Rolex premia ambientalista brasileiro

20 de outubro de 2004

Laury Cullen quer recompor mais de 20% da Mata Atlântica

ENTREVISTA Laury Cullen, 38 anos, é
 coordenador de pesquisas do
IPÊ – Instituto de Pesquisas
Ecológicas. Faz PhD no Instituto Durrell de Conservação
Ecológica, na  Universidade de Kent, e Ashoka Fellow.
O brasileiro receberá um cheque de US$ 35,000 e um cronômetro Rolex de aço e ouro. Cullen
fala sobre seu trabalho:


Nos últimos nove anos, Laury Cullen Jr tem focado seus esforços para conservar fragmentos remanescentes da Mata Atlântica. Ele trabalha com pequenos proprietários de terras e está provando que as técnicas agroflorestais podem reanimar o solo degradado, enquanto preserva a floresta e sua excepcional fauna. Seu sonho é aumentar o número de corredores reflorestados no estado de São Paulo e ajudar mais de 400 novas famílias a viverem do agroflorestamento. Laury Cullen explica que o projeto vai acarretar benefícios para todos.


Como é possível que tanta Floresta Atlântica tenha sido destruída? Não havia tentativas precedentes de parar a destruição?
Laury Cullen – Tanto foi destruído principalmente por causa da maneira como a terra foi ocupada nesses 80 ou mais anos. Os pecuaristas e as usinas de açúcar são a razão principal de tanta floresta ter sido perdida. Há outros esforços para conservar a Mata Atlântica, mas somente nós e talvez umas duas ONGs estamos trabalhando nessa grande escala.


Como você convence pessoas pobres e sem-terras que eles devem se importar com a floresta e o ambiente?
Laury – Nós temos experiência em trabalhar com os sem-terras que ocupam terras já degradadas. Por essas pessoas terem um solo muito pobre, a única maneira de fazer com que ele seja produtivo é através da atividade agroflorestal. Nós os ensinamos a respeito e mostramos a eles como essa atividade é boa para produzir sombra e reter a água.
Qual o maior desafio deste trabalho?
Laury – Há aproximadamente 6 mil famílias estabelecidas no Pontal do Paranapanema. Estamos trabalhando com umas 500 famílias. Nosso maior desafio é manter uma equipe para ajudar a dar suporte e envolvê-las mais ainda na atividade correta.


A destruição do meio ambiente deprime ou incentiva mais o seu trabalho?
Laury – Sim e sim! Não é sempre fácil fazer com que as pessoas comecem a adotar seus esforços de conservação, especialmente em uma região muito pobre. As pessoas têm que pensar, em primeiro lugar, como podem encontrar o alimento. Nós temos que ter essas pessoas do nosso lado para ter sucesso na conservação ambiental. Temos que mostrar e provar que se adotarem o modelo agroflorestal elas vão poder ter mais sucesso e melhorar o seu sustento.


A Mata Atlântica ainda tem futuro ou é tarde demais? Qual o objetivo final do seu projeto?
Laury – Nosso objetivo é restaurar pelo menos 20 a 30% do interior da Mata Atlântica original. Achamos que trabalhando com fazendeiros e donos de terras é possível conseguir isto. Nossa experiência mostra que encontramos uma maneira de aumentar a consciência ambiental e fazer as pessoas adotar métodos eficazes na atividade agroflorestal. Agora é apenas uma questão de tempo e de apoio.


O prêmio


Foto: Laury Cullen atuando no seu ambiente de trabalho


O Rolex Awards for Enterprise foi criado em 1976 e é promovido a cada dois anos. Tem um objetivo básico: dar apoio financeiro a projetos relevantes. O comitê julgador é formado por especialistas de renome internacional e premia pessoas independente da nacionalidade ou idade. Nas últimas edições, três brasileiros figuraram entre os contemplados: o engenheiro Fernando Eduardo Lee (1981) e o biólogo Manuel Pereira de Godoy (1987). Com menção honrosa, o terceiro a ganhar o prêmio, entre os cinco primeiros principais laureados, em 2002, foi o ecologista florestal  José Márcio Ayres, que criou a reserva de Mamirauá. Ele concorreu com mais de 1.400 candidatos de todo o mundo, tendo sido premiado na categoria de Meio Ambiente. O projeto de Ayres foi idealizado para preservar o corredor de maior florestas tropicais  do mundo fazendo dos habitantes protagonistas de sua conservação na  região da Amazônia.
Entre as categorias julgadas no prêmio estão: de Ciência e Medicina; Tecnologia e Inovação; Exploração e Descoberta; Meio Ambiente e Patrimônio Cultural.
Como o prêmio Rolex é dado de dois em dois anos, as inscrições para o The Rolex Awards for Enterprise 2006 já estão abertas e vão até 31 de maio de 2005.


Mais informações: www.rolexawards.com