O Óleo e o Mico

7 de abril de 2004

O triste fim do lubrificante queimado

O Brasil possui uma frota de 28 milhões de veículos registrados (DENATRAN, 1997), incluindo veículos de passeio, caminhões e ônibus. Somam-se a esses uma quantidade enorme de máquinas industriais que utilizam o óleo lubrificante, sem o qual simplesmente não funcionam.

Mais de 50% desses equipamentos circulam no Estado de São Paulo, particularmente no extenso parque industrial da sua Região Metropolitana, constituída por 39 municípios, a mais industrializada, rica e populosa da América do Sul, com espetacular potencial autopoluidor e extremamente vulnerável.

Por outro lado, a população do internacionalmente famoso mico-leão-dourado, cuja preservação preocupa um grande número de pessoas, não deve ultrapassar 600 indivíduos, habitando predominantemente a Mata Atlântica.

Em termos de preocupação ambiental, essa fauna ocupa muito mais a atenção da mídia, das ONGs, dos contribuintes e dos estudantes em geral, do que o destino do óleo "queimado" no carter de seus carros. Trata-se apenas de simpatia pelo primeiro ou desconhecimento sobre o segundo assunto?

Que o mico-leão-dourado mereça toda a atenção, juntamente com a baleia, que também enfrenta derramamentos de óleo nos mares, e tantas outras espécies em risco de extinção, não paira dúvida alguma. E que também é um assunto mais "ameno" e não ameaça em nada a saúde do ser humano, idem. E que, portanto, não é prioridade número um da sociedade, da mesma forma.

Óleo queimado

Voltemos ao assunto dos óleos queimados.

Os óleos lubrificantes básicos são obtidos diretamente a partir do petróleo bruto ou então são reciclados a partir de óleos já usados, aos quais adicionam-se, obrigatoriamente, aditivos especiais, altamente poluentes (antioxidantes, anticorrosivos, dispersantes, antidesgastantes, antiespumantes, reguladores de viscosidade, etc). Quando utilizados, contaminam-se ainda mais com poluentes diversos, como metais pesados, por exemplo. Portanto, quando se dirige um carro, caminhão, ônibus, não se está lançando apenas gases e até fumaça (particulados) no ambiente, mas utilizando, passivamente, poluentes altamente tóxicos na lubrificação forçada das peças metálicas do motor. Essa peças fatalmente se desgastam, somando então mais contaminantes perigosos aos componentes dos aditivos.

Esse óleo contaminado ("óleo vencido"), importante recurso econômico para uma nação e não um lixo qualquer, que você substitui por "óleo novo" (rerrefinado ou não), tem três destinos bem diversos. Um deles é a queima, geralmente descontrolada, em caldeiras industriais, podendo dar a sua contribuição negativa à atmosfera (5 litros podem conter até 20 gramas de chumbo). O outro, é o econômico e ecologicamente correto, o rerrefino. Por fim, o outro tipo de destino é o simples descarte no meio ambiente, tremendo desperdício energético.

Só para se ter uma noção quantitativa do problema, que normalmente escapa até ao mais fanático "ecólogo-de-passeata", a PETROBRAS, através de seu relatório "Rerrefino de Óleos no Brasil"(Araújo, 1992), aponta uma situação dramática, conforme estimativas a seguir, em números redondos (dados atualizados em 1997):

Desde total disponível no Brasil, somente 1/3 é coletado, contra mais de 2/3 em países civilizados. A Alemanha coleta quase todo o seu óleo usado.

O agravante dessa situação fica, portanto, por conta do volume não coletado para o processamento do rerrefino, conforme determina a legislação. Segundo estudos e dados disponíveis no Sindicato Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais, o volume não coletado é de mais de 246 milhões de litros!

A matéria na íntegra você encontra na edição de novembro da Folha do Meio