Tocantins

A porção indígena da ilha do Bananal

24 de março de 2004

2.500 índios Karajá e Javaé mantêm suas tradições no Parque Indígena do Araguaia

 


Além do Parque Nacional do Araguaia (veja edição de maio), a Ilha do Bananal abriga o Parque Indígena do Araguaia. Localizado numa extensão de 1 milhão 600 mil hectares, a área corresponde a dois terços da ilha. O parque possui aspectos físicos, geológicos e climáticos semelhantes aos do norte da ilha, adicionando um importante elemento humano: lá vivem cerca de 1.600 índios Karajá e 849 Javaé, que formam o povo denominado Iny. 


A população da ilha soma quase a metade dos cerca de seis mil índios que vivem em setenta aldeias demarcadas no Tocantins. Algumas famílias do parque já mudaram para as aldeias Xambioá, na região Norte do estado, na tentativa de ajudar os parentes da mesma nação a recuperar a língua, depois de longo tempo distante. Paralelamente a esse trabalho voluntário, o governo do estado está qualificando professores das escolas nas aldeias para ensinar crianças e jovens a escrever e ler na própria língua. 


O resgate da história oral dos povos indígenas é incentivado em 61 escolas, que atendem atualmente 2.269 alunos. O Programa Estadual Conhecer para Preservar pesquisa as tradições antes de implantar as iniciativas que podem gerar bons frutos para o povo indígena. 


Em meio à exuberância da ilha, cercada pelos rios Araguaia e Javaé, o que impressiona os visitantes do parque é a maneira como os Karajá defendem seus rituais. Uma das festas é a Hetoroky, iniciação do menino entre os 12 a 14 anos para a vida adulta. A comemoração é marcada pelas danças, lutas e comida farta. A presença do Aruanã, o espírito do bem e do mal que vive dentro d’água e se materializa através de festas, é forte nas comemorações. 


A festa tem três fases e dura até quatro meses, sendo que a última fase, em novembro, chega a cinco dias dedicados à caça e à pesca e finalizados pela pintura do corpo dos meninos. Os rituais sobrevivem ao tempo, mantendo músicas, danças, uso de máscara e credos que enriquecem a tradição. O simbolismo está ligado ao mito da criação Karajá, representado por cerâmica, matéria prima do belo artesanato que vem ganhando maior espaço a cada dia. A confecção de peças, ilustrando artisticamente os animais da ilha e também de enfeites para as festas já começaram a render lucro para os artesãos indígenas, que caçam, pescam e fazem roça para sobreviver.


Resistência


Até há pouco tempo a população indígena se via às voltas com fazendeiros que insistiam em fazer da ilha um grande pasto para seus rebanhos. O convívio com a pecuária em nada combinava com o lugar que é considerado o berço da onça pintada e abriga os ninhos da arara azul. Os problemas foram resolvidos depois de muita pendenga na justiça, com interferência conjunta do Ibama, Funai e do governo do estado, foi possível desocupar a área.


Para conhecer o Parque Indígena do Araguaia deve-se solicitar autorização ao escritório da Funai da cidade de Gurupi através do fonefax 63.712-3988. 


Mais informações: 
www.to.gov.br