Tráfico ilegal de animais silvestres cresce e só perde para comércio de drogas e de armas
29 de abril de 20044 milhões de aves são comercializadas ilegalmente por ano no mundo
No Brasil, o tráfico de animais silvestres só perde para o comércio ilegal de armas e drogas, movimentando no país cerca de 1 bilhão de dólares por ano e 10 bi em todo o mundo. O fato acontece porque temos a maior biodiversidade do planeta. Somos o primeiro país em espécies de mamíferos (524) e, desse total, são exclusivas 131 espécies.
Com tanta variedade, enfrentamos hoje o problema de diversos mamíferos estarem em extinção como o lobo guará, o tamanduá bandeira, a jaguatirica e a onça pintada. Com isso, o Brasil está na lista do 40 país em número de espécies mamíferas ameaçados e só perde para a Indonésia, China e Índia.
Com as aves, o problema também se repete. Temos 1622 espécies sendo que 103 desse total estão ameaçadas. Infelizmente, nesse grupo o país só perde para a Indonésia, que tem 103 espécies em extinção. “As aves são muito cobiçadas por colecionadores e para criação doméstica porque além de serem bonitas, podem falar, não tem alta periculosidade e são de fácil trato”, explicou Raul Gonzalez Acosta, diretor presidente do zoológico de Brasília. Estima-se que, por ano, 4 milhões de aves sejam comercializadas ilegalmente no mundo.
Uma arara comum chega a ser vendida por 5 mil dólares. Mas há algumas espécies brasileiras que são caríssimas como a arara azul que custa no mercado negro cerca de 80 mil dólares. “Essa espécie está em extinção e atualmente, só tem uma na natureza. Infelizmente, apesar de ser uma ave típica brasileira, a maioria delas estão no exterior e foram contrabandeadas”, explicou Acosta.
O jacaré foi outro animal que entrou em extinção. Sua pele era muito usada para fazer casacos de pele, sapatos e cintos. A partir da década de 80 esse quadro melhorou com a autorização de criação comercial em fazendas. Mesmo assim, estima-se que 10 milhões de peles de répteis são comercializadas ilegalmente no mundo.
“Há quadrilhas especializadas no tráfico de animais e que são bem estruturadas para a venda ilegal”, disse Acosta. “Cerca de 70% do comércio são para consumo interno e o restante, é exportado para o exterior”, disse. Segundo o diretor do zoológico, a operação envolve muita gente e começa com os capturadores. “São eles que caçam os animais em seu habitat e os vendem para o intermediário por R$ 0,50 a unidade. Se for uma espécie rara, o valor pode triplicar”, explicou.
A rota
Acosta disse que a apanha acontece em lugares que têm grande biodiversidade como a região norte, o pantanal e o nordeste. “Curiosamente, essas são as regiões mais pobres do país e por isso, o capturador ganha muito pouco pelo animal que capturou”, avaliou. As principais áreas de captura estão nos estados do Maranhão, Bahia, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Minas Gerais e região amazônica.
Depois, o animal passa por vários intermediários até chegar nos grandes comerciantes que ficam no eixo Rio-São Paulo. Nas duas capitais acontece o maior voume de vendas. Segundo o diretor do zoológico, nas grandes cidades, os animais tem diversos destinos. “Muitos são vendidos ilegalmente em feiras, outros vão para criadores ou criadouros e para o exterior”, explicou. “Quando exportados, o destino é normalmente Ásia, Europa ou Estados Unidos. “É comum acharmos na feira de Praga (Europa) araras brasileiras por R$4 mil”, afirmou. “Ou seja, o animal que foi capturado por R$0,50 é vendido lá fora por oito mil vezes mais”. “O ramo é tão lucrativo que a máfia russa já entrou no tráfico de animais”, acrescentou.
De acordo com relatórios da Interpol, a atividade está frequentemente ligada ao comércio ilegal de álcool, pedras preciosas e até de armas. Já houve casos de encontrarem pacotes de drogas escondidos dentro de animais vivos.
Programa busca combater o tráfico
O Programa Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres no Brasil começou em 1997 e é uma parceria entre as polícias Federal, Florestal, e Rodoviária, presidência da República, Casa Militar, Infraero, secretarias municipais e estaduais do meio-ambiente , receita federal, CNPQ, zoológicos e empresas do setor público.
O trabalho é desenvolvido a partir de técnicas sigilosas de inteligência com o objetivo de desmontar o tráfico no país. Esses órgãos trabalham interagidos e usam de diversos instrumentos para conter o tráfico como as leis de crimes ambientais, decretos, portarias e instruções normativas sobre o assunto.
Venda em beiras de estrada é insignificante diante do comércio ilegal que existe
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Animais silvestres são vendidos ilegamente na BR-116
À beira da BR 116 que liga o Estado da Bahia ao Rio de Janeiro, vendedores ambulantes oferecem a viajantes animais silvestres da região. O comércio ilegal acontece a 10 quilômetros da cidade de Feira de Santana. Entre a paisagem seca e o asfalto, meninos menores de idade tentam vender micos.
Se algum interessado pára o carro, alguns minutos depois chega um adulto para dar maiores informações. Cada animal recém nascido custa R$30. Segundo a informante, ela é intermediária e recebe o animal de outra pessoa que o captura. Ela demonstra que sabe que a venda é ilegal e diz que a polícia nunca apreeende o bichinho. “É só colocá-lo no fundo do porta-malas dentro da caixinha que eles não vêem”, disse. Para ele se alimentar na viagem, é só colocar no local uma banana”, acrescentou.
Veneno de animais peçonhentos também é vendido ilegalmente
Os animais peçonhentos também são alvos do tráfico de animais silvestres. Apesar de não serem bonitos, eles oferecem uma coisa altamente rentável, de interesse principalmente das farmácias – os venenos. Segundo a Sigma Chemicals Co, St Louis, nos Estados Unidos o preço da grama é avaliado em dólar. O da aranha marrom é o mais caro e custa U$245.700, o que daria para comprar 24 carros populares no Brasil.
Criação em viveiro pode ser legal
É possível criar aves em viveiros, legalmente para comercialização, desde que a espécie não esteja em extinção e que tenha autorização do Ibama. Um bom exemplo é o Sítio São Domingos, próximo a Goiânia. Na terra, o casal de suíços Dora e Marco Sulzbach conseguiram registro para criar e comercializar há três anos aves de bico torto não ameaçadas de extinção.