Água da chuva entra pelo cano
19 de abril de 2005Prefeitura obriga a construção de reservatórios de águas pluviais em edifícios para evitar enchentes e conter desperdício
Hoje, a cidade do Rio de Janeiro possui um milhão de edificações onde as construções de condomínios, indústrias ou estabelecimentos comerciais não estão planejadas com este tipo de reservatório. Esses dados são da divisão do Imposto Predial Territorial Urbano-IPTU do município tendo o ano base de 2000. O arquiteto Cláudio Costa, assessor do secretário Municipal de Urbanismo Alfredo Sirkis e redator do decreto 23.940, acredita que o sucesso da iniciativa dependerá de campanhas de divulgação ao longo do ano. “É importante a população ser bem informada, saber que cuidados deve tomar para fazer corretamente os dois modos, reúso ou apenas a retenção da água de chuva para evitar enchentes na cidade”, explica o arquiteto. Cláudio Costa alerta que antes que um condomínio deseje implantar os reservatórios no telhado, é indispensável promover um estudo dos índices pluviométricos da região, da capacidade de captação do telhado e do tamanho ideal da cisterna de armazenamento. “Estas condições deverão ser avaliadas tanto para as edificações já construídas como as indicadas nos futuros projetos antes da emissão do “habite-se” da Prefeitura, alerta Claúdio Costa.
A Vigilância Sanitária do Rio já está a par destas normas técnicas tanto para “novas como antigas edificações residenciais, industriais, comerciais ou mistas, sempre que houver a intenção do reúso das águas pluviais para fins não potáveis, mesmo quando destinadas a jardinagem, válvulas de descarga, lavagem de veículos ou de áreas externas”, explica o diretor da Divisão de Engenharia Sanitária, Antonio Carlos Albuquerque. “A água de chuva retida para reúso deverá ser identificada por torneiras de um 1m80cm para evitar o manuseio por crianças nos condomínios, com etiquetas específicas e desinfectadas com cloro ou qualquer produto semelhante”, esclarece Albuquerque. “Agora, se for para evitar enchentes, basta reter e depois dispensar sem tratamento algum pela própria tubulação”, finaliza o diretor da Agência Sanitária.
Pergunte ao Síndico
A obrigatoriedade da construção de cisternas de captação de águas de chuva e ainda outras maneiras de economizar água nos condomínios residenciais ou comerciais mexeu com a cabeça dos síndicos. O consumo de água nos condomínios representa o segundo maior gasto condominial, ficando atrás somente do pagamento de funcionários, de acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Administradores de Imóveis (ABADI) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. Nos condomínios da cidade do Rio de Janeiro a despesa com água chega a representar 13,6% do total de gastos. “Aprovamos. Alguns zeladores insistem em lavar a calçada com mangueira e não é raro encontrar condomínios que achem natural lavar o carro com água potável. Com esta medida, esperamos resolver dois problemas de uma vez só: preservar esse bem cada vez mais raro e diminuir o valor da cota condominial”, afirma George Eduardo Masset, presidente da ABADI que promoveu o debate “Agora até a água da chuva vai entrar pelo cano”, para divulgar e explicar o decreto aos síndicos.
O arquiteto e empresário Márcio Schneider é favorável ao reúso da água de chuva captada para fins não potáveis. Schneider aplica a tecnologia do uso racional da água de chuva em projetos de grande porte. Atualmente, adapta reservatórios para a captação da água de chuva para a Petrobrás, no Espírito Santo, na Cidade do Samba [o que é a cidade do samba] e em condomínios urbanos do Rio. “70% da água que consumimos é para fins não potáveis. Precisamos de água potável para dar descarga em vaso sanitário? Não. Precisamos de uma água boa que não gere patologias”, defende o arquiteto Marcio Schneider.