Celso Zílio: Terra Ronca pode passar para patrimônio federal
20 de outubro de 2004Foto: “Soubemos que há um projeto de passar todo patrimônio de Terra Ronca para a esfera da União. Embora isto não resolva a questão, em tese o governo federal dispõe de mais recursos”.Celso Zílio Folha do Meio – Qual a importância das cavernas do Centro-Oeste para a Sociedade Brasileira de Espeleologia? Celso Zílio – Constitui… Ver artigo
Foto: “Soubemos que há um projeto de passar todo patrimônio de Terra Ronca para a esfera da União. Embora isto não resolva a questão, em tese o governo federal dispõe de mais recursos”.
Celso Zílio
Folha do Meio – Qual a importância das cavernas do Centro-Oeste para a Sociedade Brasileira de Espeleologia?
Celso Zílio – Constitui objetivo estatutário da SBE a preservação das cavidades naturais brasileiras. As cavernas do centro-oeste brasileiro, contudo, merecem atenção especial por conterem as mais belas formações espeleológicas ativas (espeleotemas) do país e, quiçá, do mundo.
FMA – Em termos científicos quais as classificações adotadas para as cavernas existentes no Parque e Terra Ronca?
Celso – Não entendemos o que quer dizer “classificação científica de uma caverna”, porém, podemos afirmar que as cavernas do Peter têm relevante interesse científico, particularmente na área da bioespeleologia, por comportarem diversas espécies de peixes troglóbios (peixes cegos, despigmentados), únicos no mundo.
FMA – Qual o potencial deste patrimônio?
Celso – O potencial espeleológico do patrimônio do Peter é ainda muito grande, embora a maior parte das cavernas horizontais, formadas por rios ativos, já tenha sido explorada, topografada e cadastrada. Restam, contudo, centenas de abismos a serem explorados na região. O potencial turístico é também muito grande, desde que haja infra-estrutura e o processamento racional dos recursos naturais e humanos.
FMA – Existem políticas de preservação adotadas pela SBE em relação ao patrimônio espeleológico da região?
Celso – A Sociedade tem como filosofia a preservação de cavidades naturais em geral. Mas a política de proteção a esses recursos deve ou deveria ser gerida pelo CECAV-Ibama, que tem a competência legal para atuar nessa função, fiscalizando tal patrimônio que, por força constitucional, é considerado de proteção permanente da União. A SBE colabora com a proteção de várias formas, entre estas, apresentando denúncias aos órgãos competentes, difundindo os conhecimentos espeleológicos, principalmente mostrando sua importância através de congressos, site e publicações, etc.
FMA – Segundo informou a SOS Terra Ronca, a preservação deste patrimônio está bastante comprometida. A SBE tem conhecimento da situação?
Celso – Sim, a área do Peter está bastante ameaçada. A SBE tem acompanhado a questão, porém não tanto quanto gostaríamos, em face dos nossos parcos recursos financeiros, posto ser a entidade uma ONG, de direito privado, de utilidade pública, mantida exclusivamente pela anuidade dos sócios individuais e grupos de espeleologia. Não recebemos quaisquer auxílios ou recursos públicos.
FMA – Parece que a SBE enviou um representante à região. Houve algum relatório?
Celso – Sim. No início do ano dois representantes da SBE estiveram na região, tendo feito um relatório que se acha à disposição em nossa secretaria. O relatório aborda os problemas de forma abrangente e foi encaminhado à Agência Ambiental de Goiás e a Administração do Parque.
FMA – O senhor sabe se existe alguma ação do Ministério Público contra órgãos governamentais, como a Agência Ambiental Goiana, o Centro de Estudos de Cavernas do Ibama e o Iphan, pelo descaso em que se encontra o Parque?
Celso – Olha, vou falar genericamente, pois desconhecemos os detalhes.
FMA – O que é possível fazer para reverter esse quadro de omissão dos organismos públicos?
Celso – No último dia 3 de agosto conversamos com o diretor do Cecav-Ibama sobre isso. Soubemos que há um projeto de passar todo patrimônio de Terra Ronca para a esfera da União.
Embora isto não resolva a questão, em tese o governo federal dispõe de mais recursos. Pelo menos a situação não deve piorar…
FMA – Segundo o SOS Terra Ronca, a SBE mesmo convidada, não enviou representante ao encontro sobre Reservas da Biosfera, ocorrido em agosto no Parque…
Celso – A SBE foi convidada por e-mail, mas só com quatro dias de antecedência, o que impossibilitou nossa participação, contudo nos prontificamos a ajudar na medida de nossas possibilidades, sendo que até o momento não recebemos nenhuma solicitação. A princípio acreditamos que toda reunião com as pessoas ou organismos interessados seja profícuo.
FMA – Como a SBE pode ajudar e participar desse movimento?
Celso – A SBE prontifica-se a ajudar no que for possível. Todavia nossa participação é limitada às restrições financeiras no que atina a estudos e viagens que tenham que ser feito à região. Mas todo nosso acervo documental está à disposição dos que querem ser auxiliados.
FMA – A SBE pretende incluir o parque estadual em seu programa de capacitação profissional e cursos de espeleologia, uma vez que existe uma população carente de recursos e guias despreparados para o exercício da função?
Celso – No que for possível.
“Conversamos com o diretor do Cecav-Ibama sobre isso. Soubemos que há um projeto de passar todo patrimônio de Terra Ronca para a esfera da União”.