orgânico – é conduzido a uma lago impermeabilizado, completando um processo de purificação . “Nosso objetivo é fazer o controle da qualidade deste material”, esclarece Fonseca. 


Sobrevivência do lixo


O que não serve para uns é “ouro” para outros. No lixão da Estrutural homens e mulheres dividem espaço com as máquinas. Coleta de plásticos, papel e latas garante a sobrevivência de 3 mil pessoas. Mas destes, apenas 530 são cadastrados no lixão. Duzentos e cinquenta trabalham no local e outros 280 trabalham organizados em cooperativas, operando em usinas de reciclagem do GDF. Apesar das condições precárias, mau cheiro e falta de higiene, os catadores de lixo defendem seu espaço de trabalho. Com a extinção do lixão está sendo estudada a reintegração destes trabalhadores em outras áreas.


Proteção ao ecossistema


Para o secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Antonio Barbosa, o fechamento do lixão da Estrutural vai ser favorável ao ecossistema por estar nas proximidades do Parque Nacional de Brasília. “A proteção e a preservação do local têm um significado especial para todos que tratam da política ambiental e de recursos hídricos. Ali estão mananciais como a barragem de Santa Maria, que junto com a do Descoberto, constitui dois terços do abastecimento de água potável do Distrito Federal”.


Segundo Antonio Barbosa, ao desativar o lixão e florestar a área, haverá um ganho extraordinário do ponto de vista do meio ambiente e dos recursos hídricos. “Essa medida do governador Joaquim Roriz vem demonstrar o empenho que ele tem com estas questões”.