Combustíveis: o posto e o mico
24 de março de 2004Comprar passivo ambiental pode ser uma profunda dor de cabeça que se transforma em tremenda ?dor de bolso?. O check-up geoambiental é a melhor prevenção
Alguns desses postos possuem tanques muito antigos, outros nem tanto, mas todos considerados como fontes potenciais de poluição devido aos produtos que comercializam e serviços que prestam.
O produto principal, a gasolina, formada por mais de 200 compostos, a quase totalidade muito tóxica, particularmente o benzeno, possui um alto poder contaminante. É armazenada em mais de 100.000 tanques subterrâneos de 20 a 30 mil litros, com dois aspectos relativos a segurança ambiental muito importantes: o tipo/espessura do material constituinte desses reservatórios e o período ocorrido desde sua instalação, independente da sua operação contínua ou não.
O tipo de material, metálico ou não, se refere a sua maior ou menor resistência à corrosão frente aos agentes do subsolo (correntes elétricas, acidez, quantidade de oxigênio, salinidade, flutuações do lençol d’água etc.).
O período de instalação está relacionado ao prazo em que o tanque esteve submetido à ação daqueles agentes.
Assim, conforme as características desses tanques (parede dupla de aço-carbono, revestimento externo reforçado, parede externa não-metálica, proteção catódica, etc.), eles têm maior ou menor durabilidade.
Os tanques com maior confiabilidade passaram a ser exigidos pelos órgãos fiscalizadores recentemente através das normas construtivas e de instalação NBR-13.312 e NBR-13.788.
Impacto Ambiental
Todo esse esforço de melhoria das características conceptivas e na qualidade dos materiais constitutivos, tem sido com o objetivo básico de evitar os vazamentos de combustíveis para o subsolo, particularmente para a água subterrânea. Às vezes esses volumes são difíceis de serem detectados a tempo, principalmente quando são relativamente pequenos, da ordem de 2 a 3 litros por dia, isto é, mais de mil litros por ano. Inclusive não apresentam impacto sensível no bolso do proprietário do posto, que diz até que são desprezíveis quando comparados com os cheques “borrachudos” e os assaltos de rotina (não estamos falando de impostos).
Acontece, porém, que o impacto ambiental advindo dessa “pequena” infiltração no subsolo pode provocar tremenda dor de cabeça ao proprietário do autoposto. Geralmente, a maior não é a de cabeça, mas a ?dor de bolso?.
Conforme as exigências e diretrizes dos órgãos ambientais, principalmente da CETESB, no Estado de são Paulo, constatadas as conseqüências desse vazamento, é obrigatório um diagnóstico hidrogeoambiental do local do posto e do seu entorno, além da instalação de poços rasos de monitoramento, independente de resultados negativos recentes de testes de estanqueidade.
Obedecer a lei é um bom negócio?
É quando a situação pode ficar bastante complicada do ponto de vista legal e econômico.
Legal, porque a Lei nª 9.605, de Fevereiro de 1998, regulamentada em 21/09/99, penaliza com muito rigor os chamados “crimes ambientais” não só o responsável pelo vazamento como todos os envolvidos no assunto, inclusive os próprios fiscais do poder público, envolvendo também assessores técnicos/consultores ambientais contratados pela rede.
O remédio (remediação) para a dor de cabeça pode amargar o bolso do empresário quando o problema ambiental (impacto) for relevante, correspondendo eventualmente num desembolso a fundo perdido, e põe perdido nisso, de 200 mil dólares, ou mais, num prazo que pode ultrapassar 6 meses.
Para um posto de tamanho médio, em ponto comercial razoável, com um valor venal de 400 mil dólares, tendo que arcar com todos aqueles custos, fora a suspensão da comercialização dos seus produtos por alguns meses e o transtorno com as obras no local, reclamações da vizinhança, perda de parte da clientela, marketing negativo, abalo na imagem da bandeira, etc., pergunta-se: É um bom negócio?
O ?mico? do negócio
Para se livrar de um possível “mico”, proprietários de postos estão se conscientizando, agindo rápido e com determinação. Executam um diagnóstico geoambiental expedito do subsolo local (perfurações, análises químicas etc.), para se anteciparem a possíveis problemas ambientais maiores ou até com os órgãos fiscalizadores.
Esses trabalhos, rápidos e de custos reduzidos, podem evitar futuros problemas, particularmente no ramo da comercialização (compra/venda) de postos, extremamente dinâmico e delicado.
A existência de “apenas” um estabelecimento num lote de oito postos, por exemplo, para a ampliação da rede, pode ser a aquisição de um belo “mico” (passivo ambiental) nesse pacote.
Antigamente, caipira inteligente não comprava cavalo sem olhar os dentes. Hoje submete o animal à tomografia computadorizada.
De nada adianta maquiar (reformar) a superestrutura e a pista de um posto antigo e mal-cuidado e esquecer a subestrutura (SASC). Vestir o mico com smoking não vai transformá-lo num cavalheiro elegante e saudável. Pelo menos é o que pensam os órgãos ambientais, cada vez mais atuantes.
Por falar nisso, quem não conhece algum Kin-Kong com treze ou mais bombas, todo reluzente, mas com os pés descalços e enterrados na lama? Com a palavra os interessados.