Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque
23 de fevereiro de 2005Quinze expedições científicas estudam as riquezas naturais do Amapá onde há preservação de 95% da florestas
Fotos: 1 – Pithys albifrons, mãe-de-taoca de topete
2 – Atelopus spumarius
3 – Artibeus gnomus
E qual a grande vantagem do Amapá sobre os outros estados da Amazônia? Simples: 95% de sua floresta estão preservados. Isso não significa que seja intocável. Mas aí está a necessidade do estudo das expedições para promover um zoneamento econômico e ecológico para desenvolver sustentavelmente a região e, assim, preservá-la. A floresta densa de terra firme é uma amostra de um dos ecossistemas mais representativos do estado, além de sua rica vegetação, topografia e rios de corredeiras com enorme potencial para o ecoturismo.
As expedições científicas no Amapá são lideradas pela ONG Conservação Internacional, em parceria com o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, o Ibama, a FAB e o Exército Brasileiro.
Enrico Bernard, biólogo e coordenador de projetos da ONG Conservation International chefiou a expedição e, segundo ele, dentre todos os desafios, o maior foi chegar até a área demarcada para as pesquisas: “O curso dos rios é permeado por grandes troncos de árvores que impedem a passagem dos barcos. Dos seis batelões (embarcações de madeira de até 9 metros) disponíveis para levar a equipe ao acampamento, apenas três chegaram no dia programado. Os outros barcos, incluindo o que eu estava, tiveram que encostar às margens do rio ao cair da noite por total falta de visibilidade. Dormimos molhados e sem comida, mas o esforço valeu a pena”.
A flona do Amapá está localizada na parte central do estado e possui uma grande diversidade de florestas tanto de áreas inundadas como de terra firme, além de formações rochosas. Jeandreson Melo, assistente de campo do grupo de aves, conta que um dos melhores momentos da expedição foi a descoberta de dois afloramentos rochosos bem no meio da mata: “Era uma pedra do tamanho de dois campos de futebol de extensão e 80m acima da copa das árvores, de onde se avistava 360º ao redor.” Jeandreson mora na comunidade local e prepara-se para o vestibular de biologia, um sonho que tem desde os nove anos de idade. Aficcionado por botânica ele diz que aprendeu muito com a natureza: “Na floresta você percebe o seu papel. Mas precisa prestar atenção para não fazer parte da cadeia alimentar daquele ecossistema.”
O herpetólogo (especialista em répteis e anfíbios) Jucivaldo Dias Lima, pesquisador do IEPA, identificou 25 espécies de sapos, 19 de lagartos, fora as serpentes, que ainda está analisando. Ele, que já participou de mais de seis expedições deste gênero, se diz surpreso com a quantidade de espécies que, até então, só conhecia na literatura: “Ainda temos que consultar outros especialistas na área, mas há um potencial de haver uma nova espécie de sapo dentre as coletadas. Está entre os sapos mais coloridos que já vi, com um tom azul forte e manchas alaranjadas.”
Também foram registradas pegadas e vocalizações de onças na região. Bernard explica que a presença de mamíferos, como as onças pintadas e as onças pardas, indica a saúde da floresta, já que estes animais só existem quando há fartura de outros mamíferos de pequeno ou médio porte.
Como estes mamíferos estão no topo da cadeia alimentar, são os primeiros a desaparecer em fortes processos de perturbação.
Para garantir a observação destas espécies foi usado um sistema de armadilhas fotográficas, distribuídas ao longo de toda a área de pesquisa. As imagens obtidas serão tratadas e vão revelar alguns dos hábitos destes felinos e de outras espécies que tenham se exposto aos sensores das câmeras durante a estada dos pesquisadores na flona.
A equipe, graças ao apoio do Ibama, da FAB e do Exército, conseguiu montar um alojamento que oferecia proteção, infraestrutura para alimentação e deslocamento de equipamentos. Com a expedição sete grupos de animais foram inventariados: mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes, crustáceos e plantas.
Planos de Manejo
De acordo com Agenor Gedoz, analista Ambiental do Ibama, todos os dados colhidos durante as expedições serão repassados ao Ibama e vão servir de base para a elaboração dos futuros planos de manejo das Unidades de Conservação do Corredor do Amapá.
Com o Plano de Manejo serão definidos os usos adequados dos recursos naturais existentes na área, que podem ser desde a pesquisa até o ecoturismo. Também está sendo incentivada a participação de toda a comunidade com a formação do Conselho Consultivo da Floresta Nacional do Amapá.
Todo o material coletado nos trabalhos de pesquisa entrarão para a coleção do IEPA, viabilizando assim novas pesquisas no Amapá.
Dando sequência à série de expedições, agora no início de janeiro de 2005 aconteceu a segunda expedição científica ao Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Desta vez a equipe contou também com uma especialista em geoprocessamento e mapeamento, já que todas as informações coletadas ajudarão na elaboração do plano de manejo da unidade. Esta é uma das maiores e mais importantes expedições já realizadas no país, pois percorre justamente a maior unidade de conservação do Brasil, com 3,867 milhões de hectares. A dificuldade de acesso é tamanha que a expedição só foi possível graças a uma parceria entre o Ibama, a FAB e o Comando Militar da Amazônia. A atividade contará ainda com uma cobertura na mídia nacional, o que permitirá aos amapaenses e público em geral tomar conhecimento sobre a diversidade biológica da região, sobre a qual ainda há pouca informação científica.
Todo o material coletado nos trabalhos de pesquisa entrarão para a coleção do IEPA, viabilizando assim novas pesquisas no estado.
Mais informações: www.conservacao.org
summary
The National Tumucumaque Mountain National Park
Fifteen scientific expeditions study the natural riches of the state of Amapá
where 95% of the forests have been preserved
Without expedition, there is no research, without research there is no knowledge and without knowledge there is no preservation. A team made up of seven researchers, 10 field assistants and one geo-processing and mapping specialist, one environmental analyst and four members of the Brazilian Army took part in two expeditions, in a series of 15 scientific expeditions which will take place over two years in the protected areas of the Amapá State Biodiversity Corridor. Overcoming natural barriers, the 22-member team discovered never before seen riches and species never before recorded in the state. The Floresta Nacional do Amapá (National Amapá Forest) belongs to the Amazon Biome, located in the Northern region, over a 412,000-hectare area at an altitude of approximately 100 meters. There are two bases there, which serve as vigilance centers, and the official administration is conducted by IBAMA. The second expedition, just took place in January 2005. Another 13 expeditions are scheduled to be conducted by the year 2006 in the Floresta Nacional do Amapá.
The scientific expeditions in Amapá are led by the International Conservation NGO, with support from the Amapá State government, the Army and the Brazilian Air Force.
Enrico Bernard, a biologist and the coordinator of the International Conservation NGO headed up the expedition. According to Bernard, the greatest of all the challenges was reaching the area established for research, “the course of the rivers is full of huge tree trunks which hinder passage of the boats. Of the six barges (wooden boats up to nine meters in length) available to carry equipment to the campsite, only three arrived on the scheduled date. The other boats, including the one I was on, had to draw up to the riverbanks at nightfall due to the total lack of visibility. We slept wet and without any food, but it was worth the effort.”
The herpetologist (specialist in retiles and amphibians), Jucivaldo Dias Lima, a researcher with the IEPA, identified 25 species of toads, 19 lizards, and that does not include the snakes, which he is analyzing. He has taken part in over six expeditions of this type, but said he was surprised by the number of species, which until then, he only knew from his readings: ” We still have to consult other specialists in the area, but there may be a new species of toad among the collection. It is one of the most colorful ones I have ever seen, and is a very bright blue and has orange spots.”
According to Agenor Gedoz, an IBAMA environmental analyst, all of the data gathered during the expeditions will be passed on to IBAMA and will serve as a basis for preparation of future “Management Plans” of the Unidades de Conservação do Corredor do Amapá .
In keeping with the series of expeditions, the second scientific expedition took place at the beginning of January 2005 in the Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. This time the team also brought along a geo-processing and mapping specialist, since all of the information gathered will help in the management plan of the unit. The Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque is the largest conservation unit in Brazil, covering 3,867 million hectares.