Um movimento em movimento
23 de abril de 2004O maior grupo de voluntários do mundo congrega 28 milhões de jovens de 217 países, formando cidadãos por esse mundo afora
O escoteiro vive intensamente
suas atividades e vibra com a
educação de vida que recebe.
As crianças (menino
ou menina) são “lobinhos” e
entram com sete anos de idade.
Aos 11, tornam-se escoteiro.
Aos 15, sênior.
E entre os 18 e 21 anos, pioneiro.
“É um estado de espírito”, define Mateus Braga Fernandes, 22 anos, voluntário da União dos Escoteiros do Brasil (UEB-DF). “Estamos quase sempre em ambientes e situações diferentes, o que nos impõe a adoção de uma disciplina positiva, voltada para o cuidado e a ajuda. A boa ação é conseqüência do comportamento, da atitude de olhar o próximo. Temos a característica do serviço muito presente, e isto é mal enfocado. Não queremos formar escoteiros, mas um cidadão ativo, livre, participante da sociedade”, avalia Mateus.
Há interpretações variadas, nem sempre baseadas na generosidade e na espiritualidade. Alessandro Vieira, 34 anos, presidente da Região Escoteira do DF, considera o escotismo “um sistema de educação não formal”. Ele e Mateus passaram pelos quatro “ramos” do movimento, e agora são dirigentes voluntários. Acampam e viajam, participam dos encontros regionais, nacionais, pan-americanos e mundiais.
“O nosso objetivo é educar e formar jovens a partir de um arcabouço de valores universais, como o amor e a honestidade. Logo crianças, compreendemos a importância de ter respeito e responsabilidade pelo próximo, o que nos leva a assumir, ao longo da vida, posições solidárias”, explica Alessandro.
O contato com adversidade – étnica, social, cultural e ambiental – está presente em todas as fases, e o estímulo ao desafio praticamente empurra os escoteiros à busca de novos conhecimentos. Lobinho ou pioneiro, não importa. Para os membros das alcatéias, matilhas ou patrulhas – as divisões etárias – é motivo de orgulho a conquista da Insígnia Mundial Conservacionista. Esta insígnia faz parte de um sistema de especialidades, com diversos níveis de dificuldades e que busca ampliar o leque de conhecimentos (cultura, desporto, serviços, ciência e tecnologia e habilidade escoteira) de cada jovem.
No movimento, é importante valorizar as diferenças. “Queremos formar pessoas mais humanas, capazes de entender as diferenças não como problemas, mas como necessidades. Um problema não deve ser abolido, mas compreendido”, enfatiza Aurélio Araújo, 21 anos, mais um que cumpriu as quatro passagens do movimento (lobinho, escoteiro, sênior e pioneiro), agora um dedicado chefe de tropa. “Nem todos chegam a pioneiro, mas os que passam por esse processo não esquecem nunca”, conclui Aurélio.
Exercício da convivência entre amigos
Enfileirados ou lado a lado, sempre alegres, sempre bem dispostos, sempre alertas.
No DF, há registro de 33 grupos de escoteiros, que somados reúnem aproximadamente 2.500 pessoas: a maior concentração em todo o território nacional. A criança, menino ou menina “lobinhos”, entra com sete anos de idade. Aos 11, torna-se escoteiro. Aos 15, sênior. E entre os 18 e 21 anos, pioneiro.
Reúnem-se semanalmente e a céu aberto, dentro ou fora da cidade. A disciplina é característica em todos os quatro ramos. Iniciam o dia reafirmando o compromisso ao lema e à solidariedade. Na cerimônia de apresentação, hasteiam a bandeira do Brasil e do grupo ao qual pertencem. Em seguida, partem para a realização de tarefas ou brincadeiras essenciais à formação da consciência cidadã e impregnadas pelo exercício de deveres individuais e coletivos.
“Acho que os jovens se sentem atraídos pela possibilidade de exercitar a convivência com amigos. Há uma tendência natural por parte dos adolescentes de formarem um grupo para se sentirem parte de um processo. Se a sociedade lhe oferece um projeto positivo, eles agarram a oportunidade. As gangues exemplificam uma proposta negativa”, opina Alessandro.
Muitos têm o espírito escotista e não sabem. Mas para se tornar lobinho, só é preciso querer. “Basta que a criança ou adolescente decida aderir formalmente a um código de valores, que não é imposto, mas apresentado”, explica o presidente da UEB-DF.
Para Mateus Braga, que passou por três grupos escoteiros (Olavo Bilac, 10º DF, José de Anchieta, 11º DF e Marechal Rondon, 4º DF), o movimento tem um grande problema de crescimento. “A cada três anos, um terço do efetivo é renovado. Ou seja, a cada nove anos mudam todos. Para o movimento, que tem o ideal de manter pessoa até 21 anos, isso é uma dificuldade, pois quem entra como lobinho é difícil de chegar a pioneiro”, explica.
A disciplina é característica em todos os quatro ramos.
Os escoteiros iniciam o dia
reafirmando o compromisso ao lema e à solidariedade
Melhor possível! Sempre alerta! Servir
“Ser lobinho é que é bacana, ser lobinho é que é legal”, diz a música, uma das inúmeras cantadas pelos “meninos lobos” ao longo de sua formação. O primeiro passo do escotista acontece dentro de uma alcatéia. Diz a lenda, baseada no Livro da Jângal (The Jungle Book, de Rudyard Kipling/1904) que o pequeno Mogli ficou órfão quando o tigre Shere Khan o separou dos seus pais.
Ele ficou sob os cuidados de personagens da floresta. Bagueera, a pantera negra, o ensinou a caçar. Baloo, o dorminhoco urso marrom, lhe apresentou as leis da selva. Outros animais ajudaram a educá-lo e a prepará-lo para o mundo dos homens. Neste momento, tornam-se escoteiros.
“Tudo é orientado pela história do Mogli, de incentivo e respeito à natureza. Os mais novos têm menos maturidade, e como não dá para ter uma conversa em num nível mais apurado, passamos para nível da fantasia. Os lobinhos são sempre orientados pelos adultos, e por isso à atenção e a presença são mais constantes. Já os escoteiros se organizam sozinhos e têm mais liberdade para desenvolverem autonomia”, explica Rita de Cássia, a Bagueera.
A adesão é feita mediante uma promessa. A cerimônia traduz o momento do ingresso do jovem no movimento. Este rito de passagem é celebrado sempre que um novo lobinho é aceito pelos demais integrantes da alcatéia. “Não se promete ser perfeito, mas ser o melhor possível. O esforço é consciente”, conta Alessandro Vieira.
Profissional da área de design, Paulo Colares, 31, foi junto com os outros cinco irmãos escoteiros e lobinho. Entrou no movimento com nove anos, no mesmo ano que Caio Martins de Perotto e sua neta, Ana Luíza. “Lembro que o dia começava com a formação das matilhas, cada uma de uma cor. Tinha contato direto com o meio ambiente, com muitos encontros e acampamentos. Aprendi noções de sobrevivência na selva, de plantio de árvores e primeiros socorros. Vejo o escoteiro como um bombeiro mirim”.
O lema dos lobinhos é “Melhor possível”. Dos escoteiros e dos seniores é “Sempre alerta”. E dos pioneiros, “Servir”. Os lobinhos não acampam, mas acantonam, e estão sempre acompanhados de adultos. Já os escoteiros, seniores e pioneiros montam barracas em regiões ermas, rurais, próximo a rios, cachoeiras e montanhas.
“Tínhamos oportunidade de fazer acampamento. Viajávamos muito para as serras que ficavam ao redor de Fortaleza. Fazíamos um roteiro cultural para conhecermos casas antigas, casarões coloniais, fazendas, senzalas, engenhos. Me ajudou muito a entender a natureza e os homens”, recorda saudoso o deputado distrital Chico Floresta (PT-DF) do tempo em que foi escoteiro no Ceará.
De filho para mãe. De avô para neta
Rita de Cássia Andriole, Chefe Baguera
(responsável
por uma alcatéia ou grupo de lobinhos) e
os lobinhos
André Andriole, André Oguro
e Victor
Celso João Perotto e Rita de Cássia Andriole de Souza são exemplos de que limite de idade, no Movimento Escoteiro, só existe para os pequenos, e que os adultos não precisam ter preocupação com a maioridade. Avô e netos, mãe e filho são integrantes, vestem uniformes e têm papéis bem definidos no grupo que freqüentam. Perotto colocou os filhos, que por sua vez conduziram seus netos. Com Rita foi o contrário: ela se deixou seduzir pela proposta do lobismo e do escotismo.
“Eu e meu marido sentíamos necessidade de incluir o André num grupo social, numa comunidade, e encontramos isso no escotismo. Acho interessante essa maneira de agir do individual para o grupal. Vejo os adolescentes em conflito em relação à consciência ecológica, às coisas boas e a outros conceitos e filosofia de vida que todo pai quer passar para seu filho, mas não sabe como. Considero o escotismo muito importante para e para mim”, conta Rita, a Bagueera no Grupo Escoteiro Moraes Anta, 1º DF. Perotto é diretor técnico do Caio Martins, 6º DF. Está no movimento desde 1970, quando conheceu o fundador do seu grupo, Antônio Ribeiro de Jesus. Levou os dois filhos e, segundo conta, “passou a criar laços”. “Este é um trabalho que ajuda os jovens e as crianças a se tornarem bons cidadãos. Eles cedo aprendem que devemos nos preocupar com o ser humano e com o mundo. Deste ponto de vista, digo que o escotismo e o meio ambiente é um casamento”, opina o vovô ecologista.
Sua neta, Ana Luíza Dantas Perotto, 14 anos, foi influenciada pelos irmãos. Ela já possui uma das insígnias, o que a estimulou a cumprir uma das três etapas de conhecimento. Possui a Marrom, preferencial para os lobinhos. Sua missão foi realizar mutirões de limpeza e adquirir noções de meio ambiente. Meta cumprida, partiu para a Etapa Azul, destinada preferencialmente aos escoteiros. Está desenvolvendo um projeto de reciclagem no colégio onde estuda.
“As pessoas pensam que escotismo é só fazer fogueira no acampamento, limpar o mato ou fazer boa ação. Digo que somos um grupo de amigos envolvidos num projeto para vida, de formação cidadã”, ensina Ana Luíza.
“As pessoas pensam que
escotismo é só fazer fogueira, limpar mato ou fazer boa ação. Somos um grupo de amigos envolvidos num projeto para vida e de formação cidadã”.
Ana Luíza Dantas Perotto
Típico início de atividades no G.E. Marechal Rondon – 4º DF. Crianças,
jovens e adultos, todos unidos por um ideal
Baden Powell, o fundador do Movimento Escoteiro.
Robert Stephenson Smith Baden-Powell(foto) nasceu na Inglaterra, em 1857. Coronel do exército britânico, comandou um pequeno grupo de jovens durante uma guerra na África do Sul (1899 até 1902). Quando retornou à Inglaterra, foi recebido como herói e ficou surpreso ao saber que seu livro de instruções para os militares (Aids Scouting) estava sendo utilizado por vários jovens, em acampamentos. Baden-Powell, então, resolveu escrever um livro mais adequado aos garotos.
Logo depois, suas idéias foram sendo praticadas por tantos rapazes que o rei Jorge V o transferiu para a reserva do exército a fim de organizar esse novo movimento, em 1907. No Brasil, o escotismo foi iniciado em 1910, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, chegou em 1912.
“Muitas pessoas que vivem na
cidade quase nunca percebem a
beleza da natureza porque raramente a vêem. Seus olhos estão mais adestrados para olharem lojas, anúncios e outras pessoas e perdem um pedaço da vida”.
“O nó escoteiro é aquele que
lhe dá a certeza de manter firme.
Ele aquenta qualquer esforço e pode ser desfeito facilmente, se necessário”.
“Subir montanhas, rasgar florestas
ou penetrar nas cavernas são momentos de magia nos quais o jovem pode viver de perto a natureza, testar seus limites e, sobretudo, desenvolver a camaradagem”.
“Escotismo é uma grande fraternidade – um plano que, na prática, derruba
diferenças de classes, credos,
raças e regionalismo”.
A Lei do escoteiro
1. O escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que sua própria vida.
2. O escoteiro é leal.
3. O escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e pratica diariamente uma boa ação.
4. O escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros.
5. O escoteiro é cortês.
6. O escoteiro é bom para os animais e as plantas.
7. O escoteiro é obediente e disciplinado.
8. O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades.
9. O escoteiro é econômico e respeita o bem alheio.
10. O escoteiro é limpo de corpo e alma.
A lei do lobinho
1. O lobinho ouve sempre os velhos lobos.
2. O lobinho pensa primeiro nos outros.
3. O lobinho abre os olhos e os ouvidos.
4. O lobinho é limpo e está sempre alegre.
5. O lobinho diz sempre a verdade.
Datas e eventos
abril
23 Dia Mundial dos Escoteiros
28 Dia do Escoteiro do Ar e da Educação.
MAIO
30 Entrega da documentação para Grupo Padrão.
JUNHO
05 Dia Mundial do Meio Ambiente
05 13.º Mutirão Escoteiro Nacional de Ação Ecológica
10 a 13 Aerocampo
10 a 13 5.ª Reunião do Conselho Consultivo da UEBSeminários Nacionais e reuniões de Comissões Estratégicas43.ª Reunião do Conselho de Administração Nacional
11 Dia do Escoteiro do Mar
14 Aniversário do Escotismo no Brasil – 94 anos (14/06/1910)
18 Dia do Sênior
29 Dia do Pioneiro
JULHO
22 a 25 Aventura Sênior Nacional – São Paulo
JULHO / AGOSTO
30/07 a 10/08 12.º Moot Mundial – Taiwan
31/07 a 05/08 22.ª Conferência Scout Interamericana ( El Salvador )
AGOSTO
01 Dia do Escotismo (início do acampamento de Brownsea )
06 Dia Interamericano do Escotista
14 e 15 44.ª Reunião do Conselho de Administração Nacional
SETEMBRO
18 6.º Mutirão Escoteiro Nacional de Ação Comunitária
OUTUBRO
04 Dia Mundial do Lobinho
15 a 17 47.º Jota / 8.º Joti
Novembro
04 Aniversário da UEB – 80 anos (04/11/1924)
13 a 15 2.º Fename – Festival Nacional da Música Escoteira (BA)
13 a 15 45.ª Reunião do Conselho de Administração Nacional (BA)
13 a 15 6.ª Reunião do Conselho Consultivo da UEB (BA)
13 a 15 9.º Fórum Nacional de Jovens Líderes (BA)
13 a 15 10.º Congresso Escoteiro Nacional (BA)
13 a 15 11.ª Reunião Ordinária da Assembléia Nacional (BA)
Janeiro 2005
08 a 16 XII Jamboree PanAmericano ( Argentina )