O problema tem solução? – É lógico que tem!

19 de abril de 2004

Conheça algumas experiências que tiraram crianças do lixo e as levaram para a escola








 









Em Olinda, Pernambuco, com apoio do UNICEF, a prefeitura desenvolve o projeto “Meio Ambiente e Cidadania”, no lixão de Aguazinha. As 330 crianças e adolescentes que trabalhavam ali agora têm uma história de vida diferente para contar. Eles estão de volta à escola ou começaram a estudar. 20% deles nunca tinha frequentado uma sala de aula.


O antigo lixão na histórica cidade pernambucana, que é patrimônio cultural da humanidade, é agora um aterro controlado.


Os familiares das crianças, que ganhavam em média um salário mínimo por mês, reuniram-se em associações, como a Associação de Recicladores de Olinda (ARO) e a Associação Reciclar para Mudar de Vida e conseguiram aumentar suas rendas. Em Olinda, eles não são chamados de catadores, mas de trapeiros. O sonho da maioria deles: ter uma casa com jardim.


Também pelo projeto, as crianças com menos de seis anos são atendidas na creche Sal da Terra, que tem um programa de combate à desnutrição. Para os adolescentes, são oferecidos cursos profissionalizantes, além da escola. Dez deles já se formaram no curso de mecânica, oferecido pela Escola Técnica Federal de Pernambuco.


O projeto tem ainda ações de Educação Ambiental em quatro bairros populares de Olinda, onde as pessoas aprendem sobre a importância de se dispor o lixo em locais apropriados, reciclagem e conservação do meio ambiente urbano.


Teresina
Em Teresina, Piauí, o UNICEF apóia um projeto nos bairros populares de Parque Dagmar Mazza e Vila São Francisco, onde 86 famílias vivem da catação do lixo. Mas há boas novas.


Graças ao projeto “Lixo e Cidadania”, iniciado há um ano, com a coordenação da Secretaria Municipal da Criança, 215 meninos e meninas daqueles bairros estão voltando a estudar. A chave do sucesso: as famílias recebem bolsa-escola de R$ 100,00 da prefeitura para manter seus filhos na escola. Assim, as crianças não trabalham mais no lixão.


Ainda há muito o que ser feito: a entrada do lixão não é controlada durante a noite e alguns adultos continuam catando restos de comida no aterro. O objetivo do projeto é acabar de vez com isso. O Lixo e Cidadania pretende capacitar adultos e adolescentes maiores de 16 anos para a coleta seletiva, transformando-os em verdadeiros agentes ecológicos.


Natal
Em Natal, Rio Grande do Norte, o projeto “Lixo e Cidania” oferece creche e atividades de esporte, lazer e artes para as crianças no horário contrário ao da escola e brincadeiras. O programa beneficia 510 crianças e adolescentes, a maioria com idades de 7 a 14 anos. A iniciativa tem apoio da Secretarias de Educação e do Trabalho, dos Conselhos Tutelar e Municipal da Criança e do Adolescente, Juizado de Infância e Juventude e Associação de Catadores.


Fortaleza
Em Fortaleza, Ceará, a catação tinha acabado no aterro do Jangurussu. Mas houve descuido e as famílias retornaram. Agora, com apoio do UNICEF, o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente está pesquisando qual a melhor forma de retirar 20 crianças e adolescentes do trabalho no lixão. Para atender as famílias, o CEDECA, o Conselho da Mulher e outras entidades vão colocar em prática um projeto de atendimento integral às 150 famílias do Jangurussu para promover ações de saúde, educação e assistência social.


Salvador
Garrafa de vidro para um lado, papel branco para o outro. Assim passavam o dia 330 crianças e adolescentes que trabalhavam no Lixão da Canabrava, em Salvador, Bahia. Em 1997, com apoio do UNICEF, a Empresa de Limpeza Urbana da cidade iniciou ali um projeto para tirar meninos e meninas do Lixão. Os pais das crianças passaram a receber bolsa-escola de R$ 50,00 por criança e os pequenos voltaram ou começaram a estudar. Passaram também a frequentar divertidas aulas de capoeira, dança e artes plásticas. Para quem tem mais de 15 anos, são oferecidas oficinas de profissionalização em Reparo de Eletrodomésticos e Jardinagem. Em junho, os meninos que saíram do lixão de Canabrava participaram de uma animada festa junina, a primeira depois que deixaram a catação de lixo e foram integrados em escolas.


Marajó
Na Ilha do Marajó, Pará, o Projeto Cidade Limpa, Cidade Linda é desenvolvido nos municípios de Breves, Melgaço e Portel, com apoio do UNICEF. Locais privilegiados pela beleza de suas praias e de sua paisagem, a principal via de acesso a esses lugares é o rio.


No entanto, pesquisa realizada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi constatou que, a cada ano, dois milhões de recipientes são jogados no rio. Além disso, a Ilha tem alguns dos piores indicadores sociais da Amazônia e entre 40 e 60% dos problemas de saúde são decorrentes da deficiência de saneamento básico, incluindo-se a questão do lixo.


Pelo Projeto Cidade Limpa, Cidade Linda, estudantes, professores, secretários municipais de educação, saúde, cultura, universitários, policiais, comerciantes e empresas de navegação uniram-se em um grande mutirão pela educação ambiental e pela reciclagem do lixo.


Nas escolas, os currículos incorporam a questão do meio ambiente, principalmente a relação do homem com a natureza. Enquanto isso, a comunidade promove festas, festivais de teatro, de dança, música, gincanas e cursos onde se promovem debates sobre questões ambientais e sobre gerenciamento do lixo.


Manaus
Em Manaus, Amazonas, há pouco mais de um ano, 2.300 mil famílias que moram às margens do igarapé do Bodozal, se mobilizaram para mudar sua realidade.


Com apoio do UNICEF e da Pastoral da Criança em Manaus, o Projeto Bodozal pretende reverter as péssimas condições de saneamento, de coleta de lixo irregular e de graves problemas de saúde do bairro.


O Projeto foi desenhado pelos próprios moradores. Entre suas principais preocupações, está o manejo do lixo. As famílias se organizaram e cobram da prefeitura coleta regular do lixo – que era jogado no igarapé, abaixo das casas das pessoas – recipientes onde a população possa dispor os resíduos até a coleta. Até o final de 1999, a comunidade vai desenvolver no bairro um sistema de reciclagem comunitário, com uma feira mensal para troca e venda de produtos reciclados. O lixo já não se acumula mais dentro do igarapé e entre as casas. A comunidade está cada vez mais organizada.


Belo Horizonte
Belo Horizonte também tem uma experiência rica para contar. Ali, nos galpões de triagem de lixo da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (ASMARE) de Belo Horizonte, criança só entra para participar das aulas de reforço escolar promovidas com apoio da Prefeitura e do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Todos os filhos dos associados com idade escolar têm que estudar.


Nas férias escolares, as crianças participam de mostras de filmes, de oficinas de teatro e de papel reciclado e fazem excursões aos parques da cidade.


Criada em 1990, com apoio da Pastoral de Rua de Belo Horizonte, a ASMARE foi escolhida como principal parceira da Prefeitura municipal para a coleta seletiva na cidade. A prefeitura cede os galpões de triagem, equipados com prensas, balanças, banheiros e cozinha. Ali, os catadores adultos separam o lixo e preparam fardos de papel, vidro e plástico para vender. Ali, também, eles se alfabetizam, participam de programas de educação sobre meio ambiente, saúde, planejamento familiar, cooperativismo etc.


As famílias com crianças pequenas recebem bolsa-escola para manter os filhos estudando. Uma creche está sendo construída com apoio da fundação francesa Daniele Miterrand.


Na cidade, também foram espalhados contêineres para depósito de material a ser reciclado. Neles, as pessoas podem depositar, separadamente, papel, plástico e vidro. Assim, a população se sente parte importante do processo de gerenciamento do lixo da cidade.


Os adolescentes maiores de 14 anos frequentam a escola e nos galpões participam de oficinas profissionalizantes. Constroem e consertam os carrinhos de tração dos catadores, aprendem a fazer móveis com madeira reaproveitada e conhecem técnicas de pátina e envelhecimento das madeiras.


A parceria da Associação dos Catadores com a Prefeitura recebeu menção honrosa do Prêmio de Conservação Ambiental Henry Ford, nos Estados Unidos.