Proteção da fauna

Pará: criatório conservacionista inaugura hospital veterinário

27 de setembro de 2004

Com capacidade para atender 20 animais e com médico veterinário residente é a primeira unidade hospitalar em criadouros no Brasil.

O médico e
ambientalista José Guataçara Corrêa Gabriel montou um criatório-hospital no município de Terra Alta, região nordeste do Pará. Além da proteção da fauna, Gabriel faz um trabalho social com as crianças


Construído na mesma área do criadouro, o hospital, inaugurado no mês de julho, garante o atendimento de 20 animais e internamento para 12 em gaiolas fixas. “Dispõe de consultório, bloco cirúrgico, laboratório, local para quarentena e residência médica. O criadouro tem uma singularidade, abriga animais com seqüelas, vítimas de crueldades e maus tratos. “Até os que estão a caminho da eutanásia e ninguém os quer, eu recolho”, diz o conceituado ortopedista e traumatologista Gautaçara, em tom de naturalidade. Mas, respira fundo, e diz que a princípio “chegaram a levantar suspeitas que eu estava fazendo biopirataria”, desabafa.
A Fazenda Paricuiã, uma bela área verde com 65 mil metros quadrados abriga o criadouro, que hoje conta com 306 animais silvestres entre aves, pássaros, pacas, veados, cutias, jacarés, macacos e quelônios, todos entregues pelo Ibama. Muitos ainda revelam seqüelas, como o gavião mateiro que levou um tiro na perna, um jacaré cego e, o veado “bambi”, que será operado para corrigir deficiência visual.
Outras vítimas de maus tratos e crueldades como a bela arara, do tipo canindé, que teve a asa direita quebrada por traficantes de animais, e os tucanos entregues debilitados, foram reintegrados a natureza.
O filhote de cachorro que nasceu sem as patas dianteiras terá a implantação de prótese. O nascimento este mês, de uma anta, aumentou o rebanho de Gautaçara, que conta ainda no açude natural com cinqüenta quelônios e  piscicultura com o manejo de várias espécies de peixes da região. Os vinte primatas não humanos (macacos) conhecidos popularmente como aranha, prego, gauriba, chuim e barrigudo merecem atenção especial por atitudes que imitam os humanos, como o macaco prego que gosta de se exibir “lendo” revistas aos visitantes.


Trabalho social
Registrado há um ano no Ibama, o criadouro de Gabriel dá provas concretas que sua visão ambientalista extrapola a preservação da fauna. Há seis meses desenvolve, com recursos próprios, trabalho sócioambiental com o projeto “Paricuiã – a serviço da natureza e do social”, colocando em prática o que o governo prega – inclusão social.
No criadouro, “nós temos 14 crianças na faixa etária de 8 a 12 anos que cuidam da produção de mudas de plantas ornamentais, discutem preservação da natureza, cidadania e recebem orientações pedagógicas da professora Rosinete Furtado da Silva, sobre a flora amazônica e cuidados com animais silvestres”, informa Guataçara. As crianças que residem no entorno do criadouro, durante três dias da semana, ao lado das mães, cuidam do plantio de mudas, praticam esportes, almoçam e, no final da tarde retornam para suas casas. “Recebem transporte, cesta básica e 120 reais/ano – depositado numa poupança que no fim do ano é utilizada para a compra de material escolar”, explica a professora Rosinete.
O gerente do Ibama no Pará, Marcílio Monteiro, crê  nas parcerias e nos criadouros que caminham no sentido de preservar a fauna silvestre, com inclusão social. O criadouro de Guataçara cumpre as exigências da Portaria 139/93, do Ibama, que regulamenta a criação racional da fauna silvestre com assistência adequada em criadouros científicos, conservacionistas e comerciais.
A portaria, entretanto, não exige unidade hospitalar, explica a médica veterinária Maria do Carmo Brígido, responsável pelo Núcleo de Fauna do Ibama. Ela acredita que os Criadouros se constituem excelentes parceiros e contribuem no combate ao tráfico de animais silvestres.
 Divulgado este ano pelo Congresso Nacional, o Relatório da CPI da Biopirataria, cita os criadouros como instrumentos necessários. Entretanto, cobram regras mais claras para que possam contribuir, efetivamente, no combate ao tráfico de animais silvestres na Amazônia.