Poço de Carbono: Peugeot afasta práticas agressivas ao ambiente

5 de março de 2004

Montadora diz que sabe fazer carro, por isso buscou empresas especializadas em meio ambiente

 

A Peugeot programou uma entrevista coletiva na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, para afastar denúncias de irregularidades na implantação do Poço de Seqüestro de Carbono, na região de Juruena, norte do estado. Financiado pela montadora francesa com o objetivo de se beneficiar do marketing ambiental, o projeto por pouco não compromete a imagem da multinacional, após denúncias de tentativas de queimadas, de exportação de cerca de 500 quilos de sementes de árvores nativas e da utilização do herbicida Roundup, condenado pelos ambientalistas.


O Coordenador do projeto pela Peugeot, Marc Bocqué, destacou as fases de implantação do Poço de Carbono e evitou explicações sobre as supostas irregularidades. “Não somos especialistas em florestas. Somos construtores de carros. Por isso contratamos empresas que têm experiência com o meio ambiente”, anunciou Bocqué, acompanhado pelos representantes da ONF (Office National des Forêts) e da ONG franco-brasileira, Fundação Pró-Natura, parceiras na iniciativa. 


“A Justiça do país de vocês afastou qualquer prática de irregularidade no projeto”, argumentou o coordenador francês, com um parecer do procurador Domingos Sávio nas mãos, que ainda será examinado pela Justiça do Mato Grosso. “Esse triste assunto está encerrado”, acrescentou. A Procuradoria-Geral do Meio Ambiente de Mato Grosso abriu inquérito para apurar as denúncias apresentadas pelo deputado estadual Gilney Viana (PT). “Nunca acreditei que tivesse ocorrido alguma prática nociva e hoje a Justiça do seu país afastou essa possibilidade”, complementou Bocqué, ao ser pressionado pelos jornalistas. 


Embora não reconheçam as trapalhadas iniciais, os responsáveis pela implantação do Poço de Carbono – que prevê o reflorestamento de 12 mil hectares a longo prazo – tomaram algumas medidas que facilitam as relações com as autoridades brasileiras. Após a divulgação das denúncias, eles contrataram, em setembro de 1999, a Engeflora como consultora. Em janeiro de 2000, 11 meses após o início do projeto, os coordenadores contrataram um técnico florestal brasileiro e apresentaram um projeto ao Ibama, que ainda não foi aprovado. Instalou o Conselho Científico e fez uma parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso. Segundo Bocqué, “os técnicos do Ibama disseram não existir nenhum obstáculo que possa impedir a aprovação do projeto”. 


Falta de projeto


Os pedidos de autorização para queimada na Fazenda São Nicolau – autorizado e não cumprido no prazo determinado, com novo pedido na época da seca – e de exportação de aproximadamente 500 quilos de sementes despertaram a atenção dos técnicos do Ibama, principalmente porque os responsáveis não apresentaram nenhum projeto sobre as atividades no Mato Grosso. Durante a entrevista, ocorrida em 19 de julho, Ambroise Graffin, representante da ONF, afirmou que a legislação brasileira não exige projeto quando se trata de reflorestamento com recursos privados. “A área não será destinada a manejo ou exploração florestal”, explicou. 


Graffin destacou ainda que a queimada e a utilização do Roundup são as técnicas que menos agridem o meio ambiente. “Como o terreno possui relevo, o gradeamento provoca erosão. E se a gramínea não for totalmente eliminada, com o herbicida, impede o crescimento rápido das árvores”. Nas reuniões com os técnicos do Ibama, os responsáveis pelo projeto admitiram desconhecer uma série de medidas. Um técnico que analisa projeto acredita que eles foram mal assessorados. 


Durante a entrevista, Marc Bocqué deixou escapar uma única frase que explica as trapalhadas de seus parceiros: “Reconhecemos voluntariamente que por desconhecimento de mecanismos administrativos tivemos alguns esquecimentos”, admitiu. O representante da Peugeot ressaltou, várias vezes, que as relações com o Governo brasileiro são excelentes. Eles não souberam localizar partes das sementes, que acabaram sumindo. A empresa pretende inaugurar o Poço de Carbono no final deste ano.


Com o projeto, a montadora francesa tenta ser a pioneira na redução de emissão de gases na atmosfera com o reflorestamento. O princípio do seqüestro de carbono foi definido na Conferência de Kyoto (Japão), em 1997. Por esse protocolo, os países industrializados estão comprometidos a reduzir os gases que causam o efeito estufa aos níveis de 1990 até 2012. Para alcançar essa meta, as empresas poderão, no futuro, negociar certificados de redução de emissão de gases no mercado de commodites. 


Marc Bocqué garantiu que a Peugeot não vai negociar títulos de resgate de carbono no mercado. “Não vamos utilizar o crédito do carbono. A empresa não tem objetivo financeiro com esse projeto”. O representante da multinacional afirmou que a principal preocupação é com o efeito estufa. A montadora desenvolveu dois motores, nos últimos anos, que reduzem a emissão de gás carbônico em cerca de 20%. 


A montadora francesa fatura US$ 38 bilhões por ano e está aplicando US$ 11 milhões na implantação do Poço de Carbono, afirmou o coordenador. Em sua opinião, essa diferença mostra que a Peugeot não tem intenções em explorar as commodites de gás carbônico nem em prejudicar a imagem da empresa no Brasil. Bocqué revelou ainda o investimento industrial de US$ 600 milhões no país, com a implantação da fábrica de veículos no Rio de Janeiro.


Mais informações: 
Pegeot: (11) 3044-4966


Resultados após 18 meses de atividades




  • Implantação de um viveiro em Juruena com capacidade de 1,5 milhão de mudas por ano.



  • Produção de 800 mil mudas, plantadas em uma área de 1.200 hectares na fazenda São Nicolau, com taxa de sucesso de 80%.



  • Criação de 75 empregos, no período de pico das atividades, beneficiando a população



  • Promoção de técnicas de reflorestamento com a distribuição de 12 mil mudas a 22 pequenas propriedades rurais.








SUMMARY


Carbon caption well: Peugeot withdraws environmental aggression practice


Assembly plant says that it knows how to make cars, that is why they chose environmental specialists


Peugeot programmed a press conference in the Guimarães Plateau, in Mato Grosso state, to move away accusations of irregularities in the implantation of the Carbon caption well, in the region of Juruena, in the northern region of the state. Financed by the French assembly plant with the aim of benefiting from environmental marketing, the project almost compromised the image of the multinational, after accusations of forest fires attempts, the exportation of about 500 kilograms of seeds from native trees and the use of Roundup, an herbicide declared harmful by environmentalists.


Project Coordinator for Peugeot, Marc Bocqué stated the implantation phases of the Carbon Well and avoided explanations on the supposed irregularities. ” We are not forest specialists. We are carmakers. Therefore we hire companies who are experienced on environmental management”, announced Bocqué, along with the representatives of the French ONF (National Forest Office) and of the Franc-Brazilian NGO, Pró-Natura Foundation, partners in the initiative.


“The Justice system of your Country removed any practice from irregularity in the project “, argued the French coordinator, based on a report from the solicitor Domingos Sávio, that still needs to be examined by the Justice of Mato Grosso state. ” This sad issue is concluded “, he added. The General Attorney of the Environment of Mato Grosso opened an inquiry to verify the accusations presented by state Deputy Gilney Viana (PT).


” I never believed that some harmful practice had occurred and today the Justice of your Country moved away this possibility “, complemented Bocqué, while pressured by reporters.