Lutzenberger assume Meio Ambiente de Fernando Collor
23 de abril de 2004Velho Lutz faz severas críticas à caótica situação do meio ambiente no Brasil
Com a aprovação e simpatia dos ambientalistas, o agrônomo José Lutzenberger, primeiro titular da recém-criada Secretaria Nacional do Meio Ambiente – diretamente vinculada à Presidência da República – fez severas críticas à caótica situação do meio ambiente no Brasil, defendeu a abolição, pura e simples, dos incentivos fiscais para as empresas agropecuárias da Amazônia Legal, além de pedir o fim ou controle da garimpagem. O agrônomo demorou cerca de 20 dias para aceitar o convite do presidente Fernando Collor, tendo, nesse período, recebido inúmeros apelos, de seus pares ecologistas e até de entidades internacionais, para que não recusasse o cargo.
A conversão de dívida externa em projetos de meio ambiente é uma das metas do novo secretário, que há tempos vem defendendo essa forma de aporte de recursos para o setor. A conversão da dívida foi muito criticada recentemente, tanto por alguns setores da esquerda como por militares, principalmente aqueles ligados à comunidade de informações e da até agora chamada segurança nacional. Lutzenberger, porém – tido como esquerdista por empresários e pelo antigo regime militar – garante que essa “troca” de dívida por projetos ambientais não afeta de maneira alguma a soberania do País, pois as áreas a serem preservadas não serão entregues aos banqueiros credores e nem qualquer organismo internacional pretende tirar nada do Brasil. “Nós é que faremos a preservação – enfatizou o novo secretário – mas o presidente Sarney entendeu tudo errado e classificou a proposta como intromissão nos assuntos internos do País”.
E para dar mais ênfase e ampliar a preocupação ambiental, além da nova secretaria, cada ministério terá o seu departamento ou setor de meio ambiente.
Nas empresas há 14 anos
RHODIA – A Rhodia, subsidiária brasileira do grupo estatal francês Rhône Poulenc, se prepara para mais um investimento em proteção ambiental: agora serão 4,9 milhões de dólares para tratamento de efluentes químicos da fábrica de Paulínia (SP). Os líquidos com pequena carga orgânica (até 3%) serão processados biologicamente e jogados num grande lago artificial, onde a empresa aplicou 1,3 milhão de dólares. Os efluentes mais fortes estão sendo incinerados num equipamento que começou a funcionar este mês, que custou à Rhodia 3,6 milhões de dólares. As águas do lago vão desembocar, já despoluidas e limpas, no rio Atibaia, um dos principais da região.
ELETROBRÁS – O novo Plano Decenal (1990-99) da Eletrobras cancelou a construção de cinco hidrelétricas, além de proceder ao reestudo de outras quatro, devido aos negativos impactos ambientais que aquelas obras provocariam. Foram canceladas as usinas de Santa Isabel (Rio Araguaia), Pedra Branca e Belém (ambas no rio São Francisco), Ilha Grande (rio Paraná) e Capanema (Parque Nacional do Iguaçu). Serão reestudados os projetos de Apiacás, Caiabis, Ávila e Apari, todos na Amazônia.
A Folha do Meio Ambiente circulou pela 1a vez em 23 de junho de 1989. Nestes 14 anos, o jornal passou a chegar a 3.250 municípios, a todos os postos diplomáticos brasileiros no exterior, a todas embaixadas estrangeiras no Brasil e
a mais de 15 mil escolas no País.