Pelo Mundo

Navio com madeira da Amazônia é bloqueado em Portugal

19 de abril de 2005

Greenpeace e Quercus não deixam navio carregado de mogno da Amazônia entrar no Porto dos Leixões e desafiam governo português a parar o comércio de madeira ilegal

Ativistas da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) e do Greenpeace bloquearam no final de março a entrada do navio Skyman no Porto de Leixões, em Portugal. Escaladores desceram a ponte em rappel para impedir o descarregamento de madeira de empresas envolvidas com a exploração ilegal e destrutiva na Amazônia. Com a ação, as organizações desafiaram o novo governo português a se comprometer publicamente com o plano de ação da União Européia contra madeira ilegal. Os ativistas também exigiram que Portugal apóie a nova legislação européia para proibir a importação de madeira de origem criminosa, como parte do processo FLEGT – sigla em inglês para Implementação da Legislação Florestal, Governança e Comércio. “É importante comercializar apenas com fornecedores certificados pelo FSC (Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal), que estabelece os melhores padrões e critérios de manejo florestal”, explica Marcelo Marquesini, da campanha da Amazônia do Greenpeace, que esteve no Porto de Leixões participando da ação.
O navio Skyman transportava um carregamento de madeira amazônica no valor de mais de US$ 253.760, incluindo madeira de pelo menos quatro empresas multadas no Brasil por envolvimento com ilegalidades. Uma delas, a Milton Schnorr, foi multada em 2001, 2002 e 2004 por exploração e transporte de madeira ilegal. Em dezembro, o proprietário da empresa foi preso por explorar madeira em terra pública.
“A exploração ilegal e predatória de madeira na Amazônia está relacionada com corrupção, grilagem de terras, violência contra comunidades locais e, em alguns casos, até assassinatos”, disse Marcelo Marquesini. “Portugal pode ser considerado cúmplice nestes crimes, se não tomar nenhuma medida efetiva para controlar o problema”.
A Amazônia possui um dos maiores índices de destruição florestal do mundo. Em 2003, o desmatamento na Amazônia alcançou 23.750 km2, o segundo maior da história do País. O estado do Pará, principal exportador de madeira amazônica para Portugal, é responsável por mais de um terço do total desmatado em toda a Amazônia Legal. Este desmatamento é alimentado por décadas de exploração ilegal e destrutiva de madeira e pela derrubada de floresta para criação de gado e agricultura.
Portugal é o sétimo maior importador mundial de madeira amazônica e um dos grandes compradores de madeira proveniente de outras florestas primárias. O grupo Vicaima é um dos maiores processadores de madeira em Portugal e um dos principais fabricantes de portas da Europa. Os produtos das empresas do grupo são comercializados na Espanha, França, Inglaterra, Alemanha e em outros países europeus. Grande parte da madeira processada vem da empresa Madeiporto, da qual o grupo é proprietário. A Madeiporto compra madeira amazônica importada pela gigante dinamarquesa DLH Nordisk.
“É hora de Portugal assumir sua responsabilidade e não fechar os olhos para atividades ilegais que ocorrem em países produtores de madeira”, disse Domingos Patacho, da Quercus. “Nós desafiamos publicamente o novo governo português a mostrar comprometimento com a questão ambiental apoiando a nova legislação da União Européia contra o comércio de madeira ilegal”.


A Amazônia possui um dos maiores índices de destruição florestal do mundo. Em 2003, o desmatamento na Amazônia alcançou
23.750 km2, o segundo maior da história do País.


Glossário


FSC – O FSC é o único sistema de certificação independente que adota padrões ambientais internacionalmente aceitos, incorpora de maneira equilibrada os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos e tem um selo amplamente reconhecido no mundo todo. O FSC oferece a melhor garantia disponível de que a atividade madeireira ocorre de maneira legal e não acarreta a destruição das florestas primárias como a Amazônia.