Instituto Terra Na contramão do êxodo rural

4 de março de 2004

O fotógrafo Sebastião Salgado implanta ambicioso projeto de recuperação ambiental em sua cidade natal, Aymorés, para conter o fenômeno da desertificação em trecho de Mata Atlântica mineira

      O efeito cruel e dramático da migração do homem do campo para as cidades é a denúncia constante nas fotografias de Sebastião Salgado. Ele registra com imagens especiais toda a dor de indivíduos, vítimas do modelo econômico vigente, que se espalhou pelos quatro cantos do planeta. 

"Pensar na migração é entender a tão falada globalização pelo lado dos globalizados. Todo mundo fala sobre a globalização política, econômica e cultural mas esquece das transformações causadas por esta opção que o mundo fez" alertou Sebastião Salgado.

Pouca gente sabe, porém, é que o mais respeitado fotógrafo da migração urbana optou por denunciar (e testemunhar) a nova ordem liberal vigente sob um novo aspecto. Ou melhor, sob a ótica possível de multiplicar as possibilidades de fixar o homem do campo em sua cidade de origem. Sendo assim, o casal Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado partiu para ação no município mineiro de Aymorés, onde ambos estão à frente de um ambicioso projeto de educação e recuperação ambiental da Mata Atlântica no Vale do Rio Doce: o Instituto Terra na divisa entre os estados de Minas Gerais e o Espírito Santo, desde 1990.

Amazonas Images

Vivendo há 31 anos em Paris, onde Sebastião e sua mulher mantém a Amazonas Images, editora responsável por suas fotografias e livros, o casal sempre retornava à Aymorés, de férias. Eles ficavam perplexos com o avanço da desertificação na região. desertificação é o fenômeno recente onde ocorre a degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas resultante de vários fatores, incluindo o mau aproveitamento do solo pelas atividades humanas. "Nasci aqui e herdei a fazenda onde vivi com meus pais e irmãos. Não quero desenvolver pecuária, principal atividade econômica daqui. Não quero que estradas cortem ainda mais os trechos remanescentes da Mata Atlântica. É triste ver os córregos secando e as pessoas migrando. É importante que o povo fique no seu lugar de origem", defende o mais ilustre aymorense. Para ele, a possibilidade de recuperar a terra fixando 20 por cento da população nativa, é a meta a longo prazo. "Que este efeito seja multiplicador", torce Salgado não desejando para a pequena Aymorés o que denuncia em Êxodos e em outras suas como – Terra: "Os povos são impulsionados pela pobreza pois as terras cultiváveis estão concentradas nas mãos de uma minoria rica", alfineta Sebastião Salgado.

Educação Ambiental

Antonio Tavares de Paula é o representante de Sebastião Salgado no Brasil e ferrenho defensor do Instituto Terra que alcança 650 hectares (o equivalente a 140 alqueires) de Mata Atlântica entre os municípios vizinhos de Aymorés e Linhares, divisa com o Espírito Santo. Para Seu Antonio, a recuperação ambiental já começa a dar os primeiros frutos e a longo prazo, nos próximos 10 anos, um referencial de educação ecológica. "O mérito do Instituto Terra é indiscutível porque em termos regionais, é o único projeto que pegou a terra nua. A pastagem destruiu o lugar" argumenta ele, que afirma ainda que 58 mil mudas de árvores nativas como jacarandá, ypês, sucupira, jequitibás e peroba foram plantadas. E mais: 800 exemplares de árvores frutíferas e leguminosas como genipapos, pitangas, araças, boleiras goiabas brancas e vermelhas vão "servir de alimentos para os animais de pequeno e médio porte como capivaras, pacas, preás, ouriço do cerrado mineiro entre outros animais silvestres da região".