Pinheiros do Paraná

Até o Exército abre luta pelas araucárias

22 de julho de 2004

Esquadrão de Cavalaria de Francisco Beltrão-PR ajuda a repor matas ciliares com araucária

Foto1: “Mano, vamos fazer uma floresta lá em casa!”, clamou o menino ao ajudar no transporte de mudas


Foto2: A solidão do pinheiro salta aos olhos nas áreas de produção de soja


A parceria com o Exército tem finalidade dupla: ajudar na recuperação de um dos símbolos do Paraná, cuja floresta ombrófila mista cobria mais de um terço do seu território – agora cobre apenas 0,6% -, sem esquecer da providência inadiável de repor as matas ciliares no sudoeste. “A iniciativa aproxima o 16º Esquadrão da comunidade. É a nossa contribuição social para melhorar a qualidade de vida desta região”, confirma o capitão Carlos Daniel Police, o serviço inédito das Forças Armadas. A alimentação dos soldados será fornecida diariamente pela Sadia.
O recebimento de sementes de espécies nativas, doadas pelos estudantes às escolas a partir de 2002, e repassadas ao horto municipal, tem na verdade um caráter simbólico, educativo, “o grosso da produção de mudas é feito com sementes selecionadas compradas de empresas idôneas”, conta Dal Prá.


Cem mil pinheiros
por ano
No caso da araucária, as doações serão importantes. O apoio de um caminhão e o serviço dos soldados irão viabilizar a coleta de sementes, transporte de mudas e materiais usados no horto – onde novos canteiros de 75 m2 ocupam uma área de dois mil m2, toda cercada para impedir a ação de roedores. Esta área adicional recebeu este mês 106 quilos de sementes (pinhão) da região de Guarapuava.
Também está confirmada para servir ao programa uma varredura anual numa área de mais de 500 alqueires da Fazenda Crestani, no município catarinense de Palma Sola. “A previsão é recolher só nesta fazenda até 20 sacos de 50 quilos de sementes em cada colheita cedida pelo proprietário”, informa o servidor do Ibama. Do que deverá vingar, ele calcula: “teremos 100 pés de pinheiro-do-Paraná por cada quilo plantado”.


O que mudou
no Sudoeste  
Há dois anos, a Folha do Meio Ambiente publicou uma reportagem que mostrava como o Ibama, a Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel) e o frigorífico Sadia desenvolviam um programa de educação ambiental na região sudoeste, mobilizando escolas em 42 municípios para realizarem a soltura de alevinos em rios e riachos, e ainda começando uma reposição de matas ciliares na região, monitorada também pelas prefeituras.
O então noticiado trabalho de convencimento dos proprietários rurais no município de Ampere, por meio de medidas compensatórias, conseguiu proteger totalmente a faixa regulamentar de 30 metros de mata vizinha às margens do rio Sarandi que abastece o município. Em outros municípios da região, a luta para implantar a reposição ganhou este ano um aliado no Programa Mata Ciliar do governo estadual, que almeja em médio prazo ver 50% de todas as matas ciliares em processo de recomposição.
Dois anos depois, estudantes voluntários e até os seus irmãos menores (veja foto) acompanham o trabalho do Ibama no horto florestal de Francisco Beltrão. Hoje, a BAP exerce mais a função de catalisadora de parcerias (reunindo colaborações das prefeituras, órgãos estaduais, empresas, escolas, associações de classe e do comércio). Deixou de ser apenas produtora e distribuidora de alevinos. Estudantes de todas as idades entusiasmam-se com a possibilidade de dedicar o seu tempo para a recuperação do meio ambiente. No ensino pós-médio, técnicos agrícolas formados nos cursos de um ano do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), no município de Dois Vizinhos, aprendem a proteger as nascentes que existem no campus, usando mudas de árvores nativas produzidas no local, e a produzir utilizando-se de hortas orgânicas.
O problema da falta de água nas propriedades rurais está elevando a atenção para a importância ecológica da cobertura vegetal e, em especial, das árvores maiores que demoram a crescer. “Elas são ‘objetos’ mais palpáveis do que os alevinos usados no repovoamento monitorado dos rios. Elas estão a nossa volta, em todo lugar praticamente. Em nosso ambiente doméstico, nas ruas, em centenas de objetos que utilizamos ou comemos”, observa Dal Prá.
A adesão crescente aos temas e atividades de educação ambiental, num estado fadado à agricultura, deve-se muito a esses entes magníficos que são as espécies florestais. Mais facilmente visíveis pela percepção das pessoas, elas são, vivas ou trabalhadas, potências que criam um elo ativo, significante da relação com o meio ambiente.