Um espaço para pessoas especiais
25 de março de 2004Parcerias ajudam deficientes brasileiros a mostrarem sua capacidade de produzir e de vencer preconceitos
As pessoas portadoras de deficiência são “excepcionais” na força de vontade, para vencer limitações. João Pimenta Nunes é cego. O problema visual não impede que ele exerça a função de selecionador de sementes, no Viveiro de Plantas da Novacap. “Fico feliz em saber que as sementes que passaram por minhas mãos cresceram, transformaram-se em plantas e flores que vão enfeitar a cidade”. Seu tato apurado permite que desempenhe bem a profissão. João é um dos 77 deficientes brasilienses que dedicam seus serviços ao Viveiro da Novacap, que fica entre o Núcleo Bandeirante e o Park Way. Aos 27 anos, João trabalha há um ano e oito meses no local. O trabalho é orientado pelo engenheiro agrônomo Saulo Costa Ulhôa. Diariamente, João e seus colegas seguem uma rotina. Chegam ao viveiro às 8h, almoçam ao meio-dia e retomam o trabalho às 13h. O expediente termina às 17h. A função dessas pessoas é produção de mudas e beneficiamento (seleção) de sementes. “O trabalho é bom. É uma terapia e diversão. As pessoas são amigas. O dia passa e a gente não sente”, constata Osmar Fernandes Camargos, 23 anos. O jovem tem o 20 grau completo e sofre de convulsões durante o sono. Trabalha no viveiro há seis meses. “Depois que comecei a trabalhar só tive convulsão uma vez”, comentou feliz, por acreditar que o trabalho é o responsável pela melhora. Pensar em deixar o Viveiro de Plantas em busca de uma profissão e até de um futuro melhor é uma atitude natural. “A partir do momento em que o deficiente se sente útil, ele tem outras necessidades. Sabe o que é ter um salário na mão e o que isso lhe proporciona”, justificou o engenheiro Saulo Ulhôa. Vencendo o preconceito O empenho para que as pessoas portadoras de deficiência ocupem um espaço na sociedade vem do governo e entidades filantrópicas. As parcerias dão a oportunidade para os deficientes mostrarem sua capacidade de produzir e vencer o preconceito. O Viveiro de Plantas da Novacap, criado em 1957, ocupa uma área de 58 hectares. Dos 280 funcionários lotados no órgão do GDF, 77 têm deficiência, que variam entre física, visual e mental. Desse número, 27 são funcionários concursados da Novacap e 50 são beneficiados pelo convênio entre a Novacap e o Centro Espírita Sebastião, o Mártir (CESOM), conhecido como Lar dos Velhinhos. Trata-se de um contrato renovável anualmente, que tem dado bons resultados para ambos. O contrato da Novacap com o CESOM é recente, mas os termos são os mesmos dos anteriores. A diferença entre as entidades filantrópicas fica por conta dos benefícios aos deficientes. “O CESOM traz alimento (almoço), oferece kombi para transporte e já tem intenção de dar cursos para os deficientes”, afirmou o engenheiro Saulo Ulhôa. Os deficientes trabalham na produção de mudas e beneficiamento de sementes, além da produção de sacos para as mudas. Esse trabalho simples requer sensibilidade e atenção, qualidades encontradas nesses deficientes que dedicam oito horas do seu dia para contribuir com a beleza da cidade. Eles recebem 2 salários mínimos (R$ 272) mensais pelo trabalho. A lei, as empresas e os deficientes A inclusão social dos deficientes é ato de cidadania e a Lei 8.213, de 27/07/91, dispõe sobre as empresas que com 100 ou mais empregados devem ter uma percentagem de vagas destinadas a deficientes. Ainda de acordo com a lei, empresas com até 200 empregados, devem reservar 2% das vagas para pessoas deficientes; de 201 a 500 empregados, 3%; de 501 a 1000, 4%; e a partir de 1.001 em diante, 5% das vagas. Um dos órgãos do Distrito Federal que trabalha para que o deficiente exerça a cidadania é a Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), vinculada à Secretaria do Governo do DF. Seu objetivo é a normatização e fiscalização das políticas públicas relativas às pessoas portadoras de deficiência, com a finalidade de assegurar o pleno exercício de seus direitos básicos e a sua efetiva inclusão social. Entre as atividades exercidas estão:
O empenho do CORDE é grande. Tanto que oferece consultoria para que as empresas saibam se preparar e se adaptar para receber melhor o cidadão portador de deficiência. Segundo o último censo, existem 160 mil pessoas com deficiência no DF. A matéria na íntegra você encontra na edição de dezembro/1999 – janeiro/2000 da Folha do Meio
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