Cultura e saúde

Treinamento faz do próprio índio um agente de saúde na Amazônia

19 de abril de 2004

Parceria entre Universidade do Amazonas e Fundação Nacional de Saúde busca melhoria da qualidade de vida para 25 mil índios do Alto Solimões

A Universidade do Amazonas, em parceria com a Fundação Nacional de Saúde, está melhorando as condições de vida das comunidades indígenas do Alto Solimões. Trata-se da ampliação do projeto Rede Autônoma de Saúde Indígena (RASI), desenvolvido nas proximidades do Alto Rio Negro, há dez anos. Nessa nova fase, o objetivo é discutir, junto aos índios, a política de saúde mais apropriada para solucionar os problemas dos povos Ticuna, Baniwa e Kubeu, entre outros. Além disso, as atividades contribuem para a participação dos índios nas decisões municipais, visando a consolidação e ampliação dos seus direitos. Com esse trabalho, cerca de 25 mil índios estão sendo beneficiados na região.
A equipe do projeto é composta por dezenove  profissionais. São agentes de saúde, médicos, antropólogos e bolsistas da própria universidade, entre outros voluntários. De acordo com a técnica do projeto RASI, Roselene Martins de Sousa, doenças como a diarréia e infecção respiratória são as principais causadoras da mortalidade infantil nas aldeias. Ela afirma também que, na região do Alto Solimões, a demanda mais urgente é a implantação dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas. “É um modelo novo de assistência à saúde. A população estava cobrando muito e agora a Fundação Nacional de Saúde resolveu criar os distritos”, afirma Roselene.
Os distritos deverão ser instalados nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos, áreas de maior circulação das comunidades indígenas. A intenção é oferecer uma assistência mais eficaz a essa população, nas questões de saúde. Atualmente, o maior desafio da equipe do projeto RASI é promover discussões nas aldeias sobre a função dos distritos. É necessário esclarecer o papel das comunidades indígenas nessa nova política da Fundação Nacional de Saúde.
Além da assistência na área de saúde, os integrantes do projeto RASI costumam atender a outras demandas das comunidades. Um dos trabalhos é organizar a própria infra-estrutura das aldeias para que as lideranças indígenas possam lidar melhor com os serviços burocráticos. Para isso, os índios participam de cursos de contabilidade, micro-informática e organização de arquivos. “No final de fevereiro, nós demos um curso de informática. Eles pediram que a gente fosse lá, dar algumas dicas, ensinar a parte mais básica”, explica o estudante de Ciências Sociais da Universidade do Amazonas, Sully Sampaio.


História do projeto
O projeto RASI foi criado em 1989, no município de São Gabriel da Cachoeira, estado do Amazonas, com o apoio da Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN). É um trabalho que congrega, simultaneamente, pesquisa e prestação de serviços na área de saúde. Nos primeiros anos, a principal atividade consistiu na capacitação de agentes indígenas de saúde. As informações eram transmitidas por meio de palestras, oficinas e produção de cartilhas, álbuns seriados e cartazes produzidos pelos próprios índios. Atualmente, a formação dos agentes está sob a responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde, que conta com o apoio da FOIRN e de algumas organizações não governamentais.
A atuação dos agentes de saúde é fundamental para a preservação dos níveis de saúde da população. Além disso, esses índios trabalham no combate às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), doenças respiratórias, apóiam as campanhas de vacinação e participam de atividades importantes para o combate à mortalidade infantil entre os índios.
Os povos indígenas  do Alto Rio Negro (noroeste da Amazônia) foram os primeiros beneficiados pelo projeto RASI. Eles estão localizados em uma região de 12 milhões de hectares, área onde poderiam se situar a Bélgica e a Holanda juntas. É nesse espaço que vivem 25 mil índios, distribuídos em mais de 600 aldeias.
Além dos avanços na área de saúde, os índios estão buscando equilibrar a preservação de suas formas tradicionais de vida material e simbólica com a aquisição de bens e direitos da sociedade nacional. Para alcançar esse objetivo, a equipe do projeto RASI trabalha nas aldeias, com várias linhas de atuação: estudando uma política de saúde eficaz, viabilizando projetos de investigação em Antropologia da Saúde, para a ampliação dos conhecimentos sobre a realidade indígena e incentivando o exercício da cidadania plena.


Mais informações: Universidade do Amazonas – (92) 233-5538