Amazônia

De volta o fantasma da intervenção externa

15 de abril de 2004

Crise na Colômbia sinaliza que a hora é própria para o resgate do abandonado projeto Calha Norte

O agravamento da crise na Colômbia, com o fracasso das negociações entre o presidente Andrés Pastrana e os grupos guerrilheiros, a ofensiva dos grupos paramilitares de direita e o aumento da atividade do narcotráfico, trouxe de volta o fantasma de uma intervenção externa na Amazônia.
A preocupação vem sendo manifestada por parlamentares de todos os partidos que representam os Estados amazônicos no Congresso. Eles temem que um colapso no governo colombiano possa ser apresentado como justificativa para uma intervenção norte – americana no país vizinho, primeiro passo para uma regionalização do conflito.
Essa ameaça, embora venha sendo veementemente negada por Washington, levou a Comissão de Relações Exteriores do Senado, presidida pelo ex-Presidente da República, José Sarney, a convocar o Ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, para expressar o temor do Congresso de que a Amazônia venha a ser internacionalizada, sob pretexto de combater a narcoguerrilha, uma mistura de traficantes e guerrilheiros.


Resgate do Calha Norte


O momento é propício para uma tentativa de resgate do abandonado Projeto Calha Norte, uma herança dos governos militares, cujo objetivo é montar uma infra – estrutura de segurança numa extensa região da fronteira norte do país, abrangendo uma área duas vezes maior do que a França.
Segundo o senador Bernardo Cabral, do PMDB do Amazonas, o Programa Calha Norte foi praticamente extinto, quando o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão negou-se a incluir dotações para ele no Plano Plurianual de investimentos para o período de 2000 a 2003.
Também não foram alocados recursos para o Calha Norte no Orçamento Geral da União para este ano, nem para o que vai vigorar no ano 2000, cujo projeto já foi remetido ao exame do Congresso pelo Presidente da República.
Mas o senador Gilberto Mestrinho promete reagir. Como presidente da Comissão Mista de Orçamento, que examinará a lei de meios do próximo ano, ele promete alocar recursos para o Calha Norte, ainda que tenha de retirá-los de outros projetos. O senador não se conforma com a extinção do programa por uma decisão de técnicos da área de orçamento.
Os recursos previstos para o Calha Norte nos orçamentos dos próximos três anos foram absorvidos pelo Programa de Desenvolvimento Social na Faixa de Fronteira, também importante, mas sem o valor estratégico e, sobretudo, de segurança, do Programa Calha Norte.


Cooperação Brasil – EUA


Em seu depoimento na Comissão de Relações Exteriores do Senado, o chanceler Luiz Felipe Lampreia negou que a situação na Colômbia possa representar um cenário de ameaça territorial ao Brasil, ou ameaça regional.
Lampreia disse ter recebido do general norte-americano Barry McCaffrey, responsável direto pela agência norte-americana de combate às drogas, garantias de que não há qualquer hipótese de intervenção militar direta dos Estados Unidos na Colômbia.
O chanceler disse também que o governo brasileiro não acredita que qualquer intervenção externa na Colômbia possa produzir resultados positivos. O Brasil, segundo o chanceler, admite cooperar com a Colômbia no combate aos narcotraficantes e os guerrilheiros das Farc e do ELN, porém sem a participação de tropas.


A matéria na íntegra você encontra na edição de setembro da Folha do Meio Ambiente