Alimentação e Saúde

A polêmica continua: os dietéticos podem prejudicar a saúde?

7 de abril de 2004

A presença do aspartame na composição de alimentos dietéticos é o tema central da mais recente discussão entre os profissionais da área de saúde


 

Nas últimas semanas, endocrinologistas, farmacêuticos e sanitaristas têm ocupado parte do tempo respondendo dúvidas de consumidores. A maioria faz perguntas sobre informações veiculadas na Internet. De acordo com um artigo da pesquisadora Nancy Markle, o aspartame seria causador de doenças como esclerose múltipla, cegueira, perda de memória, além de provocar convulsões, formigamento nas pernas e fortes dores de cabeça. Entretanto, o Conselho Federal de Farmácia e o Ministério da Saúde afirmam que a substância pode ser consumida normalmente, exceto em alguns casos especiais.

O aspartame é um aditivo artificial, cem vezes mais doce que o açúcar de cana. É utilizado como substituto da sacarose em uma variedade de alimentos. A substância está disponível no mercado mundial há 18 anos e estima-se que seja consumida por mais de 500 milhões de pessoas nos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina. Pelo fato de ter baixa caloria, é bastante utilizado por diabéticos e durante os tratamentos para perda de peso. De acordo com a farmacêutica Emília Vitória Silva, do Conselho Federal de Farmácia, "existem poucos relatos de reações adversas ao uso do adoçante". Seu consumo, em grande quantidade, é motivo de polêmicas pelo fato do aspartame sofrer um metabolismo no corpo humano, produzindo três substâncias: o metanol, o ácido aspártico e a fenilalanina. Dentre elas, o metanol seria a grande preocupação dos consumidores já que ao exceder 300 C, converte-se em formaldeído e, a seguir, em ácido fórmico (responsável pelo veneno das formigas). Entretanto, a quantidade produzida dessa substância é muito pequena e não é capaz de causar danos à saúde. Para se ter idéia, esse ácido também está presente em frutas cítricas, tomates e derivados. Neste caso, de acordo com o gerente geral de alimentos do Ministério da Saúde, Cleber dos Santos, o metanol se apresenta em altas quantidades e, quando ingerido, é metabolizado naturalmente pelo nosso organismo.

Mudança de ábito

A polêmica está deixando os consumidores inseguros e mudando os hábitos alimentares dos brasileiros. A socióloga Rita de Cássia Andrea deixou de comprar alguns produtos ao ler artigos sobre o aspartame. "Eu ainda tomo refrigerantes dietéticos, mas eliminei a geléia light, o adoçante que utilizava no café e os produtos que contém aspartame", diz Rita de Cássia.

Sobre o assunto, o Ministério da Saúde divulgou um parecer técnico esclarecendo que "não existem razões de saúde pública para proibir o uso do aspartame nos alimentos para consumo humano". O aditivo foi avaliado toxicologicamente pelo Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives – JECFA (Grupo de especialistas que avalia a segurança de uso de aditivos alimentares para o Codex Alimentarius) em 1981, recebendo uma Ingestão Diária Aceitável (IDA) de 40 mg/kg de peso corpóreo. Para se ter idéia, um saquinho do adoçante Finn, de 1 grama contém 38 miligramas de aspartame. De acordo com a IDA, um indivíduo normal de 60 quilos pode consumir até 63 saquinhos diariamente.

Outras alternativas

Sacarina
A era dos adoçantes começou com a descoberta desta substância, em 1879. A sacarina é 300 vezes mais doce do que o açúcar natural. Não contém calorias e não é metabolizada pelo organismo humano, sendo eliminada pelos rins, de forma inalterada. A substância deixa gosto amargo na boca, modificando os alimentos. A ingestão diária permitida é de 2,5 mg/kg de peso corpóreo. Ou seja, uma pessoa que pesa 70 kg pode consumir 175 mg diários do produto com sacarina.

Ciclamatos
Surgiram em 1937, com poder adoçante quase 50 vezes superior ao açúcar de cana. O baixo poder adoçante faz com que estejam sempre associados à sacarina. A dose máxima diária aceitável é de 11mg de ciclamato por quilo corpóreo.

Frutose
Também conhecida como o açúcar das frutas, encontra-se particularmente nos alimentos doces, legumes e no mel de abelhas. Pode ser consumida por diabéticos, desde que haja supervisão médica.

Sucralose (Splenda)
Introduzido recentemente no mercado nacional. O seu consumo ainda é muito limitado por ser relativamente mais caro. Entretanto, já é usado em doces e sucos.

Acesulfame K
É usado em refrigerantes light, produtos lácteos e enlatados. Até o momento não há contra-indicação. A dose diária recomendada pela FDA* é de 15mg/kg por peso corpóreo.

* Food and Drug Administration, órgão norte-americano responsável pela autorização e normatização do comércio de medicamentos e alimentos nos EUA.

A matéria na íntegra você encontra na edição de novembro da Folha do Meio