Energia dos ventos

Energia eólica já é uma realidade

7 de abril de 2004

No Ceará, 160 mil pessoas já consomem a mais limpa das energias

Pelo menos 160 mil pessoas no Estado do Ceará, residentes sobretudo no litoral, já são abastecidos com energia eólica – gerada pelos ventos – a mais limpa de todas as formas conhecidas de produzir energia.

A Companhia de Energia do Ceará – Coelce – recentemente privatizada, prepara-se para abrir licitação para a construção de duas novas usinas, num total de 60 megawatts.

Mas não é só no Ceará que a energia eólica saiu dos planos e transformou-se em realidade. Na Ilha de Fernando de Noronha, a energia produzida pelos ventos já resultou na substituição de 10% do óleo diesel utilizado na geração de energia termo-elétrica.

Essa nova forma de geração vai se transformando em um excelente negócio para a Wobben. Windpower, a única fabricante nacional de geradores eólicos. O ano passado a empresa faturou R$ 7 milhões com a produção de geradores para o mercado nacional – 35 máquinas com potência individual de 500 quilowatts no Ceará e no Paraná – e com a exportação, especialmente para a Alemanha.

A força do vento

Cada unidade é formada por um conjunto de aerogeradores – uma torre de 100 metros de altura sustenta um motor movido por três pás, com potência que pode alcançar até 1,8 megawatt. A fileira dos postes e as pás movidas pelo vento dão um novo e moderno visual as praias onde o sistema foi instalado, constituindo-se uma atração a mais para os freqüentadores, especialmente os turistas.

Hoje, a Wobben fabrica apenas as pás, mas está construindo uma fábrica no interior de São Paulo, na cidade de Sorocaba, onde serão produzidos, a partir do próximo ano, motores de médio e grande porte.

Atualmente a empresa cearense de energia elétrica compra energia eólica de duas usinas geridas pela Wobben. Uma na localidade de Prainha, a 50 quilômetros de Fortaleza, inaugurada em abril deste ano, com capacidade para gerar 10 mil quilowatts, sendo considerada a maior da América do Sul.

A outra localiza-se na praia de Taíba, um lugarejo a 70 quilômetros de Fortaleza, que é uma próspera colônia de pescadores, onde estão localizadas dezenas de elegantes casas de veraneio. A unidade foi inaugurada em fevereiro e tem uma capacidade de geração de cinco mil quilowatts.

Mais duas unidades estão em fase de licitação: uma em Paracuru, distante 200 quilômetros de Fortaleza, onde a Petrobrás trabalha na exploração de petróleo, e outra na cidade de Camocim, a 400 quilômetros da capital. As duas serão operadas diretamente pela Coelce, cujos técnicos já adquiriram o conhecimento necessário.

Segundo o Governador Tasso Jereissati, a Wobben continuará trabalhando no Ceará, pois seu contrato de fornecimento de energia eólica vai até 2015.

A Wobben é uma subsidiária da alemã Enercon, que no ano passado faturou US$ 400 milhões. Somente no primeiro semestre deste ano a empresa exportou para sua matriz 600 pás, com um aumento de 50% sobre a quantidade exportada no mesmo período do ano passado.

No Centro – Oeste

Ao contrário do que parece, a energia eólica não é gerada apenas nas praias, onde há garantia de vento permanente. No Centro – Oeste do país, distante mais de dois mil quilômetros do litoral, também se produz energia originária dos ventos.
A Wobben construiu uma usina eólica em Palmas e outra na divisa dos Estados do Paraná e Santa Catarina, esta última em sociedade com a Centrais Elétricas do Paraná (Copel), que entrou com a infra-estrutura e a rede de distribuição e se comprometeu a adquirir a energia produzida por um período de vinte anos. O projeto inclui cinco máquinas que geram 2,5 mil quilowatts de energia eólica.

Para o Centro – Oeste e o Sul do País a Wobben está planejando um aerogerador destinado a abastecer pequenas propriedades, com uma capacidade de até 30 mil quilowatts. Podendo ser utilizado isoladamente ou em grupo, o gerador estará disponível até o final do próximo ano, segundo os dirigentes da empresa.

A energia eólica no mundo

Um estudo da organização não – governamental Greenpeace mostra que, embora somente agora comece a ser utilizada no Brasil em escala comercial, o mercado mundial de energia eólica já movimenta cerca de US$ 2 bilhões em todo o mundo.
O levantamento da Greenpeace, que considerou várias pesquisas científicas sobre o tema, concluiu que há, em operação, usinas eólicas produzindo 10 milhões de quilowatts de energia, apenas dois milhões de quilowatts a menos do que produz a usina hidroelétrica de Itaipu.

E mais: desde 1973, a taxa anual de expansão da geração de energia eólica vem se expandindo em torno de 40%, sendo que o aumento, em 1998, foi de 66% em relação ao ano anterior.

O relatório, elaborado em conjunto com a Associação Européia de Energia Eólica, revela que a energia eólica pode garantir 10% das necessidades mundiais de eletricidade até 2020, criar 1,7 milhão de novos empregos e reduzir a emissão global de dióxido de carbono na atmosfera em mais de 10 bilhões de toneladas".

Um mínimo de poluição

Estudos técnicos mostram que o sistema de geração de energia eólica funciona adequadamente nos lugares onde o vento tem velocidade média superior a 5,5 metros por segundo, como é o caso das praias do litoral nordestino.

Ocorre que até hoje ninguém se interessou em levantar, tecnicamente, o potencial eólico brasileiro, especialmente ao longo dos 7.500 quilômetros de litoral. As medições conhecidas foram feitas apenas nos Estados do Ceará, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Pernambuco e na ilha de Marajó, no Pará.

Como, em geral, o interior do país tem menos vento do que o litoral, é nessa faixa do território que ocorreram as principais medições, o que não significa que a energia eólica só poderá ser produzida nas praias. A cidade de Palmas, capital do Estado do Tocantins, é uma prova irrefutável de que há vento forte e estável também no interior.

A matéria na íntegra você encontra na edição de novembro da Folha do Meio