Prêmio Nobel da Paz

Ambientalista do Quênia ganha Nobel da Paz

20 de outubro de 2004

De tanto plantar árvores, Wangari Maathal colheu o prêmio mais importante do mundo







Foto  –  Reuters


Foto: Em 2002, Wangari Maathal foi eleita para o parlamento do Quênia com 98% dos votos, sendo então escolhida pelo governo para ser a vice-ministra do Meio Ambiente


Na sua primeira entrevista, depois de comunicada sobre a escolha do Prêmio Nobel, Maathal tomou duas atitudes: primeiro fez questão de plantar mais uma árvore no jardim do hotel Outspan, onde recebia os cumprimentos, e declarar para os jornalistas presentes que “quando plantamos árvores, plantamos a paz!”.
Para o Comitê Norueguês do  Nobel, Maathai está na vanguarda da luta pela promoção de um desenvolvimento social, econômico e cultural ecologicamente viável no Quênia, e em toda a África. Ela tem uma visão holística do desenvolvimento sustentável, que abrange a democracia, os direitos humanos, especialmente, os direitos da mulher. Maathai faz o típico trabalho recomendado em todas as Conferências de Cúpula das Nações Unidas: “pensar em termos globais e agir em termos locais”.


Política
Maathai tomou posição corajosa na luta contra o antigo regime opressor no Quênia. Seu modo único de ação contribuiu para chamar a atenção para a política de opressão, tanto a nível nacional como internacional. Ela tem sido fonte de inspiração para muitos na luta pelos direitos democráticos, encorajando as mulheres, especialmente, a melhorar sua situação. A verdade é que a ativista queniana sabe combinar ciência, engajamento social e política. Mais do que simplesmente proteger o ambiente existente, sua estratégia visa assegurar e fortalecer a base de um desenvolvimento sustentável.
Wangari Maathal fundou o Movimento do Cinturão Verde (Green Belt Movement), pelo qual, por quase 30 anos, tem mobilizado mulheres pobres a plantarem 30 milhões de árvores. Seus métodos foram adotados também por outros países.
Proteger as florestas contra os processos de desertificação é um ponto crucial na luta para fortificar o meio ambiente e a vida em nosso planeta. Atuando em quatro direções (educação, planejamento familiar, alimentação e luta contra a corrupção) o Movimento do Cinturão Verde tem pavimentado o caminho para o desenvolvimento.
O Comitê Norueguês do Nobel, ao escolher Maathai para receber o Nobel da Paz, ratificou sua posição de que a líder queniana é porta-voz das melhores forças da África, para promover a paz e boas condições de vida no continente. “Ela serve como exemplo e fonte de inspiração para todos aqueles  que lutam pelo desenvolvimento sustentável, democracia e paz”. O Prêmio será entregue no dia 10 de dezembro, em Oslo, quando é lembrado o aniversário da morte de Alfred Nobel.
(Leia Editorial na página 4)


FRASES de Wangari Maathal


“O prêmio vai ter um grande efeito no aumento da conscientização e do número de pessoas preocupadas com o meio ambiente. E deve aumentar também os direitos dos ecologistas porque agora os governos dos diversos países verão mais concretamente a importância do trabalho de quem luta pelo meio ambiente”.


“Eu já fui presa várias vezes. Recebi muitas pancadas pelo meu trabalho. Não quero revolução, quero apenas defender o meio ambiente, plantar árvores, porque com
o equilíbrio da natureza aumentamos as nossas chances de sobrevivência”.


“Como vice-ministra do governo quero promover uma luta pelas árvores, pela natureza, pelos animais, pelo direito das mulheres e das minorias”.


“Quando falava com as mulheres simples do campo – aqui no Quênia as mulheres são as principais responsáveis pelo trabalho na agricultura – elas reclamavam que não tinham mais lenha  porque não havia mais árvores. Aí pensei comigo: e se todos nós começarmos a plantar árvores? Resolvemos esse problema e melhoramos a qualidade do solo, combatendo a erosão, e melhoramos também o ar que respiramos. Até hoje, já conseguimos plantar 30 milhões de árvores, não só no Quênia, mas também em alguns países vizinhos que aderiram a Movimento Cinturão Verde”.


“Cada região do mundo tem uma luta diferente. Mas todos têm a preocupação ecológica. Acompanhei o que acontecia na Europa, de onde tiramos inspiração
para criar o nosso Partido Verde. No Brasil, acompanhei também o trabalho
de Chico Mendes, que lutou pela preservação da floresta Amazônica.
Chico Mendes também mereceu o prêmio. E acompanhei também, com
satisfação, a democratização do Brasil, um país que admiro, e gostei muito de ver um partido de esquerda e defensor dos direitos humanos chegar ao poder”.


“As guerras no mundo são sempre guerras por disputa de recursos naturais.
Ao defender o meio ambiente, plantamos a paz!”