O amianto está por todo lado. E pode matar
19 de abril de 2004Mais de 5 mil produtos com fibra de amianto estão à disposição do consumidor
Nos próximos 35 anos o amianto vai provocar a morte de 500 mil pessoas somente na Europa Ocidental. Esta previsão foi feita há três meses pelo cientista Julian Peto, chefe da seção de epidemiologia do Royal Cancer Hospital de Sutton, Inglaterra. Quantas mortes ocorrerão no Brasil? Ninguém sabe. Praticamente não há estudos sobre ele. Duas coisas porém se sabe: o amianto mata e ele está por todo canto.
Mais de 3 mil produtos estão à disposição do consumidor comum. A fibra de amianto faz parte de caixas-d’água, mantas de isolamento térmico, luvas e trajes térmicos, painéis divisórios, placas de revestimento, telhas onduladas; nos veículos, está em lonas de freio, pastilhas e disco de embreagem. Cada vez que um carro freia joga fibra de amianto no ar.
De acordo com a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA), o cidadão americano se expõe anualmente a 100 gramas de amianto; os canadenses (o país é segundo maior produtor do mundo, com 585 mil toneladas/ano) expõem-se a 500 gramas/ano; o brasileiro tem contato com 1.400 gramas/ano.
Manuseio: maior perigo
Todo mundo está sujeito a absorver estas fibras, mas é nas unidades de produção ou nas fábricas onde se manuseia o amianto que o perigo é maior. A absorção da fibras de amianto pelos trabalhadores das minas ou nas indústrias mata lentamente por câncer ou asbestose (redução gradual da capacidade pulmonar). De acordo com Fernanda Giannasi, engenheira de segurança do Ministério do Trabalho, e integrante da rede virtual pelo banimento do amianto, “já está devidamente provado que o amianto é causador de câncer além de outras enfermidades; não podemos obrigar o trabalhador das minas ou da indústria, as pessoas em geral, a se expor a este perigo. A ciência e o bom senso exigem que sua produção e comercialização sejam canceladas”. Ela informa que os mecânicos – ao lidarem com lonas de freios, sapatas, lonas de embreagem – não sabem o risco que correm, “só em São Paulo há 300 mil mecânicos expostos ao produto”. Aquele que instala telhados ou caixas-d’água de amianto nas casas corre o mesmo risco. Também corre perigo quem usa tais produtos, uma vez que a água, reagindo com o amianto, faz eles se desprenderem e aí é absorvido pelo usuário.
Proibição na UE
Devido ao seu poder letal, o amianto foi proibido em nove dos 15 países membros da União Européia. A partir de janeiro de 2005 ele estará definitivamente expurgado dos países que constituem a comunidade européia. O debate chegou ao Brasil, que é o quinto maior produtor mundial de amianto. A principal jazida fica em Minaçu, Goiás, que atende praticamente a toda indústria nacional, gerando 200 mil toneladas/ano.
O Governo brasileiro – atendendo aos fabricantes – uniu-se ao Canadá e ao Zimbabue numa ação junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) para garantir o negócio das fibras assassinas. O Ministério do Trabalho, salvo posições isoladas como a de Fernanda Gianassi, não pediu ainda o banimento. Em julho deste ano, o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, anunciou sua intenção de promover o banimento progressivo do amianto no país. No início de agosto, porém, depois de conversar com os industriais, ele reviu sua posição. Agora quer um “estudo sobre o efeitos do amianto branco sobre a saúde humana” antes de tomar qualquer atitude.
O que é amianto?
Amianto vem do latim, amianthus, “sem mácula”, “incorruptível”. Já “asbesto”, como também é chamado o amianto, vem do grego e significa “incombustível”, havendo referências do seu uso desde os anos 70 antes de Cristo, Plutarco se refere ao pavio das lâmpadas mantidas permanentemente acesas pelas virgens vestais, que eram tratadas como “asbestas”, isto é, “não destrutíveis pelo fogo”. Os romanos já extraíam o amianto dos alpes italianos e das montanhas da Rússia.
O amianto é matéria-prima de uma série de produtos. Ele tem características muito especiais: alta resistência mecânica (especialmente à tração); é incombustível; bom isolante térmico (resiste a altas temperaturas); alta resistência a produtos químicos (não se decompõe) e a microorganismos; tem boa capacidade de filtragem e de isolação elétrica e acústica; tem durabilidade e flexibilidade; guarda afinidade com outros materiais para comporem matrizes estáveis (cimento, resinas e ligantes plásticos); resiste ao desgaste e à abrasão. Cerca de 85% do amianto São empregados em cimento-amianto (ou fibrocimento), que produz telhas, caixas d’água, tubulações,… No setor de autopeças se emprega 10%, mas as montadoras (que não querem perder o mercado externo) já se anteciparam ao governo e utilizam produtos sem amianto. Sim, algumas indústrias já desenvolveram fibras que substituem o amianto.
Na natureza existem cerca de 30 variedades de amianto. Apenas seis delas tem uso comercial. Eles são divididos em dois grupos: as serpentinas, que, segundo a indústria é um amianto não perigoso ou, pelo menos, pouco perigoso; e os anfibólios.
Serpentinas (silicato de magnésio): Crisotila (amianto branco).
Anfibólios (silicato de cálcio e magnésio): Actinolita, Tremolita, Antofilita (verde), Amosita (marrom), Crocidolita (azul).
A matéria na íntegra você encontra na edição de agosto da Folha do Meio Ambiente