Gente do Meio

ZÉ THÉO

25 de maio de 2004

O ferrenho defensor do rio São Francisco


E agora José?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!


Zé Théo, para os íntimos era, na verdade, José Theodomiro de Araújo, um profundo conhecedor e, talvez por isso mesmo, um ferrenho defensor  do rio São Francisco.
Zé Théo viveu estudando, mostrando os problemas e buscando soluções para a bacia do Velho Chico. Foi um dedicado à causa. Natural de Afrânio-PE e engenheiro agrônomo formado na Faculdade de Cruz das Almas, Universidade da Bahia, morreu em dezembro de 2003. Deixou um legado de trabalhos para a engenharia brasileira e para o gerenciamento dos recursos hídricos, mais particularmente em favor da bacia do rio São Francisco. Esta, sim, uma paixão que, juntamente com a sua família, acompanhou Zé Théo até o último momento.
Dona Geny, sua esposa, nascida em Coité, conta que o conheceu logo que ele ali chegou, para tomar posse em seu primeiro trabalho, na Ancarba – Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural da Bahia. “Zé Théo chegou à repartição, colocou a pasta sobre a mesa de trabalho e exclamou: – E agora José?, você está em Coité!” E recitou Drummond…
Nunca dado a lamúrias, sempre alegre, muito respeitado pelos colegas, Zé Théo conversava com o “barranqueiro” do São Francisco com a mesma atenção e interesse com que se dirigia às maiores autoridades do País. Era sua forma de ser.
Foi-se de nós, mas deixou muitas   contribuições. De ordem acadêmicas, operacionais e administrativas. Do São Francisco ele é a própria história e  lenda, tendo sido um dos poucos cidadãos que passaram por todas as sub-bacias do rio. Navegou-o das nascentes à foz, retendo de memória todos os afluentes pelas duas margens, conhecendo seus problemas, para os quais sempre ofereceu propostas de solução.
Zé Théo fez um alerta ainda no século que terminou: o rio São Francisco está morrendo pouco a pouco e a sua recuperação está em nossas mãos, seus gestores, seus usuários, seus cidadãos. Dizia que medidas urgentes teriam que ser tomadas para evitar o assoreamento, a poluição e a degradação de um dos mais importantes rios brasileiros que é responsável por 75% das águas que correm no Semi-Áridol. Mas Zé Théo morreu antes de ver o São Francisco totalmente recuperado.
Deixou uma folha de serviços riquíssima e, sem dúvida alguma, seu longo período como presidente do Ceivasf – Comitê de Estudos Executivos Integrados da Bacia do São Francisco foi um exemplo de rara abnegação, numa época em que a gestão hídrica não recebia nenhuma forma de apoio para tornar concretas as ações discutidas no âmbito do comitê.
Ele soube dar projeção a esse comitê em favor do qual jamais mediu esforços para melhorar as condições do rio, em termos de qualidade de suas águas, base para o cumprimento do papel social que carrega consigo uma bacia hidrográfica do calibre do São Francisco.
O que se espera é que seus estudos, seus exemplos e seu alerta sejam ouvidos justamente agora que se discute um Plano diretor da bacia. Fazer um bom trabalho é a melhor forma de se homenagear a memória de José Theodomiro de Araújo!
Raymundo Garrido é professor da UFBA.