Agrotóxicos

Paraná aposta na coleta e reciclagem para acabar com o perigo das embalagens

6 de abril de 2004

210 municípios paranaenses participam do Terra Límpa, um programa que recolhe, cadastra e recicla embalagens

O que fazer com as embalagens vazias de agrotóxicos utilizados nas lavouras? De quem é a responsabilidade – do agricultor, do vendedor do produto ou do fabricante? O Paraná, um dos cinco maiores produtores de grãos do país e, consequentemente, um grande consumidor de agrotóxicos (no ano passado foram consumidas 19,8 mil toneladas, 60% de herbicidas), desencadeou, no final de outubro deste ano, um verdadeiro mutirão para solucionar o problema, dividindo a responsabilidade quanto ao destino adequado dos recipientes.
É o Terra Limpa, programa de recolhimento e reciclagem das embalagens, envolvendo inicialmente 210 dos 399 municípios paranaenses e diversos órgãos e entidades, como cooperativas agrícolas, o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Receita Federal, Polícia Rodoviária e Universidade Federal do Paraná, entre outros.
  Já foram investidos R$ 1 milhão no programa. Na primeira fase, estarão em funcionamento 14 barracões de recebimento, batizados de Unidades de Recebimento e Triagem. Nelas, as embalagens são recebidas e cadastradas, separadas em categorias, prensadas ou trituradas, enfardadas e embaladas para venda.

Reciclagem
O governo estadual pretende reciclar 2 mil toneladas de recipientes de agrotóxicos por ano. Até o lançamento do Terra Limpa, a maioria das embalagens era jogada nos rios, algumas eram incineradas e outras simplesmente abandonadas nas lavouras e até mesmo utilizadas para armazenar água e alimentos.
Os riscos de contaminação ao meio ambiente e à saúde do agricultor e familiares rondavam as propriedades rurais de maneira assustadora. Em 1998, foram registrados oficialmente 571 casos de intoxicação, com inúmeros casos de morte (a falta de monitoramento constante torna os dados oficiais precários).

Tríplice lavagem
No programa Terra Limpa, o agricultor aprende a lavar por três vezes a embalagem, após a pulverização com o agrotóxico, perfurá-la e, em seguida, guardá-la em local seguro até que a prefeitura do município faça o recolhimento ao barracão regional. Neste local, é verificado se a embalagem foi corretamente lavada, o que reduz a contaminação, tornando possível a reciclagem.
As embalagens plásticas posteriormente serão vendidas, em fardos, para a empresa Dinoplast, de Louveira, interior paulista. Segundo o governo, é a única empresa do Brasil licenciada para reciclar recipientes de agrotóxicos. A empresa utilizará o plástico reciclado na fabricação de conduíte – tubulação usada para proteção de fiações elétricas.
Já as embalagens de vidro e de metal serão vendidas à Associação Brasileira dos Fabricantes de Vidro e à empresa Gerdau, respectivamente.
Os recursos da venda das embalagens, prevê o governo, servirão para amortizar os custos operacionais dos barracões de reciclagem.

Longo prazo
  O diretor de Saneamento Ambiental da Superintendência de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, da Secretaria estadual do Meio Ambiente, Enzo Bonetto, conta que o Terra Limpa é resultado de um trabalho e planejamento de seis anos.
– O destino das embalagens vazias é uma preocupação antiga e não queremos parar por aí. Queremos conhecer o caminho dos resíduos no Paraná.
Nos próximos meses serão instaladas mais 14 unidades regionais, atingindo todo o estado. O governo quer terminar o ano 2000 com todas as propriedades sem embalagens de agrotóxicos.
 
Antigas
As embalagens de produtos utilizados anos atrás e que ainda se encontram em propriedades rurais também vão ter um projeto para recolhimento e destruição em fornos especiais. O material será triturado na própria lavoura e depois encaminhado para armazenamento em contêineres apropriados nas unidades regionais. Posteriormente, transportado até as empresas licenciadas para a destruição.