Lixo, saúde e ambiente

A era dos descartáveis: o que fazer com tanto lixo?

3 de março de 2004

Empresas e prefeituras começam a implantar programas de coleta seletiva para favorecer a reciclagem

 


     A verdade sobre o lixo é simples e definitiva: o homem parece desconhecer o desastre ecológico que começa na porta de sua casa. Veja bem: a Terra tem hoje 6 bilhões de habitantes e a população vai aumentando geometricamente. Pior: a produção de lixo aumenta muito mais, num processo que começou a partir da Revolução Industrial, no século XVIII. O novo milênio chega com novos produtos no mercado, o consumidor busca comodidade e as indústrias buscam maior lucro. Aí começa a sofisticação das embalagens. Cresce o uso de produtos movidos a bateria e pilhas. Computadores e aparelhos domésticos que ano a ano vão ficando obsoletos, as propagandas que induzem às novidades e ao consumismo. O resultado é um só: o descarte aumenta, depósito de sucatas e os lixões vão virando uma triste realidade nas cidades, com sérios prejuízos à saúde e ao ambiente. A gravidade do problema vai além do lixo doméstico, pois se for falar no lixo industrial, nuclear, comercial, hospitalar, tratamento de esgoto e até o lixo espacial, aí o bicho pega! O fato é que lixo, saúde e meio ambiente andam juntos. Daí a importância de se incentivar a coleta seletiva e a reciclagem, o que vai representar economia de matéria-prima e de energia fornecida pela natureza. O que o homem vai ter que mudar? Sobretudo o conceito de lixo, que deve ser entendido de uma outra forma: o descarte de material que pode ser útil e reaproveitado, de alguma forma, pelo próprio homem. Mas, iniciativas isoladas para o problema do lixo existem em algumas comunidades, prefeituras e empresas. E o fato é que essas iniciativas devem ser incentivas pelo poder público e cobradas pelo cidadãos responsáveis, pois esse desafio está colocado para o homem de 2001: como administrar o lixo na era dos descartáveis.


O que é coleta seletiva


Não é fácil equacionar o problema do lixo. Além de requerer investimentos por parte do poder público, há que se conseguir uma forte adesão da sociedade, inclusive, com uma mudança de postura e comportamento. São várias as etapas para se ter uma solução definitiva e tudo deve ter início na coleta seletiva. Até mesmo quando se estuda a destinação final e reaproveitamento de entulho proveniente da construção civil, destinado ao desenvolvimento de novos materiais. Mas o que é coleta seletiva? A coleta seletiva é, com certeza, o programa mais importante quando se quer administrar de verdade esse problema chamado lixo. Ela consiste na separação dos restos, produtos e materiais que vão ser destinados ao lixo. Esse processo pode ser iniciado nas residências e deve ser estendido aos escritórios, fábricas, supermercados, shopings e todo tipo de estabelecimento que queira participar de uma campanha dessa natureza. O que vale é uma boa orientação e um engajamento efetivo da população.


É importante destacar que não adianta nada fazer a coleta seletiva se o município não montar uma infra-estrutura adequada para armazenar, utilizar e comercializar os produtos recolhidos.











Tempo de decomposição


Materiais usualmente jogados no lixo


Produtos que poluem e contaminam







Pilhas contém metais pesados







Bateria de celular contém cádmo e material radioativo.


 





















ORGÂNICOS
papel, papelão, plástico, isopor, madeira, restos de alimentos, tecidos




INORGÂNICOS
metal, vidro, areia, terra, pedras



 



BIODEGRADÁVEIS
papel, papelão, restos de alimentos, tecidos





NÃO-BIODEGRADÁVEIS
borracha, plástico, isopor


Usina de Santa Cruz faz coleta seletiva


Experiência bem sucedida de Furnas, em Santa Cruz, pode ser ampliada para outras unidades da empresa


A Usina Termelétrica de Santa Cruz, foi pioneira entre as unidades de Furnas, e implantou o programa de coleta seletiva em suas dependências. Como conseqüência, a comunidade próxima à usina vive uma nova mentalidade, pois os próprios empregados de Furnas divulgam o conceito junto a familiares e amigos. 


A logística do projeto foi baseada na instalação de pontos coletores atendendo à demanda do lixo reciclável previamente quantificada da seguinte forma: 




  • 10 pontos com containers de 260 litros (plástico, papel, alumínio e vidro), na área externa; 



  • 10 pontos com papeleiras de 50 litros (plástico, papel, alumínio e vidro), na área interna; 



  • 1 ponto com papeleira de 50 litros (pilhas e baterias), no corredor administrativo; 



  • 1 ponto com lixeiras de 150 litros (plástico, papel e alumínio), no restaurante; 



  • Pontos com lixeiras de 11 litros (plástico, papel e lixo comum), em todas as salas administrativas e 



  • 10 pontos com amassadores de latas de alumínio, ao lado das papeleiras de 50 litros.


Parceria com UERJ


Para a conscientização dos empregados, foi criada uma parceria com instrutores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, implementadores de projetos de reciclagem em escolas de diversas comunidades do Rio e Niterói. Foram ministradas palestras de formação de multiplicadores, que junto com os coordenadores possuem o papel de divulgação do projeto a todos os empregados, gerando a cultura da reciclagem dentro da empresa. Paralelamente, todo o pessoal responsável pela limpeza recebeu o curso de instrução de coleta e separação de materiais. No total, foram capacitados 152 empregados, envolvendo coordenadores, multiplicadores, colaboradores e encarregados da limpeza. 


Além das palestras, o processo de conscientização teve outras formas de abrangência: concurso de logotipo, informativos de ações tomadas, eventos (vídeos, gincanas, premiações), divulgação de resultados e fotos da participação dos empregados. Sempre com o cuidado de não se estar criando material a ser reciclado. O sucesso do projeto foi atestado na I Gincana Ecológica, realizada em 1999, durante a festa de confraternização de fim de ano, que contou com a participação de cinco equipes e 15 coordenadores. O evento arrecadou 6.214 kg de materiais recicláveis, 1.665 kg de alimentos não perecíveis, 1.657 brinquedos e 4.144 peças de roupas. Os beneficiados desta iniciativa foram: o pessoal da limpeza e do restaurante, que recebeu 72 cestas básicas abastecidas com parte dos alimentos arrecadados; 11 ONGs que estão situadas nas comunidades próximas à usina, que cuidam de crianças, idosos e carentes e o grupo SOS Vida. No início deste ano, foi realizada a primeira venda de materiais recicláveis. 


Os resultados obtidos e os valores arrecadados estão sendo revertidos em melhorias nas condições de trabalho e bem-estar dos empregados. O processo de conscientização do pessoal da usina é contínuo e necessário. Outras áreas de Furnas já estão participando do processo e enviando para a Usina de Santa Cruz os materiais a serem reciclados. 


O lixo urbano


Nas últimas três décadas, a geração de lixo vem assumindo proporções que tornam este assunto uma das principais preocupações dos governantes. Dados recentes mostram que enquanto a população mundial cresceu 18%, entre 1970 e 1990, a geração de lixo aumentou 25%. Tal tendência aponta para um quadro de sérios problemas ambientais em um futuro bem próximo, visto que, a composição do lixo gerado por dia é diversificada e apresenta tempos de decomposição diferentes e elevados.


Cada pessoa produz, em média, entre 800 gramas e 1 kg de lixo por dia, ou de 4 a 6 litros. Uma cidade como São Paulo gera, aproximadamente, cerca de 15.000 toneladas ou 75.000.000 litros de lixo por dia.


No Brasil perde-se anualmente, no mínimo, em torno de R$ 4,6 bi quando deixamos de reciclar o lixo que produzimos. Quase R$ 1 bi desse total diz respeito ao desperdício de energia elétrica.


Mais informações: (21) 528-5219