A lenda do índio Piripiri
24 de novembro de 2004Em noite de lua cheia, a jovem índia apaixonada deveria envolver os pés de Piripiri com seus longos cabelos, enquanto ele dormia. E adormecer a seu lado.
A priprioca (Cyperus articulatus L.), da família das ciperáceas Cyperaceae, típica na Amazônia, é uma espécie de capim alto, rizomatosa, e com pequenas flores nas extremidades dos caules. Sua aparência, despida de qualquer exuberância, não revela a “fragrância” contida em seus ríizomaes. Ela é utilizada pela população cabocla e indígena da região em perfumes e como cosméticos. Também em banhos perfumados e como remédio. Seu nome é originário da língua tupi: piripiri – junco pequeno, e oca – casa.
A lenda – De acordo com a lenda dos índios Aruaca, do Amazonas, registrada em língua tupi pelo pesquisador Antonio Brandão de Amorim, em 1926, o misterioso guerreiro indígena Piripiri seduzia todas as cunhatãs (índias) de sua aldeia com um suave, porém irresistível, perfume que exalava de seu corpo. Por esse motivo, era perseguido pelas jovens índias. Quando se via preso, produzia uma nuvem de fumaça perfumada e desaparecia. Perdidamente apaixonada por Piripiri, uma das índias perguntou ao seu pai, Sapi, o pajé da tribo, o que deveria fazer para conquistar definitivamente o belo índio. Convencido a atender os apelos da filha, Sapi ensinou-lhe o encanto para prender Piripiri: em noite de lua cheia, a jovem deveria envolver os pés de Piripiri com seus longos cabelos, enquanto ele dormia. E adormecer a seu lado.
Na manhã seguinte, no entanto, o guerreiro havia desaparecido para sempre, mas a cunhatã notou que no lugar onde Piripiri dormira estava uma planta diferente, que emanava o seu perfume. Desse dia em diante, as índias perceberam que aquele suave cheiro entontecia os corações masculinos e passaram a usar a planta em banhos, lavando os cabelos com a infusão das raízes raladas.
O pajé Sapi contava a todos que Piripiri tinha ido para o céu e se transformado na constelação de Arapari, as Três Marias da constelação de Órion. A planta recebeu o nome do índio por ter se tornado a sua morada – Piripiri-oca, priprioca ou “a casa de Piripiri”.
Pouco conhecida pela maioria das pessoas, a priprioca possui um aroma único, que é extraído de suas rizomasaízes e que remete aos povos indígenas, descobridores dos excelentes efeitos dessa planta. Atualmente, já industrializado, o perfume da priprioca pode ser conhecido e usado por todos aqueles que apreciam um aroma suave e ao mesmo tempo exótico.
Existem inúmeras outras plantas brasileiras com propriedades aromáticas, muitas ainda desconhecidas do grande público e não exploradas no ramo industrial da perfumaria, dos cosméticos e de alimentos. É necessário que se intensifiquem as pesquisas nessa área, incentivando, assim, um incremento do uso das plantas aromáticas brasileiras como matéria-prima de vários produtos na produção de vários produtos, em substituição às matérias-primas não-que incorporam componentes naturais.