Biopirataria

Inglês registra flora brasileira

12 de abril de 2004

O pesquisador inglês Conrad Gorinsky acaba de patentear duas espécies da flora brasileira, tradicionalmente utilizadas como remédio pelos índios da Amazônia: trata-se do cunani ou canhambi e a tipir.O primeiro é largamente utilizado para a matança de peixes, tanto no Amazonas como na Guiana Inglesa, enquanto o tipir é usado pelas índias como anti-concepcional.Segundo a… Ver artigo

O pesquisador inglês Conrad Gorinsky acaba de patentear duas espécies da flora brasileira, tradicionalmente utilizadas como remédio pelos índios da Amazônia: trata-se do cunani ou canhambi e a tipir.
O primeiro é largamente utilizado para a matança de peixes, tanto no Amazonas como na Guiana Inglesa, enquanto o tipir é usado pelas índias como anti-concepcional.
Segundo a senadora Marina Silva, do PT do Acre, Gorinsky registrou as duas patentes na Europa e nos Estados Unidos e está sendo acionado internacionalmente pelas lideranças indígenas da Amazônia, com o suporte da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Questionamentos anteriores já ocorreram em relação ao patenteamento ilegal do Santo Daime e da Ayahuasca.


Pesquisador inglês violou diversos
dispositivos da Convenção da Biodiversidade
que assegura aos países
signatários
completa autonomia em relação aos
seus recursos
genéticos e biológicos


Canhambi
Segundo Marina, o canhambi tem atuação direta no sistema nervoso central. Quando o peixe entra em contato com essa substância fica paralisado, o que facilita a pesca, com uma vantagem em relação a outras espécies de veneno natural, como o timbó, que não possibilitam a recuperação do peixe.
Quando o peixe entra em contato com o timbó, mesmo que depois entre em água corrente e limpa, não escapa da morte. No caso do canhambi, o peixe pode recuperar-se após algumas horas, tão logo cesse o efeito anestésico que o deixou sem ação.
O pesquisador – garante a senadora – patenteou uma descoberta feita secularmente pelos índios, sem o devido cuidado ético de atribuir-lhes o reconhecimento do seu saber, nem destinar-lhes nenhuma remuneração ou qualquer outra vantagem econômica, o que configura uma verdadeira usurpação do conhecimento indígenas.
Observou Marina Silva que o pesquisador inglês violou diversos dispositivos da Convenção da Biodiversidade que está em pleno vigor no Brasil, e que assegura aos países signatários completa autonomia em relação aos seus recursos genéticos e biológicos.
A convenção obriga também a partilha dos benefícios, na hipótese de aproveitamento do saber das populações tradicionais. Na verdade, o pesquisador inglês aproveitou-se da convivência que teve com os índios durante mais de dez anos, levando o conhecimento que adquiriu em virtude dessa confiança, para um registro de patentes em proveito próprio.
A senadora defendeu a imediata aprovação, pelo Congresso, da Lei da Biodiversidade, que tramita em forma de projetos de iniciativa da representante do Acre, do deputado Jacques Wagner e até de uma proposta do Poder Executivo, mas não consegue deslanchar em virtude do choque de interesses e da ação dos lobistas.


SUMMARY
British researcher registers Brazilian plant species


Conrad Gorinsky, a British researcher has just patented two species of Brazilian plants that have traditionally been used by Amazonian Indians for medicinal purposes.  The two species are the cunani or canhambi and the tipir.
Cunani or canhambi is used in the Amazon and in British Guyana for capturing fish.  Tipir is used as an anti-conceptional remedy by female Indians.
According to Senator Marina Silva of the PT of Acre, Gorinsky registered both patents in Europe and the United States.  At the moment he is being sued internationally by Amazonian indigenous leadership groups with the legal back up of the Order of Lawyers of Brazil (OAB).  Previous lawsuits have been filed in relation to the illegal patenting of the Santo Daime (spiritual group) and the Ayahuasca (herb used by the group for making tea).


Canhambi
According to Silva, canhambi directly affects the central nervous system.  When fish come in contact with this substance, they become instantly paralyzed, which makes it easier to capture them.  Canhambi has a big advantage over other naturally occurring poisons such as timbo that do not allow the fish in any way to recover from their effects. Even after being in fresh running water, the fish die.  On the other hand, once the anaesthetic effects of canhambi wear off, fish usually survive.
Senator Silva points out that in spite of the fact that this discovery was made by Indians in the Amazon centuries ago, the researcher did not give recognition to the Indians for their age-old discovery in any way and did not offer financial compensation of any type.  The senator feels that what the researcher did was totally unethical and evidence of true injustice to indigenous knowledge.