Guerra ao narcotráfico

Colômbia promete não usar desfolhantes

4 de março de 2004

Ação de agentes químicos contra narcotráfico preocupa ambientalistas brasileiros

 

 

      A garantia do governo colombiano de que não permitirá o uso de fungos e outras armas biológicas, para atacar e matar as plantações de coca e papoula, não foi suficiente para desmobilizar as organizações não-governamentais e as autoridades ambientais: todos estão preparados para reagir, caso o Plano Colômbia, patrocinado pelos norte-americanos, decida transformar a floresta amazônica em novo Vietnã.

 

São cultivados na Colômbia 120 mil hectares de coca e 17 mil hectares de papoula de onde se extrai a heroína. Essa plantação garante uma oferta de 80% do consumo de cocaína e heroína nos Estados Unidos. Daí o apoio dado ao governo colombiano pelo presidente Bill Clinton, ao contribuir com US$ 1,3 bilhão para o Plano Colômbia, que prevê investimentos de US$ 7,5 bilhões nos próximos anos, não só para acabar com a produção de cocaína e heroína e sua comercialização, como, de quebra, enfrentar o terrorismo, que se associou aos narcotraficantes.

No Congresso

Apesar dos desmentidos oficiais, sabe-se que um item do Plano Colômbia, elaborado com a participação norte-americana, prevê a utilização de produtos químicos para matar os milhões de pés de coca e papoula.

Daí tornar-se inevitável a comparação com o Vietnã, onde os Estados Unidos, a pretexto de desalojar os vietcongs da floresta, utilizou largamente o chamado agente laranja, um desfolhante de ação imediata, cujo efeito era provocar o apodrecimento e a queda das folhas das árvores, tornando mais fácil visualizar, de helicóptero, os esconderijos dos vietcongs.

Tanto na Câmara dos Deputados como no Senado, parlamentares de todos os partidos manifestaram preocupação com a possível vietnamização da floresta colombiana, sobretudo face à possibilidade do uso de desfolhantes atingir a parte brasileira da floresta amazônica. O Brasil tem com a Colômbia uma fronteira de 1.600 quilômetros de floresta densa, onde é rigorosamente impossível definir onde termina o território de um país e começa o do outro.

A senadora Marina Silva, do PT do Acre, insiste que o Brasil assuma uma posição clara contra o uso dos fungos, lembrando que a utilização de produtos químicos pode provocar a poluição dos rios, lagos e igarapés dos países vizinhos da Colômbia, inclusive o Brasil.

Os senadores Jefferson Peres, do PDT do Amazonas, Pedro Simon, do PMDB do Rio Grande do Sul, Roberto Requião, do PMDB do Paraná, Bernardo Cabral, do PFL do Amazonas e Geraldo Cândido, do PT do Rio de Janeiro, também se manifestaram no plenário do Senado contra a ameaça proveniente do Plano Colômbia.

O representante gaúcho pediu que o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senador José Sarney, convoque uma reunião extraordinária da comissão para debater os efeitos ambientais de uma eventual utilização de produtos químicos na floresta amazônica colombiana.

Segundo Simon, em sua recente viagem à Amazônia, foi informado por um general brasileiro sobre a existência de um quartel de treinamento norte-americano na Guiana. 

Na Câmara, mais de vinte parlamentares se manifestaram sobre a ameaça ao meio ambiente embutida no Plano Colômbia. Além da questão do desfolhamento, eles se preocuparam com a possibilidade de que milhares de integrantes das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas – FARC – o grupo terrorista que há anos luta pelo poder na Colômbia, seja tentado a ingressar em território brasileiro, fugindo da perseguição em seu país.

Fusarium oxysporum 

Lideranças ambientalistas no Congresso suspeitam que a utilização de fungos para matar os pés de coca e papoula é a parte mais secreta do Plano Colômbia. A arma química utilizada seria o Fusarium oxysporum , um fungo que infecta a planta através da raiz, provocando a sua morte.

O problema é que não existe segurança quanto à abrangência dos ataques do fungo. Pesquisas realizadas em meados da década passada revelaram que o Fusarium pode atingir outras plantas, e mais do que isso: como tem longa vida, o fungo pode sofrer mutações, infectando indistintamente todas as plantas que estiverem ao seu alcance.

Com a intenção de "vender" a idéia de utilização do fungo, autoridades colombianas vêm afirmado que o Fusarium oxysporum é nativo da Colômbia. Em conseqüência, só produziria danos diretamente nas plantas por ele infectadas.

Contudo, na semana passada, o senador colombiano Rafael Orduz denunciou os preparativos secretos para uma guerra biológica na floresta colombiana, afirmando que "o uso de fungos, estrangeiros ou nativos da Colômbia, pode ter efeitos nefastos sobre a saúde humana e o meio ambiente num dos países mais ricos em biodiversidade do mundo".

Apoiando Orduz, cerca de 50 professores, técnicos e pesquisadores da comunidade científica colombiana enviaram uma carta ao presidente Andres Pastrana manifestando preocupação com a ameaça de utilização de fungos na floresta amazônica do país.