Proteção de mananciais

Mananciais do RJ estão comprometidos

3 de março de 2004

O lixo e o esgoto, no Rio de Janeiro, comprometem mananciais, as lagoas, as praias e a vida






O que parece um grande container de embalagens de plástico é 
apenas o rio Faria Timbó. Com o aumento do nível das águas, a
 ponte represou o lixo e o rio ficou literalmente engarrafado.


A regra vale para Minas, para a Amazônia, para a Europa, para os EUA e para o Rio de Janeiro: quem, hoje, não protege seus mananciais por bem, amanhã vai ter que preservá-los por mal. Os mananciais, os rios, os lagos, os recursos hídricos, enfim, requerem proteção especial. Isso se chama gestão adequada. O repórter João Carlos Leal, do Jornal do Brasil, fez uma reportagem muito importante em 28 de janeiro sobre o descaso dos cariocas para com os mananciais. O JB mostra muito bem que em qualquer lugar do mundo a chuva é sinônimo de reservatórios cheios e fartura de água. Menos no Rio. E prova que nos últimos 30 anos as chuvas têm obrigado a estação de tratamento da Cedae, no Rio Guandu, a simplesmete desistir de captar a água imunda que escoa em direção à Baía de Sepetiba, pois o nível de poluição do rio, que supre 80% da região do Grande Rio, chega a ser tão alto que torna o tratamento impossível. Vale mais a pena deixar a sujeira passar.


O lixo, a poluição industrial, o desmatamento, o adensamento populacional – mas sobretudo a total falta de gestão dos recursos hídricos – estão fazendo um estrago terrível: as nascentes estão morrendo, as lagoas agonizando e os rios estão minguando. Em Maricá, por exemplo, o Rio Ubatiba, de onde a Cedae retira água para abastecer a população perdeu mais de 50% de sua capacidade. Os 50 litros por segundo, que o Ubatiba dava para a estação de tratamento, não passam hoje de 22%. E aí a mesma população que sujou e poluiu começa a sofrer com a falta d}água e a pagar muito mais caro pela água dos carros pipa.


Duas verdades: primeiro, as nascentes são sempre de águas limpas, mas à pureza das águas vai diminuindo a medida que elas encontram o homem pela frente. Segundo, a água tratada significa qualidade de vida. Mas para essa água ser boa para a saúde e chegar até as residências ela tem que ser muito bem tratada. E esse é um processo que envolve grandes investimentos, pois requer: captação, pré-cloração, adição de agente coagulante, floculação, decantação, filtração, desinfecção, fluoretação e distribuição.


Guandu agoniza







Ser cidadão é reagir. É lutar pela
 educação e exigir responsabilidade
 das autoridades e dos próprios
 moradores. O descaso traz terríveis conseqüências nas épocas de chuva. 


Em janeiro de 1966, quando o Rio de Janeiro sofreu uma das mais terríveis enchentes de sua história, a Baixada acumulou um índice pluviométrico de 348,9 milímetros. Foram 16 dias de chuva praticamente seguidos. Na Estação de Tratamento do Guandu, os funcionários da Cedae registraram: 1.010 UT (unidade de turbidez), uma alta concentração de partículas em suspensão na água. Em janeiro de 1999, 33 anos depois, 12 dias de chuvas e apenas 202 milímetros acumulados no mês, fizeram chegar à estação uma água com 1.310 UT.


O Guandu, de onde são tirados por segundo 41 mil litros de água, agoniza. A cada ano, novas comunidades se implantam às suas margens e à beira dos afluentes próximos ao ponto de captação da Cedae. A cobertura vegetal some e o volume de despejo de esgoto e detritos aumenta. “A bacia hidrográfica do Guandu está sendo agredida pelo crescimento desordenado da Baixada Fluminense”, reclama o diretor operacional da Cedae, Flávio Guedes.


Em janeiro de 1999, lembra o diretor, a empresa precisou gastar 3.000 litros de água por segundo apenas para lavar os filtros da estação. E hoje, conta Guedes, basta chover um pouco e a estação é entupida por tudo: pneus, embalagens plásticas, esgoto e até corpos humanos. Em alguns dias, a quantidade de sujeira é tamanha que a empresa não tem como tratar a água e prefere deixar o rio seguir seu caminho. “Aos poucos, o rio Guandu está perdendo a confiabilidade”, lamenta Guedes.


Para compensar a queda da qualidade da água que chega à estação de tratamento, a Cedae está sendo obrigada a investir ainda mais no controle interno. Dos 80 pontos de monitoramento de qualidade da água em tratamento, a estação passará, em março, a ter 900 pontos. Todos automáticos e ligados a um Centro de Controle Operacional. “Estamos deixando de ter um monitoramento artesanal. Trabalhamos com um volume tão grande que só mesmo automatizando o processo para garantir a qualidade”, explica o diretor.


E, a despeito de como chega a água do Guandu – que já vem de um rio igualmente poluído, o Paraíba do Sul – Guedes garante que a água do rio, tratada com doses cada dia maiores de química, ainda é uma das melhores do país. Mas alerta que há um limite para o tratamento. “O Guandu precisa mudar. Do jeito que está virou uma lixeira”, afirma. (Jornal do Brasil – Pag. 18 – 18/01/01)