Uma viagem pelo Velho Chico da nascente à foz
26 de agosto de 2004Primeira viagem fluvial de Iguatama, no Alto São Francisco, ao oceano Atlântico
A partida da Expedição foi em clima
de festa e alguma apreensão.
Os expedicionários fizeram questão de levar a bandeira do Brasil e a dos seis estados e do DF que estão na bacia
hidrográfica do rio São Francisco
O projeto – Para comemorar os 500 anos de descoberta do rio São Francisco, fizemos esta expedição, um projeto aprovado pela Codevasf. Principal objetivo: sensibilizar a população ribeirinha e todos os brasileiros para o grave processo de degradação porque passa o rio.
Da expedição nasceria um diagnóstico e propostas de revitalização por meio da educação ambiental, criação de comitês, implantação do turismo ecológico, descobertas das paisagens naturais e culturais, as rotas e trilhas dos pioneiros e naturalistas.
Outro objetivo: somar esforços com a expedição Engenheiro Halfeld, que já descia a partir de Pirapora, com o objetivo de apresentar à Unesco proposta de tornar determinados sítios históricos e áreas naturais como Patrimônio da Humanidade. E, ainda, esta guardada a sete chaves, saber a extensão exata do rio e a altitude das nascentes. Seriam mesmo 2700km ou 3161km?
Em 32 dias conhecemos lugares diferentes e surpreendentes, com paisagens naturais, artificiais e degradadas que ficarão para sempre na nossa memória. A proposta do Ibama em participar da expedição foi no sentido de diagnosticar os impactos sócio-econômicos na bacia, que foram numerosos e preocupantes, conforme descrevemos no diário de bordo em parceria com o colega Sérgio Luiz Ferreira.
Triste retrato – Constatamos que o poderoso rio sofre uma pressão permanente. Vimos minerações desordenadas, nascentes e lagoas-berçários de alevinos drenadas e assoreadas implacavelmente de ponta a ponta, focos de pré-desertificação desde as cabeceiras, as matas ciliares e de topo desaparecem a olhos vistos. O potencial piscícola autóctone é prejudicado por cinco grandes barragens. Mas o potencial paisagístico natural e humano extrapola nosso sentimento e falta adjetivos para descrevê-los.
Percurso – Nesse percurso sub-continental rio abaixo no período de 12 de novembro a 14 de dezembro de 2001, visitamos 22 cidades, realizamos 15 audiências públicas e duas reuniões técnicas, somando três mil pessoas.
O grupo teatral de Graça Melo da 4ª SR/Codevasf em Aracaju apresentou no bojo da expedição seu projeto de educação ambiental, atingindo sete mil pessoas; um total de 15 milhões, somando 8% da população do País dos 504 municípios vivem na bacia.
A navegabilidade do trecho entre Iguatama e a ponte Pompéu-Abaeté fora constatada pela Codevasf, a PIPES e a Polícia Ambiental, sob o comando do major Adilson Teófilo Elias.
A profundidade mínima de 0,90m e “canais” superiores a 10 metros de largura, entre pedrais, pilares de pontes e galhadas, permitiria a passagem do PIPES, que pesa 17ton., tem calado de 0,60m, largura de 3,10m e 17,10m de comprimento, chegaríamos ao lago de Três Marias a 250 km. Com pequeno convés e bancos para 50 pessoas, casa de máquinas e gerador, foi ainda instalado a bordo o site www.americovespucio.com.br em tempo real.
O barco e a tripulação da empresa PIPES Navegação, de Carolina-MA, coordenada por Nilde Espírito Santo, seguiram por terra na carreta Scania. Intensas chuvas e a abertura da rampa para lançar a barca às águas, atrasou a largada por quatro dias, aproveitados para a construção da Carta de Iguatama na Escola Superior de Biologia e Meio Ambiente, documento oficial da expedição, com entrega em maciça audiência pública no ginásio olímpico, porém foi publicada inacabada, sem desfecho. Dela participaram o geógrafo Costa e Silva e a engenheira agrônoma Valmira Mecenas.
Grandes itens foram propostos: demarcar a área total de 200 mil hectares do Parque Nacional da Serra da Canastra, criar o Parque Estadual da Mata de Pains, com 60 km², e interligando os dois parques, a APA das Dez Cidades-Mães do S. Francisco, com área de 7.200 km²; investimentos em fruticultura irrigada e piscicultura etc. numa região onde já adentra a soja.
Participantes – Participaram da expedição a Codevasf, Ibama, Embrapa, Sebrae, SRH, OEA/SRH, SRHMA/GDF e Delgitec, representantes da terceira idade, artesanato/folclore, universitários da UnB e UniCeub, multimídia e equipes das filmagens, e a coordenadora Domo. Localmente visitou-se a usina de lixo, fábrica da White Martins, estação de trem de Garças de Minas, pontes de ferro, carranca e outros, e em São Roque foi dado o abraço às nascentes (histórica). Por falta de tempo não foram visitadas as cavernas na Mata de Pains, que abrange 500 km² em vários municípios das cabeceiras.
Finalmente a barca foi descida às águas. Sob a expectativa da multidão ela escorregou, foi a pique e embicou no fundo. Mais um dia para o resgate. Tudo que veio depois caiu já na voz dos pescadores… Os relatos estão em 448 páginas que dá título a esta série. Outros 15 relatos técnicos e diários de bordo virão em cinco capítulos a serem publicados na Folha do Meio Ambiente.
Mais detalhes visite o site:
www.americovespucio.com.br