AMBIENTE-SE

Horário de verão e o ambiente

10 de dezembro de 2004

Com o início do horário de verão a questão energética foi retomada. Pipocam debates institucionais e campanhas na base do “precisamos economizar energia”.Respingos a mais que vem e vão, deixam sua contribuição e enchem de entusiasmo quem pouco está preocupado com a questão a médio e longo prazo. Tudo bem encaminhado, até deparamos com dados… Ver artigo


Com o início do horário de verão a questão energética foi retomada. Pipocam debates institucionais e campanhas na base do “precisamos economizar energia”.
Respingos a mais que vem e vão, deixam sua contribuição e enchem de entusiasmo quem pouco está preocupado com a questão a médio e longo prazo.
Tudo bem encaminhado, até deparamos com dados que abalam tanto otimismo. Se compararmos o consumo de setembro último com o mesmo período do ano passado, observamos um aumento no consumo de 7,85%.
Mas comparar e identificar natureza de uso (público ou privada) não bastam.
Importa reconhecer que cresce a demanda no consumo de energia e, como usuários, somos responsáveis por esse déficit.
Sempre resistentes a mudanças de comportamentos e atitudes, poucas pessoas são capazes a renunciar ao conforto e a dizer não ao desperdício.
Esse é o problema.


Atitudes chaves
Ética e responsabilidade social são as palavras-chaves do momento.
Mais do que conceito, é preciso entender estas palavras-chaves como uma importante atitude a ser assumida.
Uma atitude que exige comprometimento e total transparência.
Mesmo que alguns indicadores apontem para o avanço da ação social, de caráter meramente filantrópico, e ser um componente importante da governança corporativa, não se pode correr o risco de uma mera retórica ou movimento de marketing.
Há de se reconhecer progressos na concessão de benefícios e incentivos. Mas fica uma interrogação, quando inexiste menção de qualquer responsabilidade das instituições financeiras a eventuais prejuízos causados ao ambiente.
É impossível permitir uso de propósitos ambientais como vitrine.


Balanço transparente
Recente pesquisa feita pela UFRJ, para algumas empresas do setor siderúrgico, de celulose e petroleiro mostrou que é difícil reconhecer a existência de seus passivos ambientais e identificar a natureza de investimentos em meio ambiente.
Quando comparados ao faturamento, eles não atendem ao modelo estabelecido pelos padrões internacionais de contabilidade. Faltam dados e transparência.
O mesmo não acontece com o setor de cosméticos. A exemplo, a Natura está  longe de contrariar auditorias contábeis. Recentemente foi reconhecida pela Global Reporting Inciativ (GRI) como a primeira do setor no mundo a integrar em um só balanço informações financeiras, indicadores ambientais e responsabilidade social.
Para a Natura, “não faz sentido dentro da estratégia de gestão fornecer informações financeiras desvinculadas do resultado socioambiental.”
Desmentindo muita gente, é possível lucrar e investir em meio ambiente.


Ecoeficiência e prudência
O produtor brasileiro começa a perceber as vantagens da agricultura orgânica.
Na prática, diversificar culturas e usar recursos do próprio ambiente podem tornar o negócio mais rentável. E mais: desmistifica velhos dogmas.
Pede menos mão de obra que a agricultura convencional e as dificuldades de escoamento são idênticas.
Por tudo isso, as iniciativas de plantio estão em franco desenvolvimento. Dificuldades de logística: ainda é difícil o acesso ao consumidor.
A solução está no aumento da produção, redução de custos, amplianção dos canais de vendas.
Hoje o consumidor mais esclarecido aceita pagar mais por produtos orgânicos.
Resultado da  eficiência econômica e prudência ecológica.


Fundação Espaço Eco
A Basf anunciou a disposição de investir, em parceria com Agência Alemã de Cooperação Internacional, R$ 4 milhões até 2009 em ações ambientais. E cria a Fundação Espaço Eco, um centro de excelência, referência em geração de tecnologia e conhecimento, à disposição de empresas de diferentes portes.
A proposta é ter como base metodológica a análise do ciclo de vida dos produtos, ferramenta de gestão ambiental que possibilita avaliação dos impactos destes sobre a natureza, desde a extração dos recursos à sua disposição final.    
O início das atividades está previsto para 2005 e a receita gerada será reinvestida no próprio espaço, em ações educativas junto a comunidade.


Pilhas e baterias:
irresponsabilidade oficial

Se para o Ibama “ainda é uma guerra definir competências para destinação de pilhas e baterias”, imagine-se como fica o consumidor nesse tiroteio, estimulado a ter um comportamento responsável, de descarte correto dos resíduos.
O que é ser correto, se 40% das pilhas vendidas entram no Brasil fora dos padrões exigidos internamente, com teores de metais pesados até sete vezes acima do permitido, sem nenhuma punição?
Antes que tudo caia em descrédito, que se apresse à revisão da Resolução Conama 257/99 e se estabeleça uma nova Política de Resíduos.
A verdade deve ver dita: chega a ser irresponsável chamar o cidadão a participar da gestão do seu ambiente se são tão frágeis tanto os instrumentos disponíveis quanto as instituições que cuidam da questão.


Brasil precisa de uma política para
os resíduos sólidos

O VII Seminário Nacional Sobre Resíduos Sólidos, veio para fortalecer posicionamentos e reafirmar convicções, em meio às discussões  da Política Nacional de Resíduos, ainda não concluída. A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária-ABES reuniu de 22 e 24 de novembro, em São Paulo, profissionais atuantes e comprometidos com a resolução de um dos maiores problemas ambientais do País, o lixo. A tônica do seminário foi clara: o assunto é complexo, mas é necessário implantar sistemas de gestão eficientes por parte dos geradores de resíduos. O xis da questão está no plano gerencial e nas áreas das decisões políticas. Não na área técnica.
O foco principal do encontro foi a avaliação dos projetos sociais, que tem resposta econômica, pois apresentam resultados positivos no que diz respeito ao redirecionamento dos produtos, geração de empregos e redução da degradação ambiental.
Cerca de 70 trabalhos técnicos, visitas técnicas, mais de trinta estudos de casos específicos refletiam diferentes realidades e ricas experiências. Uma verdadeira produção de conhecimento. Diria mais, da teoria à prática.
O objetivo central foi alcançado: somar esforços e viabilizar ações. As críticas sobre a Política de Saneamento Ambiental também foram bem vindas. Houve intervenções pesadas no sentido de buscar incentivo à redução dos resíduos na fonte e uma melhor qualificação de quadros técnicos dos governos.
Para Ana Lúcia Assis Brasil, Secretaria Executiva da ABES,  foi “mais uma  oportunidade de aproximação dos diferentes atores e instâncias e a construção de novos conhecimentos”.
Uma conclusão: ficou evidente que falta ao Brasil uma Política Nacional de Resíduos. Mais: esta política não deve ser estruturada somente pelo mundo oficial, mas deve envolver a sociedade e buscar experiência acumulada nestas últimas décadas.