Mata Atlântica

ONGs tentam barrar destruição da Mata Atlântica

3 de março de 2004

Busca do desenvolvimento sustentável estimula a exploração de madeira e produção de palmito, xaxim e ervas medicinais


    Os 2,2 milhões de hectares existentes há 55 anos foram reduzidos para 130 mil hectares. Foi a maior destruição de um sistema em trópico úmido, sem fazer a substituição das matas por florestas de cultivos, para fixar o homem à terra. A ação devastadora não respeitou a fisiografia ecológica, os morros, vertentes de vegetação, matas ciliares (ribeirinhas) e as bacias de captação hídricas atingindo o solo com erosão e o assoreamento de rios navegáveis, como o Jequitinhonha, e o rio Doce, hoje cortados por bancos de areia. 

A Mata Atlântica, considerada uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo, foi tema de discussão do Forest 2000 – VI Congresso e Exposição Internacional sobre Florestas – em outubro, no Centro de Convenções de Porto Seguro-Bahia. Profissionais de diversas áreas, do Brasil e do mundo, discutiram o desenvolvimento sustentável das florestas dentro das óticas técnica, política, científica, econômica e social. 


Apesar de um histórico de devastação, em alguns trechos remanescentes de Mata Atlântica, a riqueza das espécies animais e vegetais é surpreendente, com níveis de biodiversidade considerados os maiores do planeta. Para barrar a exploração predatória, governos e ONGs tentam estimular o desenvolvimento sustentável com ações para promoção do ecoturismo, o controle da exploração madeireira e o manejo sustentável de produtos não-madeireiros, como o palmito, xaxim e ervas, entre outros programas. 


Destruição


Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, quando o Brasil foi descoberto, em 1500, a mata cobria uma área superior a 1,3 milhão de quilômetros, distribuídos por 17 estados e ocupando cerca de 15% do território nacional. Hoje, seus remanescentes correspondem a menos de 8% de sua área original. 


O Atlas da Evolução dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas Associados da Mata Atlântica 1990-1995, produzido pelo SOS Mata Atlântica, em convênio com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), apontou um desmatamento de 500 mil hectares de mata, naquele período. 


As estatísticas indicam que mais de 70% da população brasileira vivem na região da Mata Atlântica. Além de abrigar a maioria das cidades e áreas metropolitanas do país, a área original da floresta sedia grandes pólos industriais, petroleiros e portuários, respondendo, de acordo com o WWF, por nada menos que 80% do PIB nacional. 


Sul da Bahia


Em recente encontro de especialistas, realizado em Ilhéus, Sul da Bahia, para discussão sobre manejo e conservação do solo e da água, foram divulgadas informações sobre a estúpida e crescente devastação da Mata Atlantica. Os 2,2 milhões de hectares existentes há 55 anos foram reduzidos para 130 mil hectares. Da cidade de Belmonte até a divisa com o Espírito Santo, a Bahia perdeu uma área do tamanho do estado de Alagoas, devastada predatoriamente para a exploração de madeira. A derrubada de árvores de forte sustentação ambiental retirou os nutrientes do solo e as queimadas para a implantação de pastagens, realizadas sem qualquer técnica de manejo, agravaram os problemas para o uso dos solos. 


Segundo Luiz Ferreira da Silva, ex-chefe do Centro de Pesquisa do Cacau e autor do livro “Terras avistadas por Cabral – Mata Atlântica: 500 anos de devastação”, essa foi a maior destruição de um sistema em trópico úmido, sem fazer a substituição das matas por florestas de cultivos, para fixar o homem à terra. A ação devastadora não respeitou a fisiografia ecológica, os morros, vertentes de vegetação, matas ciliares (ribeirinhas) e as bacias de captação hídricas atingindo o solo com erosão e o assoreamento de rios navegáveis, como o rio Jequitinhonha e rio Doce, hoje cortados por bancos de areia. Em razão do relevo acidentado e dos bons solos, o homem primitivo utilizou bem a floresta no sul da Bahia, implantando a cacauicultura. Adverte, no entanto, que a cobertura vegetal que sombreia o cacau não pertence mais à Mata Atlântica, mas ao sistema de agricultura multifuncional, onde o cacaueiro é o centro. Para ele, a vassoura-de-bruxa não é o fim do cacau, que já encontrou nos clones de alta resistência uma forma de enfrentá-la. Todavia explicou que os clones são um material genético nobre e por isso mesmo mais exigente, precisando de outras condições de desenvolvimento, como maior luminosidade. Isso significa que é preciso retirar algumas árvores de sombra, para que a luz solar penetre além da copa do cacaueiro, indo até o chão. 


História


A história da devastação e exploração vegetal começou no século XVI, com a extração do Pau-Brasil, utilizado para tintura e construção. Em seguida, com o ciclo da cana-de-açúcar, que exigia a devastação de grandes extensões da mata para dar lugar às plantações. Mais tarde, no século XVIII, as jazidas de ouro atraíram levas de imigrantes para o interior do país, provocando a destruição característica do garimpo e da construção de cidades e estradas. Assim, de canto em canto, na corrida para a ocupação do interior deu-se, também, a implantação da agricultura e pecuária, levanto o desmatamento até os limites com o cerrado. O século XIX foi marcado pelo café, que desenvolveu cidades e sustentou o Brasil, gerando riquezas. Depois, foi a vez da extração da madeira para exportação e fornecimento de matéria prima para a indústria do papel e celulose. 


A história não mudou e a devastação continua, sob disfarces diversos. As conseqüências podem ser medidas na ameaça de extinção de inúmeras espécies da fauna e da flora da região. 


Mais informações:
SOS Mata Atlantica 
Fone: (11) 887-1195 
e-mail [email protected] 
Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia: (71) 240-6822
 ou [email protected]