Parque Estadual de Terra Ronca

27 de setembro de 2004

Onde a terra ronca, as águas cantam e a natureza seduz


O Parque Estadual de Terra Ronca, destinado a proteger o patrimônio espeleológico, nascentes, rios interiores e cachoeiras, bem como a fauna, flora e a paisagem natural do mais expressivo conjunto de cavernas do Centro Oeste brasileiro, foi criado pela Lei nº 10.879, de 7 de julho de 1989. Para chegar ao parque, partindo de Brasília, deve-se tomar a BR-020 até Posse-GO, e dalí segue-se para a cidade goiana de Guarani, de onde toma-se a estrada para o povoado de São João.


Foto:Povoado de São João Evangelista salpicado pelas flores de uma sibipiruna


 



foto: Boca da Terra Ronca 2 também conhecida
como Gruta Malhada


A entrada sul do parque está junto ao rio São Bernardo, próxima à caverna de Terra Ronca. A entrada norte fica na rodovia GO-108, a cerca de 10 km de São Domingos, no trevo com a GO-110, que vai para Iaciara, Nova Roma e Alto Paraíso.
A área de 57.018 hectares e os limites do parque foram estabelecidos pelo Decreto nº 4.700, de 21 de agosto de 1996. Até hoje os moradores permanecem dentro do parque, com criações de gado, porque as indenizações pela desapropriação ainda não foram integralmente pagas pelo governo de Goiás.


foto: Abaixo, janela do
salão 700 na gruta
São Mateus.
À direita, detalhe
de estalactite
formado pelo gotejar
da água no calcário


Em sua volta foi criada, em 1996, a Área de Proteção Ambiental (APA da Serra Geral) sob responsabilidade da Agência Goiana do Meio Ambiente. Infelizmente, muitas carvoarias podem ser vistas na APA.
Gruta dividida – Para os ecoturistas que costumam freqüentar o Parque a entrada da gruta já impressiona: são 90 metros de altura. Conhecer a gruta Terra Ronca, explicam eles, é para quem não se importa com o escuro, nem de andar com as botas encharcadas, nem de nadar no meio de um rio submerso. “Há um trecho em que tivemos que nadar para atravessar o rio de um lado a outro da caverna, tudo, é claro, mas só com a luz da carbureteira”, arrematou um visitante ao lado do guia.



foto:Caverna São Bernardo formada pelo rio São Bernardo, afluente do rio Paranã


Formada pela ação imemorial das águas do rio Lapa sobre o paredão calcáreo, a caverna sofreu, há milhares de anos, um desabamento, que causou sua divisão em duas partes. A primeira, com cerca de 750 m de extensão, pode ser visitada com facilidade. A segunda parte exige um guia turístico. É chamada de Terra Ronca 2 ou Malhada, também de proporções gigantescas. Possui duas clarabóias, uma delas chamada “Buraco das Araras” e um imenso ambiente chamado “Salão dos Namorados”, com imensas dunas subterrâneas atravessadas pelo rio. Os ambientes são ornamentados por ricos estalactítes e estalagmites.


foto: As carvoarias rondam o Parque. Osmar Pires, da Agência Ambiental de GO, prometeu combater a ação dos carvoeiros. Por enquanto só promessa


Mais de 200 cavernas
São conhecidas mais de 200 carvernas na região. As principais são a Angélica, São Bernardo, São Mateus e a de São Vicente, que podem ser visitadas por turistas devidamente acompanhados por guias locais. Todas as cavernas emprestam o nome dos rios que as formam. São rios que nascem nas veredas, ao pé da Serra Geral de Goiás, e correm em direção ao maciço calcáreo, perfurando a rocha (carste) criando cavernas e depois seguindo em direção aos grandes rios da bacia amazônica.
Vale a pena visitar esse patrimônio natural onde a terra ronca, as águas cantam e a natureza seduz.
Cuidados especiais: é fácil se perder nas cavernas, por isso recomenda-se guias
especializados. Há infraestrutura simples em São Domingos. Bom mesmo é ficar nas pousadas do Povoado São João, no coração do Parque.


foto: Abaixo protesto de ONGs e  membros da
comunidade do Povoado São João.


Espeleologia


SOS Terra Ronca: patrimônio a ser salvo
Enquanto o Estado brasileiro dorme, Terra Ronca desperta


foto: A direita reunião das ONGs com a participação
do presidente do Forum das ONGs,
Donizete Tokarsky (de chapeu), Paulo Maluhi e
 Luís José ?Lula? Cunha Lima (OCA), e da
própria comunidade.


Edmar Gonçalves,
de Terra Ronca
Em agosto, o Parque Estadual de Terra Ronca, também conhecido por PETER, recebeu todo o Comitê Gestor da Reserva da Biosfera-Goyaz, para um encontro para discutir vários pontos relacionados à questão fundiária, ao manejo do parque, à
implementação de projetos de educação ambiental e ao desenvolvimento
sustentável da região.
O Comitê existe há quatro anos e só agora todos os seus membros visitaram o parque, apesar de Terra Ronca ser uma das três áreas núcleo da Reserva da Biosfera. As outras são o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros e o Parque Municipal do Itiquira,
em Formosa-GO


 A Reserva da Biosfera do Cerrado foi declarada Patrimônio da Humanidade, pela Unesco, em novembro de 1996, dada a importância planetária da região para preservação do bioma Cerrado, que vem sofrendo um desmatamento acelerado. Esse é mais um esforço para conservar esse importante ecossistema para as futuras gerações.
No dia 14 agosto, no povoado São João, situado no coração do Parque, vilarejo que conta com um população tradicional de aproximadamente 300 pessoas, o Movimento SOS Terra Ronca, formado por proprietários de pousadas e lideranças locais, formatou um conjunto de reivindicações ao Comitê Gestor da Reserva da Biosfera-Goyaz. Uma das principais exigências está o pedido de inclusão definitiva do núcleo nas reuniões e ações futuras de gestão, com o objetivo de por fim ao longo período de exclusão do PETER na Reserva da Biosfera do Cerrado. Foi pedido também que o Parque de Terra Ronca integre os projetos estratégicos da Agência Goiana de Turismo – Agetur.
O Movimento SOS Terra Ronca tem por objetivo defender o parque em todos os sentidos, ajudando no seu manejo e valorizando o desenvolvimento sustentável da comunidade local. Aliás, os habitantes da região reivindicam mais atenção da Agência Ambiental de Goiás, bem como a indenização dos proprietários de terras dentro do parque, recriação dos conselhos consultivos e fiscalização efetiva e programas de educação ambiental.
A questão fundiária do PETER é considerada emblemática pelas lideranças do Movimento. Até hoje, dos 55 mil hectares, apenas 7 mil foram regularizados. Das 226 propriedades, apenas 37 foram indenizadas. E o pior: as poucas indenizações que foram feitas obedeceram critério político. Houve privilégios. Aliás, o Ministério Público Federal de Goiás move um processo contra a Agência Ambiental goiana e até contra o próprio Ibama, através do Centro de Estudos de Cavernas – Cecav, responsável pelo complexo espeleológico do PETER, tido como um dos maiores e mais importantes do planeta.  Também o IPHAN – Instituto Nacional do Patrimônio Histórico, é réu no processo. Motivo: abandono dos sítios paleontológicos e arqueológicos existentes.
A Agência Ambiental de Goiás apresentou um programa de indenizações a ser implantado de imediato, concordando em atender as reivindicações do Movimento SOS Terra Ronca.  Para o moviemento, a prioridade são os pequenos proprietários e  donos de terras que tem bocas de cavernas. Os proprietários também querem legitimar uma comissão com direito de acompanhar a agenda de desapropriações, diretamente em Goiânia. O objetivo é evitar o que já aconteceu outras vezes: o não cumprimento de promessas e até mesmo o desvio das verbas destinadas às indenizações.
A Agetur, na última reunião, apresentou o Plano de Desenvolvimento Turístico da Reserva da Biosfera Goyaz. Membros do SOS Terra Ronca temem que mais uma vez o Parque fique de fora dos planos e prometem brigar se isso acontecer.
Vale destacar a iniciativa da OCA, uma ativa Ong de Alto Paraíso, que promete realizar ainda esse ano, bem na boca da caverna, uma apresentação de música clássica denominada 1o Concerto no Coração da Terra. Segundo o historiador e guia turístico Luís José ?Lula? Cunha Lima foi escolhido a música clássica com cantores líricos porque ela tem baixo impacto nos frágeis espeleotemas (estalactites, estalagmites e outros) da caverna.