Alunos carentes constróem o verde de Palmas
4 de março de 2004Projeto Amigos do Meio Ambiente amplia vagas para adolescentes defensores da natureza
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Criada há 11 anos, já no auge das discussões ambientais, Palmas vem assumindo as responsabilidades de uma cidade planejada, enquanto enfrenta um problema comum às demais cidades brasileiras: o aumento populacional. As alternativas para minimizar os efeitos colaterais de um crescimento acelerado, surgem aos poucos. Entre elas, a proposta do AMA – Amigos do Meio Ambiente, projeto criado com objetivo de afastar os meninos carentes da rua, aproximando-os da natureza e de tarefas extracurriculares.
Fundado em 95, pela Superintendência Municipal de Parques e Jardins, o AMA inaugura mais dois centros, instalados em parques de lazer abertos ao público. Os meninos são preparados para informar os visitantes sobre os cuidados com o meio ambiente, e a desenvolver habilidades em diversas áreas, ampliando as oportunidades de qualificação profissional e o direito à cidadania. São mais de mil estudantes cadastrados, entre os que já passaram ou estão nas unidades educativas. Estar regularmente matriculado e pertencer a uma família de renda menor que dois salários mínimos são os critérios para ingresso.
O trabalho educativo nas áreas de jardinagem e paisagismo foi só o ponto de partida para a soma de outras atividades do projeto, chegando hoje às aulas de educação ambiental, cidadania, noções de inglês, prática de esportes, lazer e cultura. No mesmo local onde os meninos conhecem esportes como a capoeira e entram em contato com jogos de estratégia, como o xadrez, também são apresentados, por meio de palestras, a temas como combate às drogas, alcoolismo, sexo e demais assuntos de comportamento. Os adolescentes freqüentam o AMA no horário inverso ao de sala de aula, somando quatro horas diárias. A partir de recursos da prefeitura, recebem bolsa-escola no valor de R$ 35,00, cesta básica, vale transporte e atendimento ambulatorial.
A procura pelo projeto cresce a cada dia, justificando a criação dos AMAs IV e V, mais dois espaços inaugurados, agora em setembro, nos parques da cidade. A seleção dos adolescentes é feita a partir do parecer fornecido por assistentes sociais da Secretaria de Desenvolvimento Comunitário, após visita às famílias para verificar o grau de carência do adolescente. Segundo o engenheiro ambiental Marcelo Freitas, diretor do AMA, a partir de um contato maior com as famílias dos meninos, em reuniões periódicas, pode-se acrescentar dados sociais mais amplos que auxiliam na realização dos trabalhos. Ele acrescenta que a preocupação dos meninos com o futuro é justificada por um dado real: 90% dos menores carentes não contam com a presença do pai, pertencem a famílias onde a mãe é sobrecarregada financeiramente e profissionalmente.
Unicef
A chancela do Unicef veio dar mais autonomia ao AMA, abrindo espaço para convênios, financiamentos e apresentação de projetos em vários níveis. Com recursos da campanha Criança Esperança, da Rede Globo, o projeto instalou um centro de esporte, lazer e cultura. Em meio aos viveiros de mudas, foi montada uma quadra esportiva com campo gramado e piscina para as aulas de educação física. Lá, as áreas de lazer e os quiosques dão lugar às aulas teóricas e práticas de educação ambiental.
Muito além do jardim
O reconhecimento às habilidades dos meninos em diversas áreas vem gerando a motivação de novos talentos. Já se destacam os garotos do futebol, os desenhistas, os músicos e os atletas. Alguns jogadores já foram encaminhados a clubes de futebol, outros já receberam bolsas de estudo para representar escolas particulares. Dois meninos marcaram presença na Corrida de São Silvestre; outros dois, Iram e Iramar, formam uma dupla de cantores, e um grupo de hap compõe letras sobre meninos de rua. Os desenhos de alguns estão sendo expostos em vários eventos públicos, motivando outros a procurar seus talentos. Eles contam com o suporte de profissionais de áreas diversas como engenheiro florestal, professor de educação física, geógrafa, enfermeira e uma pedagoga, que mede o desempenho escolar dos alunos, por meio de visitas às escolas.
Futuro
Ao completar 18 anos, o aluno é desligado do projeto e muitos se vêem às voltas com o desemprego. Para tentar contornar o problema, os idealizadores do AMA passaram a incluir no projeto alguns cursos profissionalizantes. Daí surgiram as parcerias com instituições como o Senac, Ibama, Secretarias de Estado e uma ONG, responsáveis pelo repasse de informações em diversas áreas. Dentre os cursos de capacitação estão os de multiplicadores da campanha estadual de seleção do lixo para reciclagem, vigilantes ambientais, noções de olericultura, nutrição dos alimentos, educação para o trabalho, técnico de vendas. De acordo com o superintendente dos Parques e Jardins, Marcelo Lélis, o currículo dos meninos é cada vez mais completo, o que favorece a entrada no mercado de trabalho. Alguns ex-alunos devem entrar para o quadro de funcionários da própria superintendência, outros, a partir do próximo ano, vão atuar como guias de turismo dos parques, desenvolvendo trilhas ecológicas.
Mais informações:
www.palmas.to.gov.br
Superintendência dos Parques e Jardins (63) 218-5249 / 5238