Área de Interesse Ecológico

SOS para a ilha Queimada Grande

1 de abril de 2004

Pesquisadores preocupados com falta de controle da pesca esportiva pedem criação de um novo parque

 







Vista aérea da ilha Queimada Grande e mapa de sua localização. Apenas 14, das 150 ilhas de São Paulo, têm suas áreas protegidas


A ilha conta ainda com uma peculiaridade: é povoada por cerca de 15.000 serpentes da espécie Bothrops insularis, conhecida como jararaca ilhoa. Estas serpentes são endêmicas, e o isolamento geográfico da ilha favoreceu seu desenvolvimento há uns 10.000 anos. Parentes das jararacas continentais, estas espécies possuem um veneno até 20 vezes mais potente e desenvolveram a capacidade de subir em árvores para garantir a presa, na maioria aves. As águas no entorno da ilha são povoadas de uma infinidade de animais marinhos como barracudas, caranhas, peixes-frade, arraias, tartarugas e peixes voadores, só para citar alguns. Com uma ótima visibilidade, em torno de 20m, suas águas escondem importantes naufrágios como o ?Tocantins? (cargueiro de 110m) e o navio mercante ?Rio Negro?.


Ilhas protegidas em SP


Apenas 14, das 150 ilhas, possuem suas áreas marinhas protegidas por Unidades de Conservação de Proteção Integral. Das 14, apenas a Lage de Santos é protegida como parque, o que garante que se realizem pesquisas científicas, educação ambiental e turismo ecológico. De acordo com Danielle Paludo, oceanógrafa do Ibama, existe uma expectativa antiga dos cientistas e ambientalistas para que o governo tenha uma ação mais forte na ilha da Queimada Grande.


Como gerente do Programa Marinho da Conservation International do Brasil, Guilherme Dutra diz que o estabelecimento de áreas marinhas protegidas é uma estratégia de conservação relativamente recente e que tem por princípio contribuir, simultaneamente, para a conservação de parcelas importantes da biodiversidade marinha e a recuperação da produção pesqueira. O Programa Marinho da CI-Brasil vem apoiando a criação e implementação destas áreas para garantir a conservação dos ecossistemas marinhos no brasil. Em 2003, a Conservation e o Ibama realizaram uma expedição científica para descrever os ambientes marinhos em torno da ilha. Os resultados surpreenderam, pois além de uma grande abundância de corais, comparável à cobertura de Abrolhos, foram observadas muitas espécies de peixes, incluindo uma agregação reprodutiva de caranhas – evento nunca antes registrado no Brasil.


Em 7 de agosto do mesmo ano foi realizado um seminário para a recategorização da ilha da Queimada Grande pelo Ibama, Projeto Tamar, Instituto de Biociências, Instituto Butantã, Fundação Florestal e o Programa Marinho da CI-Brasil. Neste seminário, todos os setores presentes – inclusive os operadores de mergulho e colônias de pescadores – apoiaram a categoria de Parque Nacional para a ilha. Com tanta proteção dá para desenvolver um ecoturismo sustentável, ou mesmo científico, na região? Guilherme Dutra responde que sim, sem a menor dúvida. E explica: ?A maior ameaça observada é a pesca amadora, especialmente a caça submarina. Acreditamos que a atividade turística nesta área poderá ser incrementada com a criação do Parque, havendo o incentivo do mergulho contemplativo em detrimento de práticas destrutivas ao ambiente. Nos Parques Nacionais a atividade de uso público mais estimulada é o ecoturismo, que deve, por definição, ser uma atividade ambientalmente sustentável?.


Após a criação do novo Parque Nacional Marinho, um plano de manejo deve ser elaborado, pois este é o documento que normatiza as atividades desenvolvidas na unidade. Com isso, haverá necessidade de maiores investimentos em pessoal e infraestrutura para implantação da Unidade de Conservação, o que aumenta a efetividade de sua proteção.


Maiores informações
“Programa Marinho da Conservation International do Brasil”
Rua das Palmeiras, 451, Caravelas – BA
Cep: 45900.000
Tel/ Fax: (73) 297 1499
www.conservation.org.br