Recado do Cheida

23 de fevereiro de 2005

Nova BioéticaJaycee, órfã de ninguémJaycee, uma criança norte-americana, nasceu na década de 1990, depois que John e Luanne Buzzanca resolveram ter um filho. Para isso, encomendaram em clínica especializada, um óvulo e um espermatozóide. Naturalmente, os doadores e futuros pais biológicos, permaneceram anônimos. Após a fecundação, alugaram por dez mil dólares o útero de uma… Ver artigo

Nova Bioética
Jaycee, órfã de ninguém

Jaycee, uma criança norte-americana, nasceu na década de 1990, depois que John e Luanne Buzzanca resolveram ter um filho. Para isso, encomendaram em clínica especializada, um óvulo e um espermatozóide. Naturalmente, os doadores e futuros pais biológicos, permaneceram anônimos. Após a fecundação, alugaram por dez mil dólares o útero de uma outra mulher, para que a gestação e o parto fossem garantidos. Porém, pouco antes do nascimento de Jaycee, o casal divorciou-se e passou a negar qualquer responsabilidade sobre o futuro bebê.
Com os pais biológicos no anonimato e sem nenhuma vinculação genética com John e Luanne, ou mesmo com a mãe de aluguel, que somente desenvolveu o feto em seu útero, sobrou à Justiça declarar Jaycee um bebê sem pais. Em palavras mais duras: órfã de ninguém!


hiperestimulação ovariana
Na mulher, doses maiores de hormônios amadurecem vários óvulos de uma só vez. Extraídos e selecionados, são fecundados por seletos espermatozóides do marido ou de qualquer outro homem.


shopping genético
Assim, se escolhe à dedo o sexo, cor dos olhos, cor da pele e outros atributos do novo bebê. As opções estão disponíveis na prateleira deste shopping genético.


usados ou descartados
Os embriões destas diferentes fecundações podem ter destinos desiguais: desenvolverem-se no útero desta mulher; transplantarem-se a úteros de aluguel; congelados para o futuro ou utilizados em experiências. Os que sobram, são descartados.


dupla e tripla maternidade
Embriões desenvolvidos no útero de outra mulher, tem dupla maternidade: a mãe biológica e a mãe social. Embriões fecundados em útero alugado e transplantados para mães de aluguel, tem tripla maternidade: a mãe biológica e duas mães sociais (a que cedeu o útero para a fecundação e a que alugou o seu para a gestação).


não adianta chorar
Outros embriões, ainda, podem ser desenvolvidos para servirem como doadores em possíveis bancos de órgãos. Ou como cobaias em experiências. Não adianta chorar, a hiperestimulação ovariana já é realidade.


novos dilemas
Estes avanços reascendem a esperança de uma vida melhor. Por outro lado, criam novos dilemas filosóficos e religiosos que precisam ser respondidos.


ganhando as ruas
Nenhuma prática que envolva o futuro da sociedade pode ficar restrita aos meios científicos e tecnológicos. Muito menos aquelas que, diretamente, dizem respeito à vida. Devem deixar os laboratórios e ganhar as ruas. Só assim, terão o enraizamento de que necessitam para serem legítimas.


uma nova bioética
E, o povo não deve usar a tática do avestruz, enfiando a cabeça no buraco. Pelo contrário, tem que procurar em seus preceitos morais uma nova ética, que contemple estes dilemas biológicos. Ou seja: uma nova bioética. Se forem cometidos erros, eles serão menos numerosos. E, certamente, mais legítimos.


os transgênicos
Tanto quanto estes novos dilemas éticos, estes novos tempos nos surpreendem com as maravilhas da manipulação genética. Os transgênicos já estão entre nós. Esta charada, porém, fica para a próxima coluna.


prudência ou audácia?
Como disse o escritor Vance Packard: “é possível esperar que os cientistas sejam tão prudentes em experimentações humanas quanto têm sido audazes na experimentação com animais?” Sábias palavras…