Thomas Lovejoy, Entrevista

Transgênicos

12 de abril de 2004

A questão é como evitar problemas ao meio ambiente e à saúde humana? E, também, como garantir um bom retorno econômico para o país de origem do genes original? É lógico que soberania significa também responsabilidade. Mas se a soberania se tornar defensiva causará um bloqueio nas oportunidades para uma benéfica colaboração. FMA – Explique… Ver artigo


A questão é como evitar problemas ao meio ambiente e à saúde humana? E, também, como garantir um bom retorno econômico para o país de origem do genes original?


É lógico que soberania significa também responsabilidade. Mas se a soberania se tornar defensiva causará um bloqueio nas oportunidades para uma benéfica colaboração.


FMA – Explique melhor seu trabalho na Amazônia e os resultados já encontrados.


Lovejoy – O trabalho científico focaliza a fragmentação florestal, a qual encontramos ser muito complexa com sérias implicações quanto a conservação do meio ambiente. Também tenho trabalhado para avançar com a preservação e o desenvolvimento sustentável. Assim, por mais de vinte anos ornitólogos, entomólogos, botânicos e outros especialistas vêm estudando o ciclo da existência – vida e morte – nessas “ilhas” florestais. (Ver na página 08 o que é o PDBFF)


FMA – Cite alguns bons parceiros que o senhor teve, durante todo esse tempo, no Brasil.


Lovejoy – São vários. Poderia citar o Paulo Nogueira Neto, a Maria Tereza Jorge de Pádua, o  Fábio Feldman, Israel Klabin, o Roberto Klabin, a Mary Allegretti, o José Goldemberg. São muitos e posso até esquecer alguns. Tem também o Enéas Salat, os embaixadores Paulo Tarso Flecha de Lima e Marcos Azambuja, o Warwick Kerr, Marcelo Andrade. Na verdade são muitos anos e muitos bons parceiros.


FMA – Gostaria que o senhor fizesse uma avaliação do Brasil nos anos 60 e o Brasil do Ano 2000.


Lovejoy – As pressões sobre o meio ambiente são muito maiores hoje, mas também são maiores o despertar da consciência ecológica e o envolvimento do Governo, das ONGs e da sociedade. Apesar de tudo que ainda falta para ser feito, muito já foi alcançado em relação às áreas de proteção, de legislação e de engajamento político dos estados.


FMA – O mundo se preocupa muito com a devastação da Amazônia, mas dois outros importantes biomas brasileiros estão sofrendo (ou sofreram) muito mais. A Mata Atlântica e o Cerrado. O senhor está acompanhando o processo de destruição das duas áreas?


Lovejoy – Eu tenho acompanhado tudo sobre preservação dos ecossistemas brasileiros de maneira geral. É certo que tanto o Cerrado como a Mata Atlântica precisam merecer uma grande atenção. Aliás, foi a ocupação do Cerrado que retardou um pouco o desmatamento da Amazônia.


FMA – Uma explicação: como o senhor vê o futuro da espécie humana, pois luta-se muito para que o Homem respeite a natureza, mas ele não consegue respeitar nem os seus semelhantes?


Lovejoy – As pessoas são infinitamente adaptáveis. A escolha é se teremos que nos adaptar a um meio ambiente degradado ou se, com criatividade, vamos procurar viver em equilíbrio com a natureza. As limitações do meio ambiente devem encaminhar a humanidade a uma coexistência pacífica.


FMA – Habitantes de todos países do mundo buscam um melhor padrão de vida. Hoje, o melhor padrão de vida está nos Estados Unidos. Pergunto: o que seria da Terra se todos os países do mundo tivessem o mesmo padrão de consumo dos norte-americanos?


Lovejoy – É impossível que todo o mundo se adapte ao estilo de vida americano. Já os americanos precisam entender que qualidade de vida não se resume a consumismo. O homem precisa equilibrar suas ações. Temos que construir um mundo com menos pobreza e menos consumo nos países industrializados.


FMA – O senhor sempre esteve próximo ao Banco Mundial. Mas hoje, pelo seu trabalho e pela amizade pessoal com o presidente do BIRD, o senhor participa das políticas do banco para o meio ambiente: como será a relação Brasil – BIRD nesse novo milênio?


Lovejoy – O BIRD tenta reduzir a pobreza através do desenvolvimento sustentável. Tanto o Brasil como o BIRD podem buscar essa real liderança em busca do desenvolvimento sustentável, incluindo a fantástica área da Floresta Amazônica.
FMA – O progresso e a globalização fazem do mundo uma aldeia: um vírus corre o mundo em 24 horas, os desastres ecológicos são maiores e mais constantes. O progresso vem a qualquer preço e qual será a saída?


Lovejoy – O progresso representa tanto problemas quanto oportunidades. O truque é fazer as escolhas corretas que respeitem a natureza. Nós não estamos separados da natureza. Nós fazemos parte dela.


FMA – Na sua opinião, existem mais prós ou mais contras sobre as colheitas produzidas com engenharia genética?


Lovejoy – Acredito que no final haverá mais aspectos positivos. Mas, evidente, temos que ter cuidado pois esta é uma nova tecnologia.


FMA – Qual o futuro dos produtos transgênicos?


Lovejoy – Acredito no seu futuro. Creio que ele seja bom, como o exemplo do arroz acrescido de vitamina A ou na produção de remédios. A discussão tem um objetivo: como evitar criar problemas ao meio ambiente e à saúde humana? E, também, como garantir um bom retorno econômico para o país de origem do genes original?


FMA – Como cientista internacional e profundo conhecedor da Amazônia e do Brasil, o que o senhor acha do conceito “soberania do Brasil na Amazônia”?


Lovejoy – Claro que o Brasil tem soberania sobre a sua parte da Amazônia. Mas soberania significa também responsabilidade. Se a soberania se tornar defensiva causará um bloqueio nas oportunidades para uma benéfica colaboração.


FMA – Um gene perdido no mundo amazônico vale pouco. Um gene devidamente pesquisado e tendo sido identificado seu princípio ativo é outra história. Passa a valer ouro. Gostaria que o senhor falasse sobre biopirataria na Amazônia.


Lovejoy – Não há melhor defesa contra biopirataria do que o Brasil assumir de fato o desenvolvimento científico. Investir na ciência e industrias de biotecnologia não apenas na Amazônia, mas em todo o país. Acredito que atualmente ocorre pouca biopirataria pelo fato de que o comércio de genes está mais dificultado pelas leis, como a lei de Propriedade Intelectual, e pelo trabalho da Convenção de Diversidade Biológica que busca proteger os interesses do Brasil. Além disto, nenhuma instituição estrangeira responsável permitiria que seus cientistas fizessem isso. O Brasil, como um dos maiores países industrializados e com forte desenvolvimento científico, tem um potencial considerável em biotecnologia. É importante salientar que a pior forma de biopirataria é a destruição da diversidade biológica brasileira, pois isso nega todo esse potencial às futuras gerações do Brasil.  


FMA – Al Gore venceu as primárias e será o candidato democrata à Presidência dos EUA. Como amigo pessoal do atual vice, como o senhor vê a relação de  Al Gore com o Brasil?


Lovejoy – Posso dizer três coisas: primeiro que Al Gore conhece muito bem o Brasil. Ele já esteve aqui algumas vezes e visitou Brasília, São Paulo, Rondônia, Acre e o Amazonas; Segundo, é um político que tem grande interesse na América Latina e é extremamente preocupado com o desenvolvimento sustentável. Tem um bom livro sobre o tema chamado “Earth in the Balance” onde mostra que o princípio central que deve definir as ações da humanidade é o meio ambiente. E, terceiro, que Gore tem uma visão mais abrangente pois já foi jornalista, voluntário na Guerra do Vietnã, ex-senador, Vice-Presidente e é melhor do que Bush que tem uma cabeça mais para o comércio e a indústria.


summary


Worse than biopiracy is the destruction bioversity


Even though there is still a lot to happen, much has been done for environmental protection


Thomas E. Lovejoy is a synonym for science and nature. A biologist, teacher, researcher and writer, Lovejoy has an American citizenship and a Brazilian soul. He knows the places all over the world, lives in the United States and loves the Amazon. Thomas Lovejoy is a member of many research institutes, a personal friend and advisor of Vice-President of the United States of America, Al Gore, works at The Smithsonian Museum of Washington, is the chief in the area of biodiversity of the World Bank and was one of the creators of the television series Nature (CNN/Futura). His relationship with Brazil began about 35 years ago and today we can state that his investments here are highly valued: Lovejoy invested in science, education, preservation and nature. He planted in 1979, near Manaus, an ARIE – Area of High Ecological Interest (created by the Federal Government) called Biological Dynamics on Fragments Project which today gathers a vintage of works on preservation, on studies on the flora and fauna of the Amazon, mainly from entomologists, botanic specialists and ornithologists among many other experts that studied, study and will study life and death in most important rainforest of the planet. A project praised worldwide and also by the Brazilian Government gave Lovejoy, in 1988, the most important decoration of Brazil: the Ordem do Rio Branco. He was the first environmentalist to receive such high recognition. At his 58, in perfect Portuguese, he talks to Folha do Meio about the Amazon, Brazil and the world in this new millennium:


aAt the first, my interest was more as a scientist, but as ecological problems became more apparent my science became more practical and useful for policy.


aEven though, there was less pressure on the Amazon, it was clear that proteted areas like national parks could play a useful role.


aAs early as 1975, scientists and conservationists began to cast about for ways to preserve portions of the Amazonian rainforest and its wildlife. At the time, I was directing a conservation program for the World Wildlife Fund and recommending various areas for preservation. When it came to saving tropical forests, many ecologists disagreed on what was the best strategy. Some argued that only very large reserves could prevent mass extinctions. Others believed that many small reserves could do the same job and would be a hedge against local catastrophes. The dispute was vigorous but the data were weak. We decided to attack the problem in Brazil by arranging for a number of rainforest reserves (ranging in size from about 2.5 to 25,000 acres) to be set aside in areas slated to be cleared for cattle ranches. The goal was to study the ecological impact of forest fragmentation.


aThe sicentific work focuses on forest fragmentation where we have found it to be complex with serious implications for conservation. I have also worked to advance conservation and sustainable development.


aThe pressures on the environment are much, much greater today but so is ……. and government and NGO involvement. Despite all that still needs to be done, there has been a great deal achieved in protected areas, legislation and increased state capacity


aPeople are infinitely adaptable. The choice is whether to adapt to a degraded environment or creatively to living with and within nature. Environmental limitations should press humanities to people coexistence


aProgress and Globalization – “Progress” presents both problems and opportunities. The trick is to make the right choices which resperct nature, of which we are part of, not separate from.
aGenetic engineering – I believe in the end there are more pros than contras, but because this is new technology we have to proceed with caution


aTransgênicos – I believe there is a good and important future, as for example rice with vitamin A, or the production of medicines. The issue is both to avoid creating environmental or health problems and to provide fair economic return to the countries of a genes origin.


aOf course Brasil has sovereignty over its part of the Amazon. With sovereignty comes responsibility. But, if sovereignty becomes defensive it will prevent opportunities for beneficial collaboration.


aBiopiracy – The best defense against biopiracy is for Brasil to develops strong biotechnology science and industry, not just in the Amazon but in the entire country. I believe there is very little actual biopiracy, because it is not easy to do and because laws (like Intellectual property law. And the Convention on Biological Diversity works to protect Brasil”s interests. Further, no responsible foreign institution would permit its scentists to do this. Brazil, as a major industrial country with strong science, has significant potencial in biotechnology. The worst forme of biopiracy is the destruction of brazilian biological diversity. It denies this potencial to future generations of brazilians.


aUS elections – I can say three things: first that Al Gore knows Brazil very well. He has already been here a few times and visited Brasilia, São Paulo, Rondônia, Acre and Amazon. Second, he is a politician who has great interest in Latin America and is extremely worried about sustainable development. He has a good book on the subject called ” Earth in the Balance, ” where he shows that the central principle that must define the actions of humanity is the environment. And, third, that Gore has a wide vision for he was a journalist, volunteer in the Vietnam War, former-senator, Vice-Presidente and is better than Bush who has more focus on commerce and industry.