Pataxó luta pela terra e pela natureza

4 de março de 2004

Anai denuncia manobra da Funai em favor de empresários da região

Depois do corpo mole da Funai com a questão das terras, no Sul da Bahia, os Pataxó das aldeias da região do Monte Pascoal vem ocupando as fazendas São Vicente, São Brás e Boa União; Conjunto Agropastoril Olinda e Fazendas Reunidas Nova Esperança numa extensão de 2.538 hectares, o maior domínio privado dentre os invasores do "território pataxó" . A denúncia, feita pelo diretor-secretário da Anai – Associação Nacional de Ação Indígena-Bahia, José Augusto Laranjeiras Sampaio veio diante do descaso das autoridades com as causas indígenas, muito bem avaliado depois da repressão durante as manifestações pela polícia da Bahia em abril, dos 500 anos.

Conforme Augusto Sampaio, um dos principais objetivos da retomada é "a proteção do ambiente e recursos naturais" diante da onda invasora do empresário Aluir Tassizo Carletto. Ciente de que área será regularizada como Terra Indígena, o empresário do ramos de transportes e agropecuária vinha desmatando e desviando o curso de rios. Outra razão importante para a retomada, segundo o diretor da Anai é a de pressionar a FunaiI para que dê continuidade aos estudos técnicos para a demarcação da Terra Indígena Pataxó do Monte Pascoal. Ele lembra que desde os acontecimentos do último mês de abril na região, o órgão paralisou completamente as atividades do Grupo Técnico encarregado destes trabalhos. 

Estratégia política

O diretor regional da Anai Bahia acusa, também, o novo administrador Regional da Funai em Eunápolis, Thomaz Wolney de Almeida, de tentar dividir as comunidades pataxó para reduzir o seu território. A estratégia de divisão dos índios articulada por Thomaz, segundo Augusto, consiste em tentar fazer com que representantes de aldeias que já têm pelo menos parte de suas terras demarcadas na área, como Barra Velha e Boca da Mata, ou mesmo de aldeias de fora da área, como Coroa Vermelha e Caramuru, se oponham às reivindicações das comunidades que ainda não têm suas terras garantidas, como Aldeia Nova, Corumbauzinho, Barra do Caí e Guaxuma.O curioso, alerta ele, é que o principal beneficiado por esta "estratégia" do senhor Thomaz seria justamente o senhor Carletto que teria, deste modo, a área da sua invasão excluída do território considerado de posse tradicional indígena. O diretor da Anai – Bahia ressalta que, "além de promover crimes ambientais e de ser um rico empresário, o senhor Carletto é também o candidato à prefeitura do município de Itamaraju nas próximas eleições. 

Augusto Sampaio disse também que a Anai está denunciando "estas manobras escusas" ao Ministério Público Federal e aos deputados estaduais oposicionistas, liderados por Edson Duarte, do PV.