Natureza e História se enlaçam em Natividade
3 de março de 2004Cidade do Tocantins oferece piscinas naturais e um acervo arquitetônico colonial bem conservado
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Uma relíquia assentada entre as belas vertentes da Serra Geral. Sucintamente, assim é a cidadezinha de Natividade, uma das poucas reminiscências urbanas bem preservadas do surto minerador ocorrido entre os fins do século XVII e a primeira metade do XVIII no interior mais profundo da América portuguesa, onde hoje está o estado do Tocantins. Pacata e pouco conhecida, a cidade é recomendada para viajantes que buscam paz, arquitetura colonial e natureza, tudo num lugar só.
Fundada em 1734 por Antônio Ferraz de Araújo, sobrinho do sertanista paulista Bartolomeu Bueno da Silva, Natividade é um dos últimos povoamentos surgidos em torno da prospecção de ouro aluvionar, cujo ciclo se iniciou nas Minas Gerais nos últimos anos do século XVII e empurrou a fronteira da imensa colônia portuguesa para os inóspitos cerrados do Brasil central. Junto com Porto Real (hoje, Porto Nacional) e Arraias, tornou-se uma das cidades mais a oeste da colônia, numa época em que sua ocupação se resumia a minguados povoados e centros urbanos litorâneos.
Patrimônio nacional
Registros históricos fornecidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) mencionam a existência de dois arraiais simultâneos que deram origem à Natividade. Um, o arraial de São Luiz, levantado no alto da serra de mesmo nome, que praticamente se precipita sobre o outro, na base da montanha, onde está a sede do município. Uma visita ao alto da serra é indispensável, não só para conhecer as ruínas do arraial de São Luiz, mas também para usufruir das cachoeiras, piscinas naturais (chamadas pelos nativitanos de “poções”) e paredões de pedra que integram sua paisagem. Há, inclusive, trilhas calçadas com pedras pelas quais escravos transportavam o produto da lavra.
Lá embaixo, a rusticidade dos prédios públicos, igrejas e residências testemunham a existência de uma sociedade de efêmera riqueza. O registro de uma “contagem” – posto de fiscalização de animais em trânsito – e o predomínio de uma população de ascendência afro são indicadores da vitalidade de seu passado minerador. Felisberta Pereira, guia turística local, assegura que Natividade chegou a ter 40 mil escravos em seus tempos mais prósperos. Teve ainda papel político relevante, por sediar temporariamente o governo da Comarca Norte na primeira iniciativa para cindir a grande província de Goiás, em 1809.
As igrejas Nossa Senhora da Natividade, onde jaz uma imagem barroca do século XVIII, e de São Benedito, ambas restauradas, mais a cadeia pública e o Palácio do Ouvidor, são visitas recomendadas. Um de seus monumentos mais impressionantes, no entanto, é a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, cuja construção, empreendida por negros livres, foi interrompida pela decadência da mineração, ainda no século XVIII. A relevância histórica de Natividade foi reconhecida pelo Iphan em julho de 1987, quando a integrou ao conjunto de sítios do país oficialmente tombados. A cidade foi recentemente escolhida para receber recursos do Monumenta, um programa de revitalização de monumentos e sítios históricos financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Deve, assim, se aprimorar para receber turistas interessados em sua história e natureza generosas.
Como chegar e onde ficar
Partindo de Brasília, o acesso a Natividade se dá pela rodovia GO-118, a mesma que conduz ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Esta conecta-se à BR-010 antes de alcançar a divisa Goiás-Tocantins, onde vira TO-050, chamada Rodovia Coluna Prestes. São cerca de 600 km de estradas asfaltadas, em condições razoáveis, ladeadas por belas serras e um cerrado exuberante. Quando à hospedagem, o Hotel Serra Geral, no trevo Norte da TO-050, é muito confortável e está localizado de frente para uma das vertentes da serra que lhe dá nome.
Mais informações:
(63) 372-1160 ou 372-1207